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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A MORTE DE MARIANO


Lá pelos idos de 1898, no município de Afogados da Ingazeira, PE, nasce o sertanejo Mariano Laurindo Granja.

No princípio do século seguinte, aí pelos anos 1924, passa a fazer parte da caterva de Lampião. Tornando-se o cangaceiro “Mariano”. Mesmo sendo conhecido como “Cabeção” pelos amigos, devido ao diâmetro de seu crânio, esse apelido não é destacado pelos pesquisadores do tema. São poucos aqueles que fizeram parte de algum grupo de cangaceiro e não adotasse, ou fosse colocada, uma alcunha, apelido, como ‘nome de guerra’.


Entra como participante do grupo, bando, do maior dos chefes cangaceiros existente no decorrer do Fenômeno Social, em sete dos nove Estados da Região Nordeste, Virgolino Ferreira da Silva, vulgo “Lampião”, ou “Capitão Lampião”.

Destaca-se por ter, durante o período em que esteve na ativa, participado de grandes embates ao lado do chefe mor dos cangaceiros.
Tinha a mania de dar palmadas com uma palmatória, peça de madeira inteiriça, de cabo longo e em uma das pontas uma circunferência mais ou menos do tamanho da palma da mão de uma pessoa, nas mãos de suas vítimas. Andava com a dita cuja, dependurada, fazendo parte dos seus objetos, digamos, pessoais.

Mariano Laurindo Granja

Ganha muita experiência por ter participado de vários combates dentro da caatinga braba. Quando Lampião foi a Juazeiro do Norte, Ceará, em 1926, para receber a patente de Capitão do Exército Patriótico, Mariano já estava junto a ele. Quando na segunda metade do ano de 1928, Lampião migra para fixar-se no Estado da Bahia, seu bando estava resumido a cinco ‘cabras’ mais o chefe, e o afogadense do Pajeú das Flores, era um deles. Foram estes, os cangaceiros, que atravessaram para margem direita do “velho Chico”: Lampião, Ponto Fino, Moderno, Luiz Pedro, Gorgulho e Mariano. 

Colorizada pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Participou, pelo menos estava no bando, do massacre dos militares na cidade de Queimadas, BA; teve participação, também, no massacre do povoado de Mirandela, que, naquela época, pertencia ao município da Vila de Pombal, no Estado baiano. Foi participante do ataque que o bando fez a cidade de Aquibadã, no Sergipe, lá pelos idos de 1930. Em fim, foi um cangaceiro guerrilheiro e ativo.

Após ter um ‘balaio’ desses, Lampião consente que ele tenha seu próprio grupo. Passando a ser chefe de um dos subgrupos sob seu comando. Ele, após ter um chamego com a cangaceira Otília, toma como companheira a bela cangaceira Rosinha.

Em certa data, o tenente Zé Rufino, adentra cautelosamente no Raso da Catarina. Ele tinha recebido informações sobre um dos maiores coiteiros de Lampião naquela região. Cerca a casa do coiteiro e, após várias bordoadas na porta, gritos e ameaças, o coiteiro não coloca a cara da banda de fora, pois, tinha ido colocar uma volante sergipana numa ‘vereda’ errada. 

Tenente Zé Rufino

Esse coiteiro, o tenente Zé Rufino já sabia que ele tinha uma maneira de relatar uma mentira, dizendo onde o “capitão” estava, sem estar, tão convincente que muitas e muitas vezes, as volantes foram na sua conversa e terminavam ‘dando a viagem perdida’.

Com sua astúcia e tática, os estudos indicam o tenente Zé Rufino o mais cauteloso e astuto dos chefes de volantes, coloca dois homens na lateral da casa, monta acampamento dentro do curral do gado e, sem pestanejar, aguarda pacientemente o retorno do coiteiro...

No silêncio da madrugada, o silêncio se faz maior e tudo se escuta alto. E nada passa despercebido aos ouvidos do matador de cangaceiros e seus bravos guerreiros. 

Lá pelo cantar do galo, o dono da casa chega e é logo abordado e preso pelos homens do tenente e levado a sua presença.

Segundo alguns autores, o tenente tinha um ‘modos operante’ especial para fazer seus interrogatórios.

“(...)(o coiteiro) já o conhecia pelos pedaços de informações que os outros coiteiros lhe transmitiram. Mentir era inútil e tentar enganá-lo era perder tempo. Defrontaram-se, dentro daquele velho curral dois sertanejos formados na ciência dos subterfúgios, na arte das vinganças, no jogo psicológico dos truques entre a verdade e a mentira(...)”. (lampiãoaceso.com).

O tenente, raposa astuta, já foi direto, olhando dentro dos olhos do coiteiro. O coiteiro, também já de cangote “calejado” pela ‘canga’ da vida, encara o interpelador... Assim, começam um jogo muito arriscado para o interpelado.

“— Por que você guiou o sargento Odon Matias para a Barriguda, sabendo que os cangaceiros não estavam lá?

— Pra num sê morto pru eles, seu tenente.

— E onde estão os bandidos?

— Tão no Cangalêcho. O sinhô que quê eu vô li bota in riba dêles.”(blog Ct.).

O pernambucano José Osório de Farias, nesse momento parece refletir sobre a sujeição que passa esses pobres sertanejos. Se os cangaceiros os pegam delatando, são sangrados, se a volante descobre que mentiram, fazem o mesmo.

Após receber o local indicado pelo protetor de Lampião, o comandante resolve deixa-lo ali mesmo, e partir com sua tropa, rumo ao local indicado.

Para prosseguir nos rastros de um bando de cangaceiros, necessitava-se de paciência, astúcia, sabedoria, conhecimento da vegetação e da ‘capa’ primeira do solo sertanejo onde ficam os sinais contando sua história. Seguem devagar, mas, sem nunca pestanejarem em seu objetivo.

Depois de dias nessa busca, o tenente está de olhos pregados no chão em busca de sinais, quando, de repente, sente uma pequena pancada em suas costas. Trata-se de uma pedrinha atirada por um dos seus homens que, em seguida o mostra, através de gestos, o motivo. Vão aos poucos, aparecendo às cabanas, toldas, armadas pelos cangaceiros bem a sua frente.

Quando acampados estavam, e sentiam-se seguros, os cabras ‘passavam’ o tempo a jogarem cartas. Nesse dia, a ‘segurança’ que achavam ter ali, faz-lhes cometer um erro fatal, não deixando alguém de vigia, uma sentinela. E tão entretidos estavam que nada notaram. Principalmente Mariano, que sonhava de como seria o filho que se formava no ventre de sua amada, Rosinha. A morte fecha-se aos poucos em forma de um semicírculo, estilo ferradura, em sua volta, sedenta para ceifar vidas.

Mesmo assim, um dos cangaceiros, mais afastado estando dos outros, nota o movimento da força e abre a goela no meio-do-mundo.

Após o alarma do cangaceiro, dá-se início ao tiroteio, cerrado, brutal e cheio de xingamentos de ambos os lados. 

Naquele deserto, sem povoação por perto, os cantadores da mata são emudecidos pelo som dos disparos das armas de fogo e uma cortina de fumaça se alastra entre os combatentes, escondendo-os e, ao mesmo tempo, retirando a visão que tinham dos inimigos. Tombam de imediato, um cangaceiro, “Pavão”, e um coiteiro que estava a jogar cartas com os cabras, João Pão.

Mariano, Pai Veio e Pavão

Mariano encontra-se protegido por uma imburana, enquanto sua companheira está deitada no chão perto dele. Ele enfrente a volante com coragem e rapidez nos dispares, isso faz com que abre uma ‘brecha’ para seus companheiros, ou o restante deles, possam fugir. Dois cabos da volante, Miguel e Artur, se colocam nos flancos e a coisa começa a ficar preta para o lado do cabra do Pajeú. Artur consegue atingir a perna do cangaceiro. Sua companheira nesse momento levanta-se e corre para onde estão os outros cangaceiros. Conta o que se passa com seu amado e os companheiros voltam, pegam seu chefe e o carregam nos braços.

Mariano, experiente, sabia que sem ele poder movimentar-se na mata, seria apenas um peso e que, atrasaria a fuga, colocando seus homens, sua companheira e seu filho em perigo. Ordena para que o deixem e sigam na fuga. Os ‘cabras’ não o obedecem. Ele saca da pistola e diz se não obedecerem, os mataria. Eles, então, o deixam e levam, mesmo arrastando, sua companheira Rosinha, por ordem do chefe. 

A volante chega rápida e ele os enfrenta com a pistola até a última bala. Sem munição, o bravo cangaceiro atira sua arma descarregada no mato e espera seu destino final. Ele é inquirido para dizer quem seja. Nada diz. Bentivi, soldado da tropa de Zé Rufino, refere ao comandante que, pelo jeito trata-se de um grande cangaceiro, talvez Labareda ou Mariano.

Tempos atrás, o tenente Zé Rufino tinha entrado em combate com alguns cangaceiros e, nesse, tinha saído ferido, em uma das pernas, Mariano. O comandante ordena que rasguem a calça do prisioneiro. Após rasgarem a mesma, verificam que se trata do famoso e valente cangaceiro “Mariano”. Após sua identificação, Zé Rufino dá a ordem para a execução do mesmo, frisando para terem cuidado com a cabeça, pois precisaria da mesma.

Paulo de Tavina, soldado da volante de Zé Rufino, puxa da pistola e descarrega no corpo do prisioneiro. Mesmo recebendo os oitos projéteis, Mariano continua vivo. Bentivi, então, saca seu facão da bainha, o segura pelos cabelos e separa a cabeça do corpo.

Retornando ao local onde ficaram os dois corpos primeiros, é ordenado que decepem suas cabeças. Nesse momento escuta-se disparos não muito distante. O restante da tropa vai ver do que trata-se. Lá chegando, notam que é outro cangaceiro, que baleado, trava combate com os soldados, amparado por numa moita. Sua munição também acaba. A volante chega e o cerca, o soldado Alípio, dá o tiro de misericórdia. Após retirarem os espólios, a cabeça desse cangaceiro também é decepada pelos homens da volante. Trata-se do cangaceiro Pai Velho.

Segundo alguns autores, nos espólios de Mariano, Zé Rufino encontra um relógio de gibeira. Nele marcavam 10h10min do dia 10 de outubro de 1937.

PS// 1 - A data desse combate tem variadas citações, nas distintas obras de distintos autores como Alcino Alves Costa, Frederico Pernambucano de Melo, José Bezerra Lima Irmão, Frederico Bezerra Maciel, Iaperi Araújo entre outros. Os quais serviram de fonte para matéria.
2 - A captura da volante do tenente Zé Rufino foi colorizada, digitalmente, por nosso amigo, Professor Rubens Antonio.

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