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terça-feira, 9 de junho de 2015

"DO CÉU CHOVEU BALAS EM VEZ DE BÊNÇÃOS"!


“No mês de maio encerrado (a sete dias atrás), completou-se (78) anos da primeira vez que civis brasileiros foram mortos pela aviação militar de seu próprio país.

O massacre ocorreu no dia 11 de maio de 1937 na região do Crato, no sul do Ceará. As vítimas: camponeses da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Ali morreram 700 pessoas. Nenhum soldado morreu.

A ordem para abrir fogo das metralhadoras dos aviões da FAB (Força Aérea Brasileira) contra os lavradores partiu do general Eurico Gaspar Dutra, então ministro da Guerra do governo Getúlio Vargas.

A comunidade agrícola-religiosa era liderada pelo beato José Lourenço. Paraibano, José Lourenço decidiu mudar-se para Juazeiro do Norte (CE). Lá conheceu Padre Cícero, e caiu nas graças dele. Logo o beato arrendou um lote de terra, onde se instalou com alguns romeiros. A produção de frutas e cereais cresceu rápido. Os plantadores dividiam tudo entre si, em partes iguais”.

“Padre Cícero mandava para as terras de José Lourenço ladrões, prostitutas, assassinos e todo tipo de “vidas-tortas”. O beato os consertava fazendo-os trabalhar da manhã à noite, em meio a muitas rezas.

A cada melhora na comunidade de José Lourenço, crescia a ira dos políticos e fazendeiros da região. Em 1921, conseguiram prendê-lo, acusando-o de fanatismo e adoração de animal como objeto de culto religioso. O bicho não passava de um boi, chamado Mansinho, dado de presente por Delmiro Gouveia ao Padre Cícero, que o deixou aos cuidados do beato. Os donos das terras acusaram o beato de atribuir poderes milagrosos às fezes e urina do boi. Mataram o animal e forçaram José Lourenço a comer sua carne.

As humilhações e maus tratos sofridos na prisão aumentaram a devoção do povo com o beato”.

“Tudo era de todos”

“Em 1926 José Lourenço mudou sua comunidade para a Fazenda Caldeirão dos Jesuítas, pois a antiga terra que ocupava fora vendida. Foi na fazenda Caldeirão que o beato fundou sua Irmandade de Santa Cruz do Deserto. De novo, o trabalho agrícola prosperou logo. Além de alimentar toda a comunidade, sobrava para abastecer toda a região do Crato e Juazeiro. Tanto os produtos colhidos quanto o lucro obtido com a venda dos excedentes, eram divididos em partes iguais. Apesar de analfabeto, José Lourenço tinha talento para dividir tarefas e ensinar medicina caseira.

Em 1932 o Governo do Ceará criou campos de concentração para os flagelados da seca. A intenção era manter os famintos e sedentos longe de Fortaleza, capital do estado. Nestes lugares, severamente sob os fuzis das sentinelas, morria gente feito moscas. Quem conseguia fugir, ia para o Caldeirão. Ali a fartura nunca acabava, graças ao sistema ecológico do plantio e técnicas de conservação de água, com construção de micro-barragens. A Irmandade de Santa Cruz do Deserto crescia, e a ira dos latifundiários também.

Com a morte de Padre Cícero em 1934, José Lourenço perdeu seu grande aliado e defensor. Era a chance que os poderosos esperavam há anos... Começaram a comparar o Caldeirão a Canudos e dizer que José Lourenço adotara o regime comunista com seus romeiros. 

Em 9 de setembro de 1936 um batalhão da Polícia do Ceará expulsou o povo do Caldeirão e queimou suas 400 casas. Os sobreviventes fugiram para o mato, onde se reagruparam”.

Ao invés de bênçãos, balas caíram do céu

“No ano seguinte, um incidente serviu como sentença de morte para a comunidade do Caldeirão. Um capitão da polícia militar e quatro soldados morreram em uma escaramuça com membros de uma facção da Irmandade. 

Dias depois vinha a ordem do Governo Federal para o massacre final. O general Dutra liberou 200 soldados por terra, e três aparelhos de guerra do Destacamento de Aviação. As metralhadoras da FAB despejaram chumbo quente sobre os colonos indefesos.

José Lourenço refugiou-se em Exu, no Pernambuco, onde morreu em 1946 de peste bubônica. O povo carregou seu caixão por 70 quilômetros a pé, até Juazeiro. Os padres negaram-se a celebrar seu funeral. Os fiéis seguidores então o enterraram no Cemitério do Socorro”.

Pacto de silêncio

““Foi uma coisa tão triste, que minha memória esqueceu”. Assim disse o lavrador aposentado João Batista de Morais ao repórter Paulo Mota, da Folha do Ceará, numa entrevista realizada com sobreviventes em fevereiro de 1998. “Já sofri muito, meu filho”, emendou a também aposentada Alexandrina Tavares de Líria, com 81 anos quando a reportagem foi publicada. “O que posso dizer é que Caldeirão foi um sonho que passou e nada mais”. 

Até hoje este episódio sangrento não é incluído nas aulas de História do Brasil.

Em 1986 o cineasta Rosenberg Cariry lançou o documentário longa-metragem Caldeirão de Santa Cruz do Deserto.

Em setembro de 2008, a organização não governamental SOS Direitos Humanos entrou com ação contra o Governo Federal e do Ceará, exigindo que o Exército indique o local exato da vala comum onde foram jogados os corpos das 700 vítimas. Exige ainda a exumação e identificação delas por DNA, enterro digno e R$ 500 mil de indenização para seus familiares”.

‘Transcrito’
Fonte/foto e-mail drajala@ig.com.br ou acedesfe@ig.com.br
( Postado por David da Silva às 14:43 de segunda-feira, 1º de junho de 2009)

Fonte: facebook
Página: Luiz Pedro da Ingazeira



http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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