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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

UMA COMEMORAÇÃO ARCAICA

Por José Mendes Pereira

Amigo leitor, não fique chateado com o que eu escrevi, porque antes eu não conhecia Lampião, e já fui seu inimigo, mas hoje somos amigos. Não pelo que ele fez de maldades, mas pela coragem que ele tinha.

Veja o que escrevi quando eu era inimigo dele, mas lembrando ao leitor que eu não sou poeta e nem tenho vocação para isto, apenas por intuição.

UMA COMEMORAÇÃO ARCAICA -

Começou o banditismo
Quase com o Virgulino
No outro século passado
Nesses sertões Nordestinos
Um perverso que matava
Homem, mulher e menino
E quando fechava um
Dizia: - Cumpro um destino.

José Ferreira da Silva
Era o pai do Lampião
Não gostava de encrencas
E tinha um bom coração
Mas o seu filho bandido
Meteu-lhe em confusão
Devido encrencas de terras
Mora de baixo do chão.

Mas dizem que a sua mãe
Era mulher meio brava
De nada ela tinha medo
Confusões sempre arranjava
O pai desarmava os filhos
Ela por trás os armava
Mas ela nunca pensou
Que bem perto a morte estava.

E com o incentivo da mãe
Lampião entrou num bando
De cangaceiros valentes
Que só saía assaltando
Do povo: joia e dinheiro
Em outro caso açoitando
Homem, mulher e menino
E no percurso ia matando.

Um dia ele conheceu
Uma doida no coiteiro
Que deixou o seu marido
Pra viver com o cangaceiro
Tornou-se logo a Santinha
Batizou-a o desordeiro
‘Disse: ─ agora eu encontrei
O meu amor verdadeiro.

Quem tem bom raciocínio
Fica sempre imaginando
Como é que uma mulher
Resolve seguir um bando
Cheio de homens valentes
Que sai no mundo matando
Sem dó e sem piedade
E pelos sertões judiando.

No tempo desse bandido
O povo não mais dormia
Pois se espalhava na mata
E por lá ninguém comia
Com medo do desordeiro
Que a qualquer hora podia
Invadir as residências
Com a força da covardia.

Fama de ser valentão
Desde jovem ele tinha
Gostava de confusão
E jamais andou na linha
Adorava assassinar
Matava até criancinhas
Mas seu lugar no inferno
Com certeza o diabo tinha.

E por onde ele passava
Começava a bagunçar
Ninguém mais tinha sossego
Forçava o povo dançar
Homem com homem colados
Era o seu prazer lançar
Um novo divertimento
Pra homem se balançar.

No campo ele amedrontava
Todos que moravam lá
Tomava tudo o que tinham
E se não quisessem dar
Mandava um dos cabras dele
Pegar o chefe do lar
E com o seu cinturão
O açoitava até matar.

Quem não quisesse apanhar
Era só o obedecer
Ficar calado num canto
E dar o braço a torcer
Pois o bandido gostava
De ver sempre alguém morrer
Metia o cinto no lombo
Só pra ver o mel descer.

Durante as suas andanças
Foi sanguinário cruel
Arrancou olhos de gente
De outro tirou o fel
Fez outro beber o líquido
Dizendo que era mel
Se não bebesse o mandava
Logo para o beleleu.

Se ele visse uma moça
Com o vestido curtinho
Ferrava-a com um ferro quente
Marcando o lindo rostinho
Dizendo: - tenha vergonha
Tu ainda és brotinho
Procura andar bem vestida
Pra não mostrar o rabinho.

Uma vez capou um homem
Ás duas da madrugada
Dizendo: - Você está magro
Precisa duma engordada
E começou o trabalho
Com uma faca afiada
Depois do serviço pronto
Deu-lhe boas bordoadas.

Lampião era perverso
No sertão matou, roubou
Fez gente correr com medo
Nas cidades ele estuprou
E quem não lhe obedeceu
Com certeza ele humilhou
E com tiros de fuzil
A vida dele acabou.

Fez mulher pari na mata
E outras transar com ele
Homem beber creolina
E fazer cafuné nele
Fez moça dançar sem roupa
Na frente do grupo dele
Se não dançasse morria
Nas mãos dum cabra daquele.

Tinha um tal de Jararaca
Do bando era o mais valente
Matava com muita ira
Até criança inocente
Sacudia ela pra cima
Com o seu ódio na mente
E com um fino punhal
Furava maldosamente.

Aqui na nossa cidade
O bando tentou vencer
Mas logo encontrou o dele
Mossoró o fez correr
O Colchete morto foi
Que nunca pensou morrer
E o Jararaca o prenderam
Pros crimes ele responder.

O desgraçado pagou
Pelos erros cometidos
Mossoró o derrotou
Depois o deixou detido
Pra esperar o julgamento
Mas isso não foi cumprido
Com cinco dias depois
Na cova ele foi vencido.

Não dar pra gente entender
O que eu vi na cova dele
Tantas velas derretidas
Pois acenderam pra ele
Tanto mal que fez no mundo
E tem quem o põe fé nele
Não rezem mais minha gente
P’rum desgraçado daquele!.

O Lampião era mal
Não dava chance a ninguém
Se seu amigo não fosse
Fazia-lhe de refém
E se fosse o seu amigo
Marcado estava também
E pra que representá-lo?
Se ele odiava o bem!.

Até hoje eu não entendo
Dessa comemoração
Chamada: “chuva de balas”
Pra lembrar o Lampião
Ele só tinha maldades
Dentro do seu coração
E Ainda tem muita gente
Fazendo-o de bonachão.

Deixem de comemorar
O que houve em Mossoró
Feito pelo um desgraçado
Que de ninguém tinha dó
Imitava os Israelitas
Que tomaram Jericó,
Lampião era covarde
Jamais ele atacou só.

Cada ano que se faz
Essa comemoração
Pode até nascer mais outros
Do tipo do Lampião
Do jeito que o mundo está
São poucos de coração
Existem coisas melhores
Pra mostrar a população.

Eu posso até calcular
Desses gastos que são feitos
Dar pra alimentar crianças
Com certeza, seu prefeito!
Têm tantas delas com fome
A espera de um direito
- Pra resolver é difícil?
Mas se tentar vai dar jeito.

Tem pai por aí sofrendo
Sem o pão na sua mesa
Esperando a opulência
E vá embora a tristeza
Pros filhos não têm comidas
Porque lhe falta a riqueza
Não gasta com o Lampião
Gasta tudo com a pobreza.

E outro vive sem teto
Sem proteção de ninguém
Comendo uma vez por dia
Pois para comprar não tem
Fiado ninguém lhe vende
Mesmo assim não lhe convém
- Com que ele vai pagar?
Só se roubar de alguém!.

Quem nasceu em berço pobre
Sabe bem o que é sofrer
Em ver os filhos com fome
Sem nada poder fazer
Um diz: ― Papai quero roupa
Outro diz: ─ Quero comer
Deixa o Lampião pra lá
Pois não dá pra nele crer.

Tem gente que se gloria
Ter vencido o Lampião
Eu até parabenizo
Pois foi uma boa ação
O desgraçado se foi
Lá pra bem perto do cão
Mas vejam que a Mossoró
Está cheia de Lampião.

Quem admira bandido
Tem pensamento adverso
Carrega sempre na mente
Coisa que é de perverso
E jamais pensa no bem
Só quer fazer o inverso
Deixa o Lampião pra lá
Agora faça o anverso.

É melhor representar
O nosso grande Jesus
E ensinar à juventude
Só ele é quem nos conduz
Lembrar do seu sofrimento
E a sua morte na cruz
Deixa o Lampião pra lá
Simula o dono da luz.

Ou talvez: Santa Luzia
Que é a nossa padroeira
Defendeu a Mossoró
Dessa turma bandoleira
Mesma com os olhos furados
Acobertou as trincheiras
Deixa o Lampião pra lá
Pra não se tornar besteira.

Ou Eliseu Ventania
Homem daqui da cidade
Que deixou grandes canções
Foi poeta de verdade
Fazia versos decentes
E nenhum tinha maldade
Deixa o Lampião pra lá
Pensa mais na liberdade.

Por tanto senhor prefeito
Procura dar de comer
A essa gente sofrida
Que não pode se manter
Emprega o dinheiro certo
Faça mesmo ele valer
Deixa o Lampião pra lá
Não dar pra nele se crer.

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