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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

MORTE DE PAU-FERRO

Por Alcino Alves Costa

Certa vez, por e-mail, Alcino Alves Costa me disse que gostaria de ser lembrado através desta foto
José Mendes Pereira

Era agosto de 1937, um bando de cangaceiros congrega-se. O numeroso grupo obedece às lideranças de Corisco, Mariano, Zé Sereno e Mané Moreno. O coito foi armado no riacho das Quiribas. A turba desordeira está alegre e descontraída. Estes encontros são acontecimentos especiais, momentos em que todos se abraçam e demonstram a grande afinidade existente entre os que vivem debaixo do cangaço e enfrentam as maiores provações e ilimitados sofrimentos. As Quiribas é uma das Fazendas de Manoel do Brejinho. É assentada na parte vermelha das terras de Poço Redondo, numa distância de légua e meia (9 km).

No povoado, desde algum tempo, havia sido instalado um serviço de rádio. A novidade não incomoda os bandidos que julguem ser aquele aparelho uma peça absolutamente inofensiva.

Faz parte do destacamento do arruado um soldado, filho de Porto da Folha, chamado Miguel Feitosa. Este buraqueiro se casa com Maria, uma mocinha dali mesmo, filha de seu Luquinha, vaqueiro da Fazenda Badia.

Maria sente falta dos pais. Ansiosa, resolve ir visitá-los. Na fazendona de um dos Britto demora alguns dias. Com extremada saudade, Miguel vai à sua procura.

No primeiro cantar do galo inicia a viagem. No amanhecer chega ao Mulungu, à fazenda de Caduda. A vacaria está no curral. Aproveita e bebe leite saído dos peitos da vaca naquela mesma hora. Após uma sorridente prosa, segue estrada fora.

Deixa as terras do Mulungu e alcança as das Quribas. Seu pensamento está com Maria. Não vê à hora de abraçá-la com ternura e carinho. Sobe uma ladeira. Ao descê-la toma um susto. Avista, lá em baixo, no riacho, um número muito grande de pessoas. Medroso, se esconde nas folhagens. Não tem nenhuma dúvida. Aquela gente só podia ser cangaceiro.

Acovardado e morrendo de medo, com infindo cuidado, retorna apressando para Poço Redondo. A primeira providência que toma ao chegar é avisar ao seu comandante- sargento Ernani.

O destacamento do povoado não tinha obrigação de adentrar às caatingas caçando cangaceiros. Mas, mesmo assim, uma patrulha é formada e segue para a fazenda de Manoel do Brejinho.

O grupo está animado. Imagina que no riacho estão os asseclas que saíram daquela povoação para ingressarem “na vida”. “Os meninos do poço Redondo” viviam rondando o lugarzinho de suas origens, praticamente ao lado de seus familiares e adolescência. Puro engano. No coito estava uma caterva da mais alta periculosidade. Verdadeiros monstros do mosquetão e do crime. Dentre outros ali estavam Corisco, Mariano, Moita Brava, Mormaço e Juriti.

A pequena tropa militar é composta de oito homens: João Santana, Maranhão, Pedro Tatu, Laudelino e seu filho José que não era militar, Zé Paulino e o próprio Miguel Feitosa.

Até o Mulungu, o destacamento segue pela estrada. Dali deixa o caminho e adentram à mataria. Conhecem aquele mato e as serras daquela fazenda. Estão cautelosos. Podendo-se mesmo dizer com medo.
O riacho lá está do outro lado do morro. Vão chegando. Vão chegando. Lá embaixo está o coito. O medo aumenta. Não se aproximam. Ficam distantes, protegidos pelo socavão da serra. Confabulam. Trocam ideias. Chegam a uma covarde conclusão. Recuar. O número de bandido é muito grande e não tinha com enfrenta-lo.

Recuam e ao perceberem que estavam fora do alcance da súcia, livres de qualquer ameaça, João Santana e Pedro Tatu atiram na direção do coito. Disparam suas armas e correm. Não querem se arriscar a um confronto com os bandoleiros.

Um cangaceiro (Pau-Ferro, um dos homens de Mané Moreno e irmão de Colchete, um dos que morreram em Angico) é mortalmente ferido. Uma bala estraçalhou a sua cabeça.

Ao ver o companheiro caído, os “cabras” arrancam destemeremos, na direção dos disparos. Querem cercar os atiradores e vingar o companheiro.

Os soldados fogem espavoridos. Os bandidos perseguem-nos com vigor redobrado.  Gritando e xingando-os tentam com muito esforço alcança-los. Na correria se aproximam das casas do Mulungu. Chegam à cerca do quintal. Acham um chapéu deixado pelos fujões.

A cabroeira está enlouquecida. Estraçalha o chapéu, pepinando-o de punhal. Esbarra nas casas. Os soldados não estão. Caduda informa que eles seguiram para Poço Redondo.

Caduda era um mestre na lida com cangaceiro e soldado. Não disse aos bandoleiros que na outra casa, que ficava além do pequeno capão de mato que dividia as malhadas, estava João Santana, cansado, sem condições de seguir viagem.

O soldado teve sorte. Os bandidos abandonaram a perseguição. Também estavam cansados. Receberam algumas informações do coiteiro e retornaram. Enterraram o companheiro e viajaram para a solta da Cuiabá.

Em Poço Redondo a medrosa e fugitiva soldadesca mente e conta pabulagem. Histórias a grande aventura. Diz que o tiroteio foi forte. Com certeza haviam matado ou ferido cangaceiro. Cada soldado fanfarronava mais do que o outro. A conversa era tanta que no outro dia os soldados, acompanhados de homens do povoado, resolvem ir até o local do falso combate.

O coito está abandonado e deserto. Apenas os sinais da passagem da turba sangrenta. O local e seus arredores são inspecionados. Encontram macambiras arrancadas. No pé de um imbuzeiro. Curiosos, cavam o local, lá estava, o corpo do cangaceiro.

Tonho Biôto corta a cabeça do bandido, colocando-a em uma lata de querosene e levando-a até o povoado, onde é exibida como se fosse um extraordinário troféu.

Fonte: “livro Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico”
Autor: Alcino Alves Costa
Páginas: 287, 288 e 289
Edição 2ª. Edição
Ano: 2011

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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