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segunda-feira, 13 de julho de 2020

VIAGEM A MACEIÓ

Clerisvaldo B, Chagas, 13 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.343

(HOMENAGEM AO ESCRITOR FLORO DE ARAÚJO MELO)
Caro leitor, calcule quando foi o acontecimento da narrativa abaixo, do conterrâneo Floro (In memoriam) na íntegra.
A viagem foi extremamente cansativa. Fomos de caminhão até Palmeira dos Índios, ponto terminal da estrada de ferro. Não havia asfalto, a poeira era sufocante, levamos quase um dia inteiro ao sabor de buracos e depressões medonhas do terreno. Ao atingir o destino, ninguém tinha forças para embarcar. Tivemos que pernoitar no hotel, ou melhor, numa estalagem sem conforto e sem muita higiene.

Máquina do trem de Palmeira dos Índios no Museu Xucurus. (Foto: Livro:
"Repensando a Geografia de Alagoas/B. Chagas)

O trem partia de madrugada. Saímos do “hotel” sonolentos e com muito cuidado, devido aos buracos das ruas e à má iluminação da cidade. Eu, entretanto, exultava: garoto do sertão, tudo para mim era novidade e descoberta. Imagine o leitor que jamais ouvira um apito de trem! Com grande estardalhaço, a máquina partiu, levamos horas intermináveis sentados naqueles duros bancos de madeira, ouvindo os ruídos ritmados das rodas em contacto com os trilhos desgastados pelo tempo de uso. Para quebrar a monotonia, eu olhava pela janela e divisava a paisagem que ia ficando para trás, as serras, as casas das cidades por onde o trem passava, as paradas ao longo da estrada e, nessas, uma imagem triste que me ficou para sempre na memória: crianças sujas e maltrapilhas que pediam moedas ou vendiam banana, manga, jaca, etc.,  tudo num vozerio que mais parecia uma dolorosa e sofrida ladainha. Ah, meu Nordeste querido, quando tais cenas deixarão de acontecer em seu seio?!   Minha avó, já conhecedora da melancólica procissão, nem sequer abria a janela, sempre a segurar-me pelo braço. Felizmente, a demora era pequena, o trem apitava estridente altivo e se punha em marcha.
(...Finalmente Maceió...)

MELO, Floro de Araújo. Vim Para Ficar. Borsoi, Rio de janeiro, 1981. Págs 29-30.
Nota: a “minha avó” a que o autor se refere, foi a primeira professora de Santana do Ipanema, Maria Joaquina.


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