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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

LAMPIÃO Cangaceiro: 1898 – 1938 - Museu do Cangaço - FINAL

Por: Hélio Pólvora
 

Acompanhado de Maria Bonita e dez cangaceiros, o Rei Vesgo atravessou o Rio São Francisco, a vau, sujeitando-se a perder na água o “corpo fechado” que lhe atribuía a crendice popular, e acampou a 800 metros do lado sergipano, em terras da Fazenda Angico, município de Poço Redondo. Era mais um esconderijo a que o levava o coiteiro Pedro de Cândido.


Estrategicamente, o sítio chamado Grota do Angico era recluso, mas com a desvantagem de encostas pedregosas. Entrava-se pelo arenoso leito seco de um córrego e, uma vez fechado o acesso, em baixo, a grota se converteria em armadilha.

Tenente João Bezerra à esquerda

Raiava o dia 28 de julho, 1938. Às 5:30 o grupo ainda dormia quando a tropa alagoana do tenente Bezerra, com fuzis e três ou quatro metralhadoras, dispostos em quatro grupos, cercaram o grotão.

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Pedro de Cândido à esquerda

O coiteiro Pedro de Cândido, vítima de denúncia, fora torturado à ponta de punhal pelos “macacos”, que lhe arrancaram as unhas, e cedeu.

Durou 15 minutos a fuzilaria. Lampião, um dos primeiros a despertar, foi também o primeiro a tombar morto. 

 
Neném e Luiz Pedro

O cangaceiro Luís Pedro teria furado o cerco e escapado, se não voltasse a chamado de Maria Bonita que lhe lembrava a promessa de morrer ao lado do chefe. Havia mais quatro mulheres: Maria de Juriti, Dulce de Criança, Enedina de Cajazeiras e Sila de Zé Sereno. A rainha do sertão levou uma bala na cabeça, quando escalava uma encosta.


Cortadas as cabeças dos cangaceiros, a tropa atirou-se ao saque. Na ânsia de arrebatar jóias e dinheiro, decepou dedos e pulsos, conforme diz Ivanildo Silveira, de Natal, Rio Grande do Norte. O próprio Bezerra, autor do livro Como Dei Cabo de Lampião, é acusado de ter- se portado com extrema crueldade. Urubus cevaram-se nos corpos e morreram — o que levantou a hipótese de envenenamento prévio dos facínoras, mas é que tinham preservado os restos mortais com cal e creolina. As cabeças dos 11 mortos foram expostas nas escadarias de Piranhas, depois em Santana do Ipanema e Maceió. A macabra mostra itinerante durou anos, até as cabeças serem recolhidas ao Instituto Nina Rodrigues, em Salvador, e posteriormente sepultadas por pressão de intelectuais e do clero.

Corisco


Esta saga sertaneja — não apenas o cangaço sempre permeado de jagunços e pistoleiros de aluguel — é encerrada em 1940 pelo antigo lugar-tenente de Virgulino, o sedutor Corisco, alagoano de porte atlético e comprido cabelo loiro, inspirador do cineasta Glauber Rocha em Deus e o Diabo na Terra do Sol. Passados cinco dias da degola no Angico, ele remete ao tenente Bezerra as cabeças de Domingos Ventura (ou seria Pedro de Cândido?) e mais quatro pessoas da família, instigado por Joca Bernardo, que os supunha denunciantes. Com o seguinte bilhete, segundo José Mendes Pereira: “Faça uma fritada. Se o problema é cabeça, aí tem em quantidade”.

Pedro de Cândido morreu misteriosamente em 1940.

O cangaço à Lampião estava disperso e desmotivado. O Diabo Loiro encerrou as atividades, reuniu pequena fortuna e enfurnou- se com Dadá no interior da Bahia. Queria viver em paz. Vargas dera anistia aos cangaceiros remanescentes; no entanto ele, emboscado pelo coronel Rufino numa casa-de-farinha, em Barra do Mendes, optou pela resistência heróica. Baleada, Dadá teve de amputar uma perna — e sobreviveu.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Araújo, Antônio Amaury Corrêa de — Assim Morreu Lampião. São Paulo: Editora Traço, 1982, 140 p.
Cascudo, Luís da Câmara — Dicionário do Folclore Brasileiro. Brasília: MEC, Instituto
Nacional do Livro, 1972. ____ Flor de Romances Trágicos. Rio de Janeiro, 1966, s/n.
Fontes, Oleone Coelho — Lampião na Bahia. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 1988.
Grunspun-Jasmin, Élise — Lampião, Senhor do Sertão: Vida e Morte de um Cangaceiro.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
Macedo, Nertan — Capitão Virgulino Ferreira Lampião. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro
1970, 3a edição, 233 p.
Morais, Walfrido — Jagunços e Heróis. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1963.
Prata, Ranulpho — Lampião. Rio de Janeiro: Ariel Editora Ltd. 1934. 210 p.
Sena, Davis Ribeiro — As revoltas Tenentistas Que Abalaram o Brasil. Brasília, 2004.
O Autor consultou textos postados em blogs por autores citados ao longo deste ensaio
Também recorreu aos portais São Francisco, Lampião Aceso e Sama Multimídia,
igualmente na internet.



 http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo16:29:00

    Pois bem caro Mendes, agora chegou à conclusão da matéria do Itabunense Helio Pólvora, em que arquivei todas as partes por você postadas. Com certeza todas elas estão me servindo de grandes informações para meu trabalho.
    Abraços com chuvas no seu Nordeste
    Antonio Oliveira - Serrinha-Ba

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