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sábado, 19 de julho de 2014

PROCURAM-SE HERÓIS

Por Clerisvaldo B. Chagas, 18 de julho de 2014 - Crônica Nº 1.223

Durante a Idade Média, pessoas compunham trovas, geralmente estrofes de quatro versos, recebendo a denominação de trovadores. As trovas, entretanto, eram cantadas por outros artistas chamados jograis e menestréis. A trova era acompanhada por música. Geralmente os menestréis usavam o alaúde, instrumento de corda de origem árabe, semelhante ao bandolim.

Estátua ao vaqueiro. Foto divulgação (Portal Serrita).

Os temas giravam em torno de relações extraconjugais, amores impossíveis e amores secretos.

Na época a língua culta era o latim, usado nas missas e em documentos oficiais. O povo falava uma mistura de língua culta com as linguagens bárbaras. Aqui no Brasil acontece coisa parecida entre a linguagem culta e o palavreado dos analfabetos.

Mas, textos importantes da literatura foram escritos em linguagem popular. Vários poemas foram mostrados no século XI, com temas de bravuras por parte de frêmitos cavaleiros. Muito famoso no Brasil foi a Canção de Rolando que fala da vida do cavaleiro Rolando, sobrinho de Carlos Magno.

Aqui no Nordeste e no Brasil em geral, parece que o povo busca novos heróis como se eles dessem sentido à vida. Em um país onde os ratos do poder levam tudo que é do povo, a massa procura algo em que se apoiar. Não se confia nem mesmo na Justiça que os escândalos apontam como comprometida e arrogante, em grande parte. Por isso um Neymar, um Felipão, poderiam ter sido válvulas de alívio imediato, os novos salvadores da pátria.

Aqui no Nordeste, sem padre Cícero, sem Frei Damião, sem Luiz Gonzaga, os menestréis modernos fabricam seu próprio ídolo. O vaqueiro da fazenda, rasgado, sujo, remendado e miserável de outrora, empresta seu nome. Empresta para os corredores de mourão da cidade, vestidos normalmente, com boné de propaganda, o nome “vaqueiro”, onde o mourão rouba também o termo “vaquejada” e, o cavalo esquelético da caatinga transforma-se em corcel alto, comprido e roliço com valor milionário.

Sendo assim, compositores nordestinos (novos jograis) vão pintando letras musicadas exaltando as qualidades de um vaqueiro que nunca existiu. O vaqueiro romântico do imaginário; indígena aureolado de José de Alencar; Rolando, da Idade Média de capa e espada.

Não é somente no Nordeste. O Brasil já fincou a tabuleta: PROCURAM-SE HERÓIS.


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