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sábado, 14 de junho de 2014

Padre Cícero Romão Batista (Crato, 1844 - Juazeiro do Norte, 1934)


A religiosidade praticada em torno do padre Cícero representava “aceitação” das regras políticas e sociais da República

Cícero Romão Batista* é cearense, o líder religioso do povo sertanejo oprimido pelo latifúndio, pelo Estado e por uma Igreja distante e ausente. Nasceu no Crato, em 1844 e faleceu em Juazeiro do Norte em 1934, aos 90 anos de idade. O “padroeiro do Nordeste”, pessoa influente na região, foi o  fundador de Juazeiro do Norte, em 1872. Além de orações e bençãos, “padim” aconselhava seus “afilhados” sobre atividades econômicas, doenças, questões familiares, desavenças, e sugeria nomes de candidatos para as eleições.  Participante ativo da política, envolveu-se nas disputas que envolviam mortes entre as oligarquias das famílias dos “coronéis” do sertão nordestino. Ligado aos “coronéis”, aos jagunços e aos cangaceiros.   Foi prefeito, deputado federal, e vice-governador. “Padim”, é lider, mediador, curador, aconselhador, padrinho e santo.

Ainda jovem, aos 28 anos, foi suspenso pelo Vaticano do cargo de vigário de Juazeiro, mas, construiu uma igreja em torno da qual se formou uma comunidade. Sua liderança foi ainda mais misturada ao intenso misticismo e fanatismo do seu povo, que padecia fome e sede no sertão do Ceará. No início do Século XX surgem bandos com o intuito de vingar injustiças e mortes de suas famílias. Para combater esse novo fenômeno social, o Poder Público cria as "volantes". Nestas forças policiais, os seus integrantes se disfarçavam de cangaceiros, tentando descobrir os seus esconderijos. Logo, ficava bem difícil saber ao certo quem era quem. Do ponto de vista dos cangaceiros, eles eram, simplesmente, os "macacos". E tais "macacos" atuavam com mais ferocidade do que os próprios cangaceiros, criando um clima de grande violência em todo o sertão nordestino. Nesse contexto, surge a figura do Padre Cícero Romão Batista, apelidado pelos fanáticos até hoje, de “Santo de Juazeiro”, que nele vêem o poder de realizar milagres. Endeusado nas zonas rurais nordestinas, o Padre Cícero conciliava interesses antagônicos e amortecia os conflitos entre as classes sociais. Em meio a crendices e superstições, os milagres (muitas vezes, resumidos a simples conselhos de higiene ou procedimentos diante da subnutrição) atraem grandes romarias para Juazeiro, ainda mais porque os seus conselhos erão gratuitos. O Santo de Juazeiro, contudo, a despeito de ser um bom conciliador e uma figura querida entre os cangaceiros, utilizava a sua influência religiosa para agir em favor dos "coronéis", desculpando-os pelas violências e injustiças cometidas. Teve como ferrenho inimigo o bispo Dom Joaquim, que o delatou a Roma, o que veio a causar o impedimento de padre Cícero ministrar os sacramentos, realizar missas, batizados e casamentos, e, até hoje ainda não estar reabilitado perante o clero romano. Padre Cícero encontrava soluções para tudo: Segundo referem alguns velhos que ouviram de seus ascendentes, a festa de Nossa Senhora das Candeias em Juazeiro se deve ao fato de um seu afilhado ir queixar-se de estar passando fome porque não estava vendendo nada na sua sucata, então o padre Cícero mandou que ele começasse a fabricar lamparinas de latas, o homem obedeceu e no domingo, na hora da missa o padim anunciou que doravante haveria uma procissão de Nossa Senhora das Luzes e que todos levassem não velas, mas lamparinas, então, todos passaram a se apegar a Nossa Senhora das Candeias. O sucateiro não dava vencimento e trabalhava: Abria as latas durante a noite e pela manhãzinha ia soldar, fato que lhe trouxe algumas reclamações “de incomodar o sono dos vizinhos”, mas que também foi resolvido pelo padim. Mas não foi só isso. Com o aviso da procissão toda a cidade (que andava meio parada), se mobilizou: chegavam e partiam caminhões para abastecer com o querosene e os caminhoneiros levavam a notícia, chegavam os caminhões pau-de-arara com romeiros, abriram-se mercadinhos, restaurantes, hospedarias, o povo apanhava latinhas nas ruas, as sucatas compravam e vendiam, os artesãos fabricavam terços, as gráficas catecismos e santinhos, os mascates se misturavam às multidões de romeiros de todos os lugares... A um ato do padim Ciço Juazeiro prosperava... Hoje a cidade de Juazeiro do Norte, do Ceará, é local de peregrinação e túmulo do padre Cícero. É centro comercial, centro de artesanato e centro turístico, para lá afluem durante todo o ano peregrinos para pagarem promessa de curas e milagres do "padim", visitarem a sua casa onde tem estátuas dele e seu cotidiano, comprarem fitas bentas e santinhos, assistirem missas, principalmente a missa do chapéu em que a multidão agita chapéus de palha de carnaúba, (contam que o corpo de padre Cícero foi exposto por um momento, aos fiéis na janela de sua casa, e, um de seus afilhados - como eram todos - rapidamente subiu atá a janela, tirou o chapéu e tapou o sol do rosto do "padim" impedindo que o sol lhe incomodasse) e subirem até o monte do horto onde está a sua 

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