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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

ANTÔNIO SILVINO MATA MENINA DE 13 ANOS


No mês de outubro de 1899 a ‘sociedade’, na Capital pernambucana, vivia de tititis sobre um caso envolvendo uma família da alta sociedade. A esposa do Dr. José Tavares de Melo, dona Tereza Tavares de Melo, entra com pedido de desquite alegando ter sido agredida pelo esposo. Inconformado, o esposo tenta de várias maneiras fazer com que ela retire o pedido de ‘Desquite Judicial’ diante as autoridades. A luta travada nos tribunais vaza para a imprensa e essa, como sempre, dá um jeitinho de ‘fantasiar’ o caso, chamando a atenção da população para tal.

O maior dos empecilhos que o Dr. Tavares encontrava pelo ‘caminho’ era a ‘autoridade’, o poder, do pai de dona Tereza, o usineiro ‘coronel’ Antônio dos Santos Dias, pois por mais que tentasse ver e falar com a, ainda, esposa, seu sogro não permitia. Então, como já se esperava, torna-se uma rixa particular entre os dois. Não podendo vencer o sogro numa ‘queda-de-braço’ direta e legal, Dr. Tavares apela para o extremo, contrata um bando de cangaceiros para ‘dar fim’ ao sogro e trazer dona Tereza de volta para a casa dele.

Antônio Silvino

Antônio Silvino, naqueles dias encontrava-se acoitado nas terras do engenho de cana-de-açúcar chamado Arandu, no município de Canhotinho, PE. Dr. Tavares descobre sua localização, entra em contato e vai até ele. Lá chegando conta, a sua maneira, todo o ocorrido. Solicita do chefe cangaceiro seus serviços para ir buscar sua esposa que estava na mansão da usina Santa Filonila, de propriedade do coronel Antônio dos Santos Dias, para casa e, em contra partida, matar seu sogro. Preço estipulado pelo ‘Rifle de Ouro’ e aceito pelo contratante, selando o ‘acordo’ com um aperto de mão forte e olhos nos olhos um do outro, fazendo parte desse acordo tudo de valor que fosse encontrado na casa sede do engenho ficaria para os bandoleiros.

O sogro do Dr. Tavares era um dos mais importantes e fortes usineiros da na Zona Canavieira da província pernambucana naquela época. Pessoal e diretamente, e mesmo nos tribunais, jamais que ele ganharia uma batalha contra o poderoso ‘coronel Santos Dias’. Devido a isso, ele tomou a decisão de contratar um bando de foragidos para realizar aquela tarefa. O coronel Antônio dos Santos Dias havia levado sua filha mais velha para a casa sede nas terras da Usina Santa Filonila, de sua propriedade devido à mesma ter dito que havia virado uma constante seu marido a maltratar. Ele, o coronel Santo Dias, era pai de uma prole grande, com filhos e filhas. As filhas, que eram duas, tinha a mais velha, Tereza, e uma menina chamada Feliciana que contava apenas com treze anos de idade. As duas sempre estavam juntas, apoiando uma à outra, nos afazeres da casa. Seus irmãos estavam quase sempre fora, pelas terras da usina, tentando darem conta da lida diária.


Sem saber ao certo onde ficava a Usina Santa Filonila, Silvino, na manhã do dia 10 de outubro daquele ano, sequestra um ‘boia-fria’ para que servisse de guia até a casa sede da mesma. Avistada a casa principal, o refém fica com uma ‘guarda’ e o restante dos cabras cercam a casa. Após cercarem, abrem fogo cerrado e contínuo conta portas e janelas da casa do coronel Dias.

O coronel não se encontrava em casa, naquela madrugada tinha viajado para ir resolver alguns negócios. Os irmãos de Tereza já haviam ido para o campo trabalharem. Quando o fogo tem início, Feliciana corre procurando abrigar-se e leva um tiro. A menina, de apenas treze anos de idade, tomba e seu pequeno e frágil corpo estatela-se no assoalho da casa já sem vida. A sequência dos disparos durou mais um pouco, porém, tiveram que cessar por não haver sequer um tiro contra o bando. A caterva parte e invade a mansão da usina. Quando lá estavam, notam que dois corpos jazem no chão frio da moradia. O corpo de um homem, empregado caseiro do coronel e um corpo de uma menina.

Silvino, ao deparar-se com o corpo da criança, sente-se ‘comovido’:

“(...) deparou-se com o corpo de Feliciana imerso em enorme poça de sangue. Sentou-se comovido ao lado da criança e ali se deteve alguns instantes (...).” (DANTAS,2012).


Logo se levanta e ordena que a cabroeira comece a procurar por dona Tereza, que era o principal objetivo da missão, e a trouxesse até ele. Ao partirem em busca dela os cangaceiros vão destruindo tudo que encontram pela frente e ficando com tudo que achavam ter valor. Dona Tereza sai do lugar em que estava escondida e entrega-se. Ao ser levada a presença do chefe cangaceiro suplica para que a deixe ficar para providenciar o velório e sepultamento da sua irmã Feliciana, prometendo depois retornar para sua casa. Talvez pela morte da criança, o chefe da turba permite que ela fique.

Ao sair da casa, ordena que executem o pobre “boia-fria”, que havia servido de guia até ali. A ordem é cumprida rapidamente. Logo somem por entre o balançar dos pés de cana-de-açúcar canavial adentro, deixando para trás um rastro de dor, lágrimas e sangue.


Aquele crime teve grande repercussão na Capital da Província, Recife. Todos sabem de imediato que o mandante seria o Dr Tavares. Grande contingente policial é removido para aquelas terras para caçarem ele, no entanto, todo esforço da Força Pública fora em vão. Parecia que o marido de dona Tereza havia evaporado.

No mesmo dia 10 de outubro, já quando a noite havia coberto a região com seu negro manto, os três corpos foram levados em caixões para a cidade do Recife em um trem. Na estação ferroviária a população se aglomerava em volta dos caixões, principalmente o menor onde estava o corpo da criança e pedem para que seja aberto. Então aquele pequeno ataúde que transportava o corpo da pequena Feliciana é aberto e a cena causa grande comoção nos presentes. Da estação, o cortejo fúnebre segue para a Igreja Matriz de Santo Antônio e na manhã do dia seguinte são sepultados no cemitério de Santo Amaro.

Investigações levam as autoridades saberem que o autor dos crimes havia sido Antônio Silvino e seu bando. Grande força policial é designada para irem à caça dos bandoleiros, a qual recebeu o reforço de vários jagunços do coronel. Quando se encontrava preso na Casa de Detenção da cidade do Recife, em seu primeiro interrogatório devido ao primeiro Processo Judicial ter sido aberto, no Fórum da cidade de Olinda, PE, em 5 de setembro de 1916, quando o Juiz refere sobre a morte da menina Feliciana filha do ‘coronel’ Antônio dos Santos Dias, na Mansão da usina Santa Filonila, o chefe cangaceiro diz ter sido aquela morte o único crime de que se arrependia.


A Volante estava sob o comando do “Subdelegado João Gonçalves”. Naqueles morros, cobertos por cana o trabalho do rastejador foi de primordial importância, pois, na manhã do dia 13, no município de Gravatá de Bezerros, PE, localizam, cercam e atacam o bando de cangaceiros. Pegos de surpresa, os bandoleiros são alvos fáceis, inclusive o chefe é atingido em um dos braços. Dois de seus homens são abatidos e sangrados pelos volantes. A morte da menina gerou feras humanas em busca de feras humanas.

Ferido, não há outro jeito, Silvino consegue furar o cerco e, junto com a cabroeira, se entocam para esperarem curar seus ferimentos. No entanto, as volantes não param e só se detém o necessário para um breve descanso e/ou reabastecimento, e seguem a sua cata.

Saradas as feridas, o “Rifle de Ouro”, já em princípios de 1900, surge roubando em um engenho no Distrito de Cabaças, em terras paraibanas. Em seguida ao crime, uma volante comandada pelo capitão da Polícia paraibana, José Augusto, pega o rastro dos bandoleiros e não largam mais. Conhecedor do terreno, o capitão Augusto antecipa-se a turba e prepara-lhe uma emboscada. Nem mesmo conseguiram sair das terras do engenho roubado, os cangaceiros comandados por Antônio Silvino, são atacados. Sob suas ordens, os cangaceiros respondem aos tiros da volante com uma cadência e ritmo assombroso. Pela quantidade de disparos, é formada uma nuvem de fumaça, coisa que os cangaceiros aproveitam e caem fora da arapuca. Nesse combate, não fora registrada baixas de nenhuma dos lados.


Mais uma vez, o bando do “Rifle de Ouro” some como que por encanto. Ninguém dar noticia exatas de onde estaria o bandoleiro e seus comandados. Ao faltar alguma iguaria necessária, Silvino reaparece e extorque, ou mesmo rouba, de pequenas propriedades, Vilas ou aglomerados de casas, voltando em seguida a sumir de vista. Nessa época, com o arrocho ao bando de Antônio Silvino, vários bandos de criminosos, ao praticarem seus crimes, aproveitam o ensejo e deixam todos ‘cientes’ que faziam parte do bando do “Rifle de Ouro”, com isso, os crimes do filho de Carnaíba, PE, vão aumentando.

Pernambuco e Paraíba fazem um pacto para que suas Forças Públicas atuem em conjunto em ambos os territórios no combate ao crime. Naquela época as divisas estaduais era o primeiro impedimento da Força Pública de um Estado, Província, prosseguir com a perseguição em outro(a) vizinho. Essa decisão arrocha mais ainda os movimentos do grupo cangaceiro. Entre os municípios de Itabaiana e Vila do Ingá, ambas na Paraíba, e a divisa com o Leão do Norte, havia uma espécie de ‘deserto’ na Mata Branca chamado Surrão. Essa área já fora escolhida pelo cangaceiro do vale do Pajeú das Flores, devido ser bastante difícil à locomoção e sobrevivência. Mesmo assim, estando os militares determinados, a coluna avança em busca dos inimigos.

Quase todos os movimentos dos militares estavam sendo observados pelo filho de Batistão, que esperava o momento certo para entrar em ação. Esse momento chega e a espoleta começa a ser cortada sem dó nem piedade. A tropa militar é formada por militares pernambucanos e paraibanos. Os primeiros, numa composição de mais ou menos noventa e cinco homens, estão sob as ordens do Capitão Angelim, os segundos, em torno de vinte e cinco praças, sob o comando do Alferes Paulino Pinto. Ao juntarem-se, em terras pernambucanas, logicamente o comando geral passou a ter as ordens do capital Angelim.

No momento do embate, o Alferes Paulino segue diretamente para onde se encontra os inimigos. Já a força do Capitão Angelim, recua um pouco e segue fazendo o ataque pelos flancos e tentando fechar o cerco para pegá-los, também, pela retaguarda. A gana de acabar com o bandoleiro pernambucano era tão forte, que o comandante paraibano não usa tática alguma. Ele mesmo sai de frente, de peito aberto bradando aos quatro cantos que acabará com Silvino naquele momento. De súbito seu rifle é arrancado das mãos por uma bala, é ferido em uma delas. Ele pouco se importa. Agachando-se junto às pedras, trincheira, onde estava um de seus homens, o soldado José Menino, pega a arma do mesmo e prossegue na direção dos bandoleiros. Está manobrando a alavanca da arma quanto é atingido novamente, dessa fez na altura do abdome. Mesmo sendo atingido pela segunda vez, o Alferes não recua. Faz menção de prosseguir com o ataque quando uma bala quebra-lhe os ossos da perna esquerda, fazendo desfalecer, no chão duro e seco do vale do Surrão, um dos homens mais valentes que a Paraíba já viu.

O fumarel da pólvora queimada, outra vez torna-se aliada dos bandoleiros. Aproveitando a quantidade de fumaça, Antônio Silvino passa a ordem de caírem fora daquela arapuca. Como que fosse um só, a turba evacua o local rapidamente, tanto que militares atiram a esmo. No entanto, aquela batalha foi esmagadora para os homens do “Rifle de Ouro”:

“(...) O resultado do entrave do Surrão foi desastroso para Antônio Silvino. Muitos dos seus asseclas caíram gravemente feridos e tornaram-se presas fáceis para os militares. As baixas estavam além do que poderia esperar o régulo dos sertões: seis mortos durante a resfrega e mais nove sangrados pela própria polícia após o tiroteio (...).” (ob. Ct.)

O periódico “A União”, em uma edição especial, fornece a população os nomes dos quinze cangaceiros abatidos no Surrão. O Jornal refere que todos os cangaceiros foram “mortos em combate”:

“Antônio Francisco da Silva; José Francisco da Silva, vulgo Criança; Joaquim Paulino (Marreca); Firmino Paulino (Fura Moita); Aprígio Gomes de Araújo; José Firmino da Costa; José Ribeiro Campos; Marcelino Pereira; Francisco Alexandre; Antônio Aurélio; José Bacalhau; Antônio Jovino; Caetano Labareda; José Guedes e José Guedes Faria”.

A coisa estava ficando desesperadora para Silvino. Com a perda de tantos homens, resolveu que dali por diante iria procurar diminuir seu bando. Aqueles em quem confiava mais como Serra Branca, Baliza, Ventania, Tempestade, Azulão e mais uns seis, permaneceram com ele, os outros, ele mandou que procurassem seus rumos. Após a derrota “no fogo do Surrão” Silvino dana-se de mata adentro e passa vários meses dentro de uma das tantas furnas que usava como esconderijo... nas quebradas do sertão.

Fonte “Antônio Silvino - O Cangaceiro, O Homem, O Mito” – DANTAS, Sérgio Augusto de Souza. 2ª Edição. Cajazeiras, PB, 2012.

Fotos meramente ilustrativas (as fontes dos registros fotográficos estão abaixo de cada imagem).

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