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domingo, 31 de agosto de 2014

O CANGAÇO - O TROPHÉU NO TEMPO DE LAMPIÃO

Por Leonardo Mota

Zé Pinheiro, o celebérrimo facínora que tão sinistramente se afamou na sedição de Juazeiro contra o presidente Franco Rabello, era um cangaceiro perversíssimo, autor de dezenas de homicídios bárbaros. 


O seu renome se fez no período que mediou entre o obumbramento da estrella de Antônio Silvino e o fulgor infernal da triste glória de Lampião.


Conheci-o pessoalmente em Abril de 1914, quando a jagunçada do Padre Cícero passava pela cidade de Quixadá (Ceará). Acabou martyrizado nos sertões alagoanos por uns rapazes, cujo pae fôra por elle assassinado.

Romeiros e jagunços de Padre Cícero Romão Batista - oberronet.blogspot.com

Essa vingança foi terrível: convenientemente amarrado, não lhe deram pancadas nem tiros – esfolaram-no vivo, supplicio que o bandido supportou, rilhando os dentes e sem a humilhação do inútil pedido de misericórdia.

Quando Zé Pinheiro morava nos domínios do Padre Cícero, vivia também, a esse tempo, em Joazeiro, o Antônio Godê, outro cangaceiro famoso. O Godê era mais valente que Zé Pinheiro: este tinha apenas mais perversidade .

Incomodado com a fama do rival, Zé Pinheiro bravateou, um dia, que ainda havia de mostrar ao Godê quem dos dois era o homem mais homem. A ameaça chegou aos ouvidos de Antônio Godê que, sem dizer palavra, saiu ao encontro daquelle que assim jurara despachal-o, antes de tempo, deste para outro mundo. Encontrou-o a beber cachaça e a contar proezas, num quarto de feira. Approximando-se bateu-lhe levemente no ombro e pediu em tom camaradesco:

- Zé Pinheiro, meu cabôco, deixa eu ver a fralda de tua camisa!

- Que negócio é esse, Antônio Godê?

- Nada. É uma brincadeira, uma caçoada que eu quero te ensinar...

E, dando o exemplo poz para fôra das calças a camisa. Zé Pinheiro fez o mesmo e o Godê, dando forte nó com ambas as peças de roupas, falou, noutro tom:

- Agora que nós “estamo” amarrado um no outro e nenhum de nós pode correr, bate mão a sua faca, cabra severgonha, que chegou a hora se de decidir quem de nós dois é o home mais home!

E já empunhando a sua pajehuzeira, deu vários pannos no peito e no rosto do bandido acovardado, que não teve coragem de saccar o punhal e se desmanchou em desculpas e protestos de amizade. Cansado de o provocar, Antônio Godê, falou com desprezo:

- Eu não te mato, mundiça, porque cabra frouxo como tu um home como eu inzempla é assim como eu fiz agora. Mas olha: tu larga meu nome de mão, deixa de paléio com minha vida, senão eu te arranco o coração pelas costas! Tu cuida que eu não sou o negro Quintino, que se o Padre Cisso não chega tão depressa, tu tinha comido a língua do cadáver delle crua e com cachaça!

E poz termo a estranha xyphopagia, cortando com certeiro golpe de faca a união que ardilosamente conseguira para o duello mortal. Mas, cortando como? Por derradeiro escarneo, cortando do lado da camisa do Zé Pinheiro e pondo para dentro das calças, como trophéo, o nó cego que fizera...

Obs: Texto original acompanhando a ortografia utilizada na época.

Fonte principal: ?
Material encontrado no: facebook
Na página do pesquisador: Geraldo Júnior

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo07:38:00

    Caro Geraldo Júnior e Mendes, tirando a conclusão por Zé Pinheiro e Antonio Godê poderemos entender como era a tamanha coragem desses nossos sertanejos dos velhos tempos. HAJA CORAGEM!
    Antonio Oliveira - Serrinha

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