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domingo, 5 de junho de 2016

O CANGAÇO COMO HISTÓRIA

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Ex-cangaceiros, fugidos em 1940, sobreviventes do massacre de Angico, em Sergipe, 1938, quando uma volante alagoana matou 11 cangaceiros, entre eles Lampião e Maria Bonita, de repente aparecem em um seminário ocorrido no Teatro Celina Queiroz, na Universidade de Fortaleza, cujo tema girava sobre o assunto. Eram eles o ex-cangaceiro Moreno e sua esposa Durvinha.


Felizmente o Cangaço não é mais uma questão maldita e podemos agora falar dele e de seu lado idílico assim como de fatos de valentia e covardia praticados por eles. Antes, era ambíguo no sentido de ser rejeitado e condenado, sobretudo pelos que nunca quiseram compreender essas coisas. Hoje o estudamos, inclusive resgatamos as figuras heroicas que o combateram.


O Cangaço, como visão histórica, procurando debater diversas facetas dele, e entre tais, a cultura do homem daquela época, onde centenas de livros e folhetos nos contam a saga de Lampião e seus Cabras (a palavra "cabra" empregada no nordeste em determinadas frases indica e denota valentia) e pode até parecer estranho, essa enorme aura que paira sobre o assunto onde entra a visão de "herói popular" tanto para cangaceiros quanto para os que os combateram, as volantes militares e civis.


Registro as boas e raras pesquisas a esse respeito, pois o Cangaço até então, tinha sofrido não só indiferença, mas preconceito de significativos setores da sociedade, onde em geral aparecia como criminoso, perverso, que em determinados momento o foi, como apontam estudiosos.


Estivemos no mês passado, precisamente de 26 a 29 de maio, na cidade pernambucana de Floresta, no sertão do Pajeú, reunido com escritores, pesquisadores, historiadores e amantes das coisas nordestinas, onde fomos recebidos hospitaleiramente pela Prefeita do Município, Sra. Rorró Maniçoba, Vereadores e população, que nos deram boas-vindas no evento inicial no auditório da Câmara Municipal.

Nesse encontro de escritores, historiadores, pesquisadores e estudiosos do cangaço, tive a honra e a satisfação de receber, por indicação do Curador do Cariri Cangaço, o amigo Manoel Severo e por aprovação dos Conselheiros, (sem esperar e surpreso fiquei),  o Título de Amigo do Cariri Cangaço, confraria que agrega uma família de amantes da história nordestina. 

Nesse encontro na cidade de Floresta, tivemos mais um grandioso lançamento de estudo e pesquisa.


Trata-se do livro As Cruzes do Cangaço - Os Fatos e Personagens de Floresta, dos jovens autores Marcos Antonio de Sá e Cristiano Luiz Feitosa Ferraz que dissertam sobre os bravos e heroicos homens do Pajeú, que combateram Lampião e seus cangaceiros.

Para aguçar a sede de conhecimento do assunto, trago aqui um pequeno comentário sobre a chacina da família Gilo no ataque de Lampião à fazenda Tapera, onde estivemos e fizemos um documentário da visita guiada pelos autores do livro. (veja aqui - A Chacina da Família Gilo por Lampião).


A narrativa textual sob o título O PREÇO DA TRAIÇÃO, os autores narram a complexidade do fenômeno sócio histórico dessa família honrada, habitantes dessa região do município de Floresta, mostrando o ataque à fazenda Tapera, que foi planejado minuciosamente por Permínio Alves dos Santos, que recebeu ameaça de Horácio Novaes, acusado de roubo de alguns muares de propriedade dos Gilo, que se não ajudasse em sua vingança, sua família iria arcar com as consequências. E Permínio, até então amigo dos Gilo, traiu a família com medo das ameaças e seduzido por uma quantia oferecida de 200 mil réis.

Desde o caso triste acontecido na fazenda  Patos, no município de Piranhas, Alagoas, com o extermínio quase que total da família de Domingos Ventura, tido como coiteiro de Lampião, que também foi uma traição, quando Corisco os matou e degolou suas cabeças e as mandou para o tenente Bezerra, que comandou o ataque que dizimou o bando de Lampião, com a morte do mesmo (Veja aqui - A Vingança de Corisco no Palco dos Inocentes) eu não tivera conhecimento de outro fato tão triste como esse que documentei na Fazenda Patos.


Pois bem, voltando ao início desse artigo, onde não podemos esquecer de um palestrante famoso, o amigo  João de Souza Lima, pesquisador baiano, que apresentou o casal e que falou das mulheres no cangaço, e principalmente de Durvinha onde foi mostrado trechos do filme de Benjamim Abrahão em que Durvinha e Moreno aparecem dançando juntos, registramos Moreno, animado, e que fez questão de levantar e declamar:

"Senhores e senhoras / a todos eu peço licença / e todos prestem atenção / eu fui um cangaceiro do grupo de Virgínio / cunhado de Lampião / e todos os cangaceiros da quebrada do Sertão / eu falo com consciência / com toda satisfação / aqui dentro do salão / que o sol vai abaixando / vai trazendo a escuridão / eu canto a noite inteira / e seguro meu rojão" 

Então amigos, hoje podemos estudar, pesquisar e historiar o cangaço com suas consequências, graças à desmistificação de ser coisas de bandidos, pois também estamos falando e pesquisando sobre os militares e civis que combateram o cangaço e o exterminaram.


Hoje convivemos com familiares de cangaceiros e volantes que os combateram, irmanados todos, pelo conhecimento da história. Nesse encontro, assim como outros que tivemos, foi uma alegria de encontrar novamente a filha de Durvinha e Moreno, a amiga Neli, que abrilhanta nossos encontros do Cariri Cangaço com sua alegria contagiante.

Os textos de José Lins do Rego, João Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, que nos falam sobre os nordestinos; e as pesquisas de autores também famosos, tais como; Frederico Pernambucano de Melo, Antônio Amaury Corrêa de Araújo, Rachel de Queiroz, Ranulfo Prata, Maria Christina Matta Machado, Alcino Alves Costa, João de Sousa Lima, Rodrigues de Carvalho, Luitigarde Oliveira Cavalcanti Barros, entre outros, desmistificam a exclusão do cangaceirismo do século 19 entre a importância histórica desses fatos, quando nos contam a saga de cangaceiros, coiteiros, volantes e do povo heroico que combateu de igual para igual, os facinorosos bandidos. 


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