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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Cangaceira Durvinha.- Um pouco de sua história.

Por: João de Sousa Lima

Um ano depois da emboscada policial em Angicos (SE), em 1938, que resultou na morte de Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros, um bebê com 30 dias foi entregue ao padre Frederico Araújo, de Tacaratu, no sertão de Pernambuco, a cerca de 450 quilômetros a oeste de Recife. Um bilhete anônimo, ilustrado com garranchos que imitavam letras, identificava os avós e a mãe, Durvalina Gomes de Sá. Durvalina era Durvinha, cangaceira do bando de Lampião. Com a morte do chefe, caíra na clandestinidade. Fugia da polícia rompendo a caatinga, ora na Bahia, ora em Pernambuco, sempre ao lado do companheiro, Antonio Inácio da Silva, o cangaceiro Moreno.

Durvinha e João de Sousa Lima, na residencia da cangaceira em Belo Horizonte.

O menino - primeiro dos seis filhos do casal - foi registrado como Inácio Carvalho Oliveira, sobrenome da família que o adotou quando estava com 6 anos, após a morte do padre. Adulto, Inácio mudou-se para o Rio. Entrou para a Polícia Militar.

Durvinha lançando com o autor sua biografia.

Tornou-se segundo tenente. Em 2005, com 66 anos de idade e já reformado, soube enfim que os pais estavam vivos e formavam o último casal sobrevivente do cangaço. Moravam em Belo Horizonte e se chamavam Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto, nomes registrados em carteiras de identidade e com os quais buscaram afastar os fantasmas do passado.

Almoço na casa da cangaceira com os filhos Murilo e Nely

Toda esses fatos foram contados ontem por parte dos protagonistas, no encerramento do 1º Congresso Nacional do Cangaço: Cultura e Memória, realizado no Museu da República, mais um prédio futurista projetado por Oscar Niemeyer na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Em Brasilia participando do 1° encontro do cangaço do Brasil

Durvinha, de 92 anos, estava lá, para narrar seus feitos; Moreno, de 96 anos, sofreu uma queda pela manhã e teve de ser levado para o Hospital de Base. "Me sinto tão culpada. Ele caiu porque foi pegar um sapato meu. Nós dois já não enxergamos quase nada." A informação do hospital é de que Moreno está bem e deve ser liberado hoje.

Durvinha sendo entrevistada por João e Kydelmir Dantas em Brasileira-DF

O crachá da cangaceira registrava o nome da identidade, Jovina Maria da Conceição. Inácio, porém, não a chama assim. Para ele, é Durvalina ou Durvinha. Do pai, nem conseguiu se lembrar o nome todo na identidade. "Acho que é José Antonio, e tem um sobrenome aí que não sei. Para mim, ele é o Antonio Inácio da Silva ou o Moreno." Inácio disse ter por hábito visitar Tacaratu quase todo ano.

FUGA

Durvinha nasceu em 1915 no povoado de Arrasta-pé, em Curral dos Bois, hoje Paulo Afonso (BA). Ainda mocinha abandonou a casa dos pais para correr atrás do cangaceiro Virgínio, cunhado de Lampião. Não sabe quantos anos tinha. "Não havia registro. Era tudo na bruta. A gente se juntou. Não chegamos a ir ao padre". Disse que teve dois filhos com Virgínio, dos quais nunca mais teve notícias depois dos tempos do cangaço.

Mensagem de João de Sousa Lima na morte da amiga Durvinha.

Virgínio foi morto em 1936. "No bando não podia haver viúvas. Pelas leis lá, ou elas se casavam com outro cangaceiro ou eram mortas. Moreno se propôs a ficar comigo", disse Durvinha. Com ele teve outros seis filhos: Inácio, que só conheceu há dois anos, e outros cinco, todos morando em Belo Horizonte. Durante as fugas pela caatinga, o jeito era pegar um pedaço de rapadura aqui, um punhado de farinha ali, driblar a fome e a polícia. "Morria de medo de ser degolada, como Lampião."

Em Fortaleza o recontro do casal Moreno e Durvinha com a amiga Aristeia.

No filme Baile perfumado (1996), direção de Paulo Caldas e Lírio Ferreira, aparecem imagens do bando de Lampião feitas entre 1935 e 1936 pelo libanês Benjamin Abrahão. Numa delas, Durvinha dança com Moreno, embora estivesse na companhia de Virgínio. Noutra, avança sobre a câmera com o revólver na mão. Durante os combates, ela levou um tiro na coxa esquerda. "A carne rasgou de fora a fora. Os cangaceiros me salvaram jogando um litro de pimenta." Durvinha disse que só teve uma razão para aderir ao cangaço: a paixão por Virgínio.

Lançamento da biografia em Belo Horizonte

João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. Telefones para contato: 75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br joao.sousalima@bol.com.br

http://www.joaodesousalima.com/2013/04/cangaceira-durvinha-um-pouco-de-sua.html 

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