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quinta-feira, 29 de março de 2018

A MAIOR FESTA DE AGOSTO DO ACARY DE TODOS OS TEMPOS: PARTE SOCIAL DA FESTA DE 1867.


Por Cicero José de Araujo Silva (Historiador)

Os festejos naquele ano de 1867, que atraíram pessoas de todo Seridó e de zonas vizinhas marcaram época. Foi tão grande a afluência de visitantes que se construíram centenas de ranchos, de folhas e palhas, para abrigá-los. O aluguel de cada unidade chegou a aproximadamente R$ 200,00 em valores atualizados. Estiveram presentes mais de oito mil pessoas. 

Era vigário o padre Tomás Pereira de Araújo. Compareceram mais de 18 padres de diferentes freguesias inclusive o Vigário de Natal, Padre Bartolomeu da Rocha Fagundes. 

À noite, as festividades religiosas, eram encerradas com morteiros, foguetes balões e fogos de artifício. O clarão e a beleza da explosão dos fogos, deixavam os acarienses boquiabertos, a girândola pós-novena era um espetáculo a parte e prendia a atenção de todos presentes.

Terminadas as visitas obrigatórias das famílias de destaque social, com ceias largas e conversas animadas, principiavam as diversões populares.

De um lado, os jovens saiam em algazarra para suas serenatas com violões, ou para suas brincadeiras espalhafatosas. Uma destas consistia em amarrar na cauda de um cachorro, retirado cuidadosamente na casa do seu dono, um Buscapé barulhento, acendê-lo, e soltar o animal que passava a correr por entre as casinhas improvisadas: a graça vinha do alvoroço das pessoas em apagar os inúmeros pequenos incêndios que o cachorro ia causando. Um dos dirigentes deste tipo de brincadeira era José Bezerra, do Ingá, então com 23 anos.

No inicio da noite já se esperavam pela corrida incendiária dos cachorros. Porém Joaquim Matias, nervoso e precavido, dono de uma cachorra de estimação, não estava pelos autos. Foi pedir discretamente a tia Aninha, do Ingá, (Ana Marcolina) senhora do maior respeito, que guardasse em seu quintal de muro alto a cachorra de seus cuidados. E ele conseguiu as palavras de segurança.

Mais tarde, quando no meio da agitação e dos gritos da turba, corria a chispa de fogo entre os ranchos, Joaquim Matias, saiu ao terreiro e de sorriso no rosto e peito estufado, gabou-se: Garanto que minha cachorra não é! Mas era! A pobre cachorra havia sido retirada da casa de Tia Aninha pelos seus sobrinhos José Bezerra e Tomaz Pires que desfrutavam da maior liberdade e eram os promotores das estripulias. 

Joaquim Gomes, da sociedade local, mas bastante desenxabido andava desejoso de impressionar bem a moça dos seus sonhos. Como conseguir? os sobrinhos de João Damasceno convenceram o sempre sem-graça a sair vestido de anjo numa das alvorada da festa. Então, mandaram a Fazenda Bulhão buscar um cavalo formoso e ruço. Nele, ao quebrar da barra, montaram o Joaquim fagueiro, confiante, de camisolão de seda branca e longas asas de cetim armado. 5 horas!! Tocou o sino da igreja, a banda de música disfarçada, rebentou num dobrado, e das girandolas subiram foguetões chiando forte.
 
Os planos de Joaquim foram por água abaixo nesse momento! O cavalo endoideceu e saiu em disparada, desembestado na direção de seus pastos. Joaquim logo perdeu as asas e agarrou-se aqui e ali como pode. Não obstante foi, encontrado mais tarde nos galhos do mufumbal do Riacho da Juliana, riacho que hoje corre por baixo do pontilhão que vai para o Alto da Usina.

Nas casas mais simples, distantes do centro organizavam-se bailes (que se chamavam os sambas) cujas danças principais eram variações da Polka e da Scottish, com músicas de violas, flautas e pífanos. As mesas de jogos na rua, iluminadas escassamente pelas candeias de azeite de carrapato, atraiam, muitas pessoas desejosas de diversão. O que mais se bebia era aluá de milho acompanhado de sequilho de goma de mandioca de doce seco. 

Essa festa de agosto foi certamente a maior até os dias atuais, e através dos documentos históricos podermos ir para além da parte religiosa e visualizar o que acontecia na parte social de uma festa no velho Acary dos anos 1800.

Villa do Acary, Agosto de 1867

Fontes: Diário de Natal, edição 10388, ano 1957. 
O Assuense, edição 00165, ano 1867

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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