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sábado, 24 de novembro de 2012

Mais uma história de Luiz Gonzaga, o rei do Baião



Seu Reginaldo Silva, 59, trabalhou produzindo os shows do Mestre Lua durante 12 anos, entre 1977 e 1989, quando Luiz Gonzaga faleceu. Mora em Juazeiro do Norte e hoje dirige a Fundação Vovô Januário, criada para ajudar as crianças pobres de Exu.

Os patos

Fomos fazer um show em Jardim (CE), em 1984, 1985, por aí. Era um show filantrópico, uma parceira com a igreja do padre Adauto, Vigário da cidade. O dinheiro ia ser dividido metade para a gente e metade para as crianças do orfanato. Ele tinha ido com uma caminhoneta e apareceu carregado de rapadura, que ia levar para os meninos de Exu. Na hora de se apresentar, ele chegou por trás de mim, cochichou do meu ouvido: 

“Tem pouca gente, né? Não receba nada do padre não”.

E fez o show, artista de grande valor como era ele. Os artistas da mídia nem fazem shows desses tipo. Nem vão nas cidades pequenas, com o sentido de ajudar um orfanato. No dia seguinte, o padre achava que ele ainda estava na cidade e chamou para tomar café da manhã, mas Seu Luiz já tinha ido embora.

- Não, ele não foi embora. A carrada de rapadura ainda está aqui. Mais tarde vem buscar.

- A rapadura é sua, padre, para o senhor dar para os seus meninos. Também disse para fazer o mesmo com o dinheiro.

- Não é possível! Mas, e você?

- Não, obrigado. Eu não como dinheiro não.

- E os músicos?

- Se ele não aceitou, os músicos também não vão aceitar não… Então, para eu não sair daqui sem nada, me dê esse casal de patos.

Aí deixei os patos na fazenda de Seu Luiz, para se criarem. Quando eu lembrei dos patos e fui lá pegar, ele já tinha comido os bichos.

- Mas Seu Luiz, eram os meus patos…

- Mas o açude é meu. - dizia ele.

- Mas não tava acertado que a gente ia criar os patos na meia [dividindo pela metade]?

- Meia eu não vi não. Só comi os patos - ele me disse.


http://iurirubim.blog.terra.com.br

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