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domingo, 17 de abril de 2011

A história do cangaço é revivida hoje, em Limoeiro do Norte,

após 80 anos da passagem do bando pelo município

Reprodução
 
Bando de Lampião em Limoeiro do Norte em 1927

           Limoeiro do Norte. Poucos acontecimentos de apenas algumas horas perpetuam na história do Ceará, como a passagem de Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, por Limoeiro do Norte, há exatamente 80 anos. O cabra foi posto para correr de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde até hoje festejam a resistência ao cangaceiro. Depois de receber a “chuva de balas” dos potiguares, aceitou os cumprimentos “tensos” dos limoeirenses, no dia 15 de junho de 1927. O rebuliço foi consolado pela “visita em paz” do rei do cangaço nas terras de seu Padim Ciço. Nunca mais Limoeiro foi o mesmo.
          “Prefeito de Limoeiro, Urgente. Lampião acaba atacar Mossoró. Depois forte resistência conseguimos rechaçá-los, ficando um morto outro prisioneiro. Saudação. Rodolfo Fernandes, Prefeito Municipal”. O recado do prefeito de Mossoró chegou em telegrama às mãos de Custódio Saraiva, Juiz de Paz em Limoeiro e responsável por defender o município, dada à ausência do prefeito. Naquela hora seu Custódio almoçava, não comeu mais. Telegrafou para a Secretaria de Polícia, em Fortaleza, que devolveu a batata quente para que “agisse como pudesse”. A cidade foi evacuada imediatamente.
 
 
Prefeito de Mossoró -Rodolfo Fernandes
 
             Como era de seu feitio, Lampião entrou no Ceará guiando os fios do telégrafo. O “cabra” cavalgou com seus quarenta e tantos homens (o número é incerto) pela Estrada da Solidão, na Chapada do Apodi. Anísio Batista, morador da Lagoa do Rocha, teria sido o primeiro a ver Lampião e, inclusive, anunciado sua chegada. “Então disse Lampião/ vá até Limoeiro/ pergunte às autoridades/ se recebe um forasteiro/ desprovido de maldades/ como um nobre cavalheiro”, poetizou Irajá Pinheiro, memorialista local e também membro da Academia Limoeirense de Letras, sobre o encontro inusitado.

 
Lampião
 
             Lampião fugiu de Mossoró carregando dois reféns: Dona Maria José do Catolé do Rocha e o Coronel Gurgel, sogro do gerente do Banco do Brasil potiguar.

 
Coronel Antonio Gurgel do Amaral

            O cangaceiro queria, telegrafando de Limoeiro, cobrar de Mossoró 80 contos de réis como pagamento do resgate dos reféns. “Passei o telegrama para Mossoró, em caráter de urgência, e dentro de poucas horas obtive a resposta: ‘prefeito de Limoeiro, urgente. Seguiu portador, montado a cavalo, conduzindo numerário resgate prisioneiros’”. A informação é do próprio Custódio Saraiva, juiz de Paz, em entrevista ao boletim “Campus”, da Universidade Estadual de Londrina, em 1979, 52 anos depois da visita “ilustre”.

 Melquíades Júnior
 
Yolanda Castro, geógrafa de Limoeiro, fala com entusiasmo sobre a passagem de Virgulino Melquíades Júnior

            O bando de cangaceiros famintos foi “presenteado” com jantar no Hotel Lucas, no Largo da Igreja Matriz. A Prefeitura mandou matar um boi e sinhá Arcanja, escrava de Custódio, ficou de servir a tropa. Lampião, que não era besta nem nada, mandou gente da cidade provar da comida, pois poderia estar envenenada.  
 
 
Napoleão Bonaparte
 
            Até pensaram em colocar algum negócio no “vinho”, mas desistiram, que bandido é cabra esperto. Lampião, então, admirador que era de Napoleão Bonaparte, era “gato escaldado”. 
 
Lenços vermelhos

            Dizendo estar em paz, já que em terra de Padre Cícero mal algum ele faria, Lampião passeou pela pequena cidade, e, na bodega de Getúlio Chaves, até comprou lenços vermelhos, à época adornavam a indumentária cangaceira. O bandido também levou uma ruma de perfume Quinta-Feira – tinha esse nome por fazer parte da tradição casamenteira e os matrimônios aconteciam nesse dia especial da semana.
 
Melquíades Júnior
 
Angirlene Lima, do curso de História da Fafidam, faz monografia sobre Lampião e seu bando - Melquíades Júnior
 
               Conta dona Lirete Saraiva, filha viva de seu Custódio, que seu pai “foi um homem forte, de encarar Lampião sem arma nem nada, defendendo a cidade”. De outro modo, o jornal “O Ceará”, de Fortaleza, reclamava “humilhação” porque passou Limoeiro por não enfrentar Lampião, enquanto Mossoró havia botado o homem pra correr sob balas.
 
Soar das Cornetas
           
             Lampião era destemido e temido, mas o certo é que estava cercado pelos cearenses. Do telefone do Telégrafo, do qual se “apossou” para mandar seus avisos, ouviu o soar da corneta em Russas. Era a Polícia que já estava pronta para ir para Limoeiro. Não podendo mais esperar a chegada dos 80 contos de réis de resgate dos reféns, os cangaceiros fugiram pela banda dos Morros, onde havia umas pedras identificadas como “Gruta de Lampião”.
 
 Vídeo da "Gruta de Lampião"

 
 Vídeo extraído do Blog Limoeiro do Norte
 
             No município de Palhano, abandonaram os dois reféns, quando do embate contra os volantes da Paraíba e Rio Grande do Norte. Em seguida, Lampião deixava a região jaguaribana rumo ao Cariri de seu Padim Ciço, dado como o “salvador” do povo de Limoeiro. 

Melquíades Júnior
Colecionador
 
Blog: Regional - Diário do Nordeste e Blog Limoeiro do Norte 


Um comentário:

  1. Anônimo21:46:00

    Olá amigo Mendes, como vemos na postagem acima, Lampião era muito esperto para sua época, não tinha lido sobre essa passagem do bando por Limoeiro do Norte.

    Amigo, não consigo enviar mensagem para seu email?

    Resposta do comentário da postagem anterior no meu blog feita por você:

    Tranquílo amigo.

    Quando eu viajar para Mossoró e tiver um tempinho, com certeza irei fazer outra visita ao Museu Histórico Lauro da Escócia para tirá algumas dúvidas, muito obrigado pelo retorno, e não se preoculpe pela demora, além de aprofundarmos sobre essa maravilhosa saga que é o Cangaço, todos nós temos outros compromissos, trabalho, estudo, famlía... Mas o importante é que somos correspondidos.

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