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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

De Virgulino a Lampião - Sama Multimídia - Parte I


“Mas o destino impiedoso/ Foi cruel para comigo/ E a sorte caprichosa/ Me impôs este castigo/ Quando eu não esperava Nem em tal coisa pensava, Tinha terrível inimigo!”
Lampião

Pelo ano de 1894 apareceu na ribeira do Pajeú, em Pernambuco, à procura de trabalho, um rapaz de cor branca e bem apresentável. A sua idade devia orçar pelos 25 ou 26 anos. De estatura pouco acima da mediana, era homem musculoso e possante. Tinha um olhar comunicativo e penetrante qual águia, e vivacidade que denunciava uma indomável energia.  Chamava-se José Ferreira da Silva. Caboclo resoluto estava ali! Ativo e trabalhador de gênio expansivo e folgazão, estava ele sempre disposto, pronto a acorrer solícito em auxílio de quem quer que lhe pedisse os seus préstimos.

Tempos depois José Ferreira constituiria família, contraindo núpcias com uma jovem da localidade, Maria Lopes, tendo-se revelado sempre bom e zeloso chefe da numerosa prole que lhe dera o matrimônio. Teve nove filhos: Antônio, Livino, Virgulino, Virtuosa, João, Angélica, Ezequiel, Maria (conhecida como Mocinha) e Anália. A sua propriedade denominava-se Passagem de Pedras, um pedaço de terra desmembrado da fazenda Ingazeira, pertencente a Manuel Ferreira de Lima, às margens do Riacho São Domingos, situado no município de Vila Bela, Pernambuco.

Homem diligente e trabalhador incansável, em poucos anos conseguiu transformar, com sacrifício, sua sitioca num aprazível logradouro em que botou prosperação: umas trinta reses, alguns animais, roçados de algodão-mocó e de legumes, e, sobretudo uma tropa de doze fortes burros, bem arreados, de almocrevar. Além de bom peão, exímio vaqueiro e agricultor, cumulava também a profissão de almocreve. É a almocrevia mais uma das formas que os desventurados habitantes daquelas plagas longínquas, relegadas por governos e regimes ao mais criminoso olvido e abandono, desenvolveram a fim de garantir a sobrevivência. Essa rude e penosa tarefa era desempenhada por ele e por seus filhos chegando a cobrir distâncias de trezentos a quatrocentos quilômetros por cidades, vilas e povoados para vender as mercadorias que levavam, viagem cuja duração é indefinida podendo ser de quinze dias a um mês, tangendo burros que carregavam fardos de aproximadamente 80 quilos com um ganho miserável! 

Seus vizinhos eram, de um lado, Manuel Ferreira de Lima e, de outro, João Nogueira. O primeiro era completamente diferente do segundo. Este, soberbo e ambicioso, queria ser o maior fazendeiro daquela ribeira e com pretensões à chefança política da mesma. E se mordia de inveja e despeito diante da crescente prosperidade de Manuel Ferreira, incansável empreendedor cuja fazenda crescia nas vistas e se avantajava das mais em toda a ribeira, e com quem jamais pôde brigar, dado o bom senso e tenência do próprio Manuel Ferreira de Lima. 

Pegada com a Ingazeira, pelo lado do norte, estava a fazenda Pedreira, acrescida com a fazenda Maniçoba. Pertencera ao finado Saturnino Alves de Barros, casado com D. Alexandrina, “D. Xanda”. De seus dois filhos, um se tornaria célebre: José Alves de Barros, conhecido por Zé Saturnino. Indubitavelmente, servindo também de instrumento à inveja e ambição daquele que veio a se tornar seu sogro, João Nogueira, foi ele o causador da transformação do vaqueiro-almocreve Virgulino no cangaceiro Lampião.

Alto, magro, “esperto”, mas segundo testemunhos fidedignos de familiares seus e de quem com ele lidaram, era Zé Saturnino “prepotente e arreliado, gostava de provocar e afrontar os mais”, “de pisar no cangote”. “De maus bofes, era odiento e vingativo. Encanecido e pisado pelo tempo e pelas lutas, por remorsos e pavores, se traiu no ódio sopitado e insatisfeito contra os irmãos Ferreiras, depois de mais de quarenta anos já mortos!

A questão, começada e sustentada por Zé Saturnino contra os Ferreiras, não se originou de uma causa única como afirmam alguns historiadores, mas de uma longa série de causas ou co-causas que se encadearam num entrecho crescente até o rompimento definitivo com suas funestas consequências 
para toda a região do Nordeste. Além da já mencionada causa oculta, íntima e estimulante, ou seja, a incontrolável inveja e ambição de João Nogueira, houve uma causa primeira para o início das desavenças entre Zé Saturnino e os Ferreiras.

CONTINUA...

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