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quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A ESPERA

Por Rangel Alves da Costa*

A espera atormenta o ser. Nada mais aflitivo que esperar, esperar e esperar. Mesmo o encontro marcado, a data confirmada, a certeza da chegada, ainda assim uma verdadeira aflição a cada instante. Quanto mais o tempo passa mais a expectativa aumenta, e também o tormento pelo relógio que corre e sem nada avistar.

Esperar é ato tão angustiante que envolve o tempo, a idade e a até mesmo a vida. A espera está no calendário, no relógio de pulso e de parede, no sino da igreja, na porta e na janela, no olhar e no coração. A espera está na estrada, na distância, na curva, no vento, no pensamento.

A espera faz o coração apertar, o tempo parar, o tempo correr, o olho secar de tanto olhar e nada avistar. E da janela se avista o horizonte, da porta se avista o mundo, da estrada se avista a curva, da curva se avista ao longe, mas nada avista o que tanto deseja que chegue. Instantes cruéis onde até o vento parece chegar trazendo recados.

Há gente que espera o carteiro, o leiteiro, o vendedor de picolés. Há gente que espera pelos corredores, que anda de lado a outro, desejoso que chegue logo o anúncio do nascimento do filho. Há gente que espera nas filas, nos corredores dos hospitais, nas salas de recepção. E é um tempo que nunca passa, um chamado que nunca chega, um tormento que não acaba.

Há gente que desiste de esperar, que simplesmente desacredita que qualquer coisa possa acontecer. Impossível que se mantenha hora após hora esperando a notícia, o encontro, a chegada. Ninguém merece enlouquecer esperando eternamente o que talvez nem se recorde mais de sua existência. Mas sofrimento terrível quando a saudade reacende a vontade de encontrar.

Dizem que somente na natureza são cumpridos os compromissos de espera. Mais cedo ou mais tarde tudo acontece. As estações têm tempo certo para chegar e partir, as árvores derrubadas têm tempo certo para renascer, os renascimentos sempre surgem após as devastações. As demoras são somente para desacreditar o homem, que com sua foice espera mais um tronco para destruir.


Mas nem todo mundo desiste de esperar, ainda que os anos passem e tudo pareça impossível de acontecer. Assim aconteceu com alguém que dia após dia esperava a chegada de outro alguém. Ou talvez de uma carta ou qualquer notícia já antiga de tanto esperar. Não se sabe ao certo se cinco anos ou mais, dez ou mais anos, apenas se sabe que esperou e esperou.

Todo dia, logo amanhecer, abria a porta e olhava adiante, ao longo da estrada, pelas suas curvas, procurando avistar algum vulto vindo naquela direção. Fazia a mesma coisa ao abrir a janela. Qualquer barulho que ouvisse lhe despertava a atenção, qualquer formação de poeira já lhe parecia a estrada sendo caminhada por alguém que vinha.

Ao sentar na calçada, debaixo do sol ou às sombras do entardecer, outra coisa não fazia senão lançar o olhar pelas distâncias. Era um olhar tão triste que parecia chorado, sofrido, angustiado. Era um olhar no brilho da esperança e na sequidão dos desesperançados. Mas o tempo passava e nada de vulto ou sombra, de passos ou acenos.

De vez em quando subia na pedra mais alta e lá do alto tentava avistar o que tanto esperava. Sua aflição era tamanha, sua angústia tão dilacerante, que até mesmo entre as nuvens procurava avistar algum sinal. Mas depois descia desconsolado, ainda mais entristecido, e novamente retornava à sua cadeira na calçada. E para esperar.

Mas um dia, antes que o sol espalhasse pelas nuvens suas tintas vermelhas de despedida, ele foi surpreendido com um vulto ao longe. Levantou quase num pulo, correu pela estrada naquela direção, e lhe pareceu avistar quem tanto esperava. Porém não suportou a emoção e caiu ao chão. Não pôde mais sentir a mão acariciando seu rosto e a voz dizendo: O mais triste dos reencontros. Vai com Deus, meu amor!

Poeta e cronista
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