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domingo, 18 de setembro de 2016

GENTE DAS RUAS DE POMBAL DONA MALOURA. (NA FOTO DE 1936, ELA É A DE NÚMERO 5) ARQUIVO DE VERNECK ABRANTES DE SOUSA)

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

Não sei bem a data de nascimento e da sua morte, o que não impede que eu faça uma homenagem a Maloura, o que vai ser completado, tantos pelos parentes como Socorrinha e João Maria de Cabine, que eram seus sobrinhos, como pelos que a conheceram na rua de baixo da Pombal da década de 1960.


Maloura era enfermeira e parteira. Morava na Rua de Baixo e era nossa vizinha do lado esquerdo. Defronte a casa de Maloura tinha um terreno baldio, onde se armavam os circos e também jogávamos futebol. A trave do lado oeste ficava exata na porta da sua casa. Era comum, e não havia como evitar, as boladas nas suas paredes e portas. Mas, por incrível que possa parecer, isso nunca irritou Maloura, já que pelo menos três dos jogadores eram seus sobrinhos (Zé Willame, Boró e João Maria). Mas, o que a deixava irritada mesmo era mexer com as plantas do seu jardim e, em particular, nos pés de pimentas. E nós crianças sabíamos disso.


Como parteira ela foi a responsável por trazer ao mundo todos os moleques da Rua de Baixo, (lá em casa foram sete que vieram através da sua assistência). As parturientes só chamavam Maloura quando faltavam poucos minutos para o bebê nascer. Isso por conta da sua pouca paciência. Ela já chegava reclamando, tipo: “mais um moleque pra passar fome nesse mundo...”, “... as mulheres da Rua de Baixo parecem às jumentas de Godô pra dar cria...”, ”... Se pelo menos soubessem criar como sabem fazer...”. ou “ espero dá tempo eu chegar em casa, antes de voltar para o próximo”. Isso tudo era enquanto fazia o parto.

Maloura era chamada carinhosamente pelos meninos da Rua de Baixo por “mãe Maloura”, e muitos até lhes tomavam a benção.

Eu até fiz isso uma vez:

- Bênção, mãe Maloura!

- Nem sou sua mãe e nem tampouco gosto dela. Foi a resposta.

De fato, mesmo sendo a parteira oficial lá de casa, como já falei, as duas não se davam bem e a culpa era nossa: nada era melhor do que “aperrear” Maloura, fosse mexendo nos seus pés de pimentas, de Capim Santo ou batendo a sua porta, e sem seguida correr para se esconder nas esquinas.

Não nos julguem: éramos crianças nas ruas de Pombal da década de 1960, e por estas presepadas éramos repreendidos por nossos pais.

Lembro-me da vez, na minha inocência de seis ou sete anos de idade, mandaram que eu fizesse uma brincadeira como Maloura. Bati a sua porta de lá e...

Eu:

- Maloura, na rua tem tanto.

Ela:

- o que, menino?

Eu:

- pinico sem tampa.

Por isso não fui perdoado em casa.

Fica assim a minha lembrança à memória de “mãe” Maloura: enfermeira, parteira e benfeitora da Rua de Baixo.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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