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domingo, 30 de junho de 2013

Dona Fideralina, a Matriarca de Lavras da Mangabeira

Dona Fideralina Augusto Lima

Num universo dominado pelo patriarcalismo, há que se ressaltar a figura de Fideralina Augusto Lima, nascida em Lavras da Mangabeira no ano de 1832, filha de um poderoso latifundiário e chefe político local. Com a morte do pai, dona Fideralina deu continuidade a sua atividade político-partidária. De atitudes enérgicas tornou-se figura expressiva entre o coronelismo da região.

Dona Fideralina casara-se muito jovem, aos 15 anos, com um filho de Raimundo Duarte Bezerra (Papai Raimundo, fundador de Várzea Alegre). E enviuvara aos 44, sendo mãe de doze filhos.
 
O poder herdado do pai, e mais tarde do marido, foi habilmente mantido. Fideralina conseguia sempre estar bem com os governos: de monarquista converteu-se em republicana, contanto que dominasse a região de Lavras da Mangabeira. 

Nunca quis cargo político mas os ocupava com os familiares e amigos próximos. Os mais próximos chamavam-na de Dindinha, os mais distantes chamavam-na de Fidera do Tatu.

Casa do Sitio do Tatu, onde viveu Fideralina  - (imagem: http://blogdosanharol.blogspot.com.br)

O apelido devia-se ao fato de, apesar de ser proprietária de vastas terras, vivia no sitio do Tatu, próximo à cidade. Ali mantinha engenho, casa de farinha e bolandeira de beneficiar algodão. Era também proprietária de muitos escravos, onde se destacava um grupo de negras que eram usadas  como parideiras de moleques, que após algum tempo eram vendidas. Fideralina impunha respeito, e despertava medo e curiosidade das pessoas.

Foto do final dos anos 1930/início da década de 1940. Antiga Rua da Praia, depois Rua Santos Dumont e hoje Wilson Sá. Ao fundo a Rua da Beira do Rio, destruída pela enchente de 1947. (imagem: http://lavrasdamangabeirace.blogspot.com.br)

Entre os negros do sitio do Tatu, quatro deles, dos mais fortes, deviam estar sempre prontos para carregar a liteira de Dona Fideralina, nas suas idas à cidade. Corpulenta, medidas avantajadas, quadris largos, rosto cheio, Fideralina era baixa e gorda, sisuda, falava alto, cheirava rapé e bebia zinebra. Tempos depois trocou a liteira pelo cabriolé – uma espécie de charrete – e, depois de velha, estranhamente, começou a andar a cavalo, inspirando uma crônica do juiz Álvaro Dias Martins, assustado com a vitalidade da velha cavaleira.

 Estação ferroviária de Iguatu, em 1957 (foto do site estações ferroviárias)

Temida pelo povo, não era só medo que ela despertava nas pessoas. Quando viajava de Lavras para Iguatu, onde tomava o trem para Fortaleza, e se hospedava na casa do chefe político da cidade, despertava imensa curiosidade. O povo ia à casa do coronel para vê-la, corria às calçadas a fim de lhe assistir a passagem e, na hora do embarque, uma multidão se comprimia na plataforma da estação ferroviária para ver aquela mulher perigosa, valente, cheia de coragem, que mandava matar os inimigos.

Igreja Matriz de Lavras da Mangabeira (foto: O globo)

Essas viagens faziam parte de seu relacionamento com o Presidente da Província. Mas Fideralina abusava às vezes dessas boas relações. Chegou a exigir em carta ao Presidente que nomeasse um amigo analfabeto para o posto de professor de grego do Liceu de Fortaleza. Provavelmente era ela mesma quem escrevia as próprias cartas. Tinha uma bela letra e assinava Federalina, com a letra E no lugar do I, como era conhecida.

Graças a seu poder político e econômico, Dona Fideralina podia manter certos hábitos interditos à mulher. Falava o que lhe viesse a cabeça, dizia palavrões em qualquer oportunidade, alteava a voz com os homens. Tinha um grupo de "cabras" capazes das maiores crueldades para proteger a propriedade e garantir a família. Ela própria andava sempre com um bacamarte ao alcance da mão.

Rezava o rosário diariamente em companhia da família e das escravas – o folclórico dizia que o rosário era confeccionado de orelhas dos inimigos. 

Localização de Lavras da Mangabeira, no mapa do Ceará

Fideralina faleceu em 1919, o que não encerrou o domínio da família Augusto. Apenas na década de 70, pela primeira vez, os Augustos não conseguiram eleger o prefeito de Lavras. 

Pesquisa:
História do Ceará, de Airton de Farias
site estações ferroviárias 
Jornal Diário do Nordeste

Tv Assembleia do Ceará

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