*Rangel Alves da Costa
Candidatos que se apresentam como renovação ou mesmo aqueles de mais tempo na estrada, insistem em buscar eleitores a partir das lições do mesmo livro de antigamente. No discurso o novo, no verbo a renovação do pensamento, mas na prática a mesmice já carcomida. Parecem nunca aprender que os novos tempos, ao menos em parte, acabaram transformando a submissão eleitoral em livre escolha.
Tais políticos surgidos como esperanças boas, como possuidores de uma nova feição de fazer política, ao não desentranharem-se dos ranços coronelistas, clientelistas e de apadrinhamento, certamente que estarão incorrendo em armadilhas difíceis de serem desfeitas. O velho modo de fazer política, privilegiando o dono do curral, até possuiu muita valia noutros tempos, mas não na realidade presente.
Quais seriam, então, os erros do passado que gora, até mesmo de forma não plenamente desejada, estão sendo utilizados como meios de atração de votos? Inicialmente, dois principais deslizes podem ser apontados: menosprezo ao eleitor em si mesmo e demasiada valorização da falsa ou inexistente liderança.
Por que assim acontece? Ora, atualmente a grande maioria dos eleitores já não vota por encomenda, não reza no terço de nenhum mandachuva nem aceita que sua escolha seja feita pelos outros. O eleitor de agora é dono do seu próprio nariz e principalmente do seu voto. E tais aspectos não são devidamente observados pelos candidatos.
Na outra ponta, tem-se que na realidade atual não há mais aquele líder que agregue eleitores como antigamente. Hoje em dia é impossível que alguém se diga dono de tantos votos e faça negócio com o candidato de porteira fechada. Daí que será gravíssimo erro do candidato imaginar que negociando com o fazendeiro de votos estará comprando o rebanho inteiro.
Noutros idos eleitorais, nos tempos dos currais e dos chamados rebanhos votantes, aí sim, aí era de plena valia o acerto entre o pleiteante e o velho político interiorano, dono de mil votos e de mil cabeças de gado. Tudo num só curral. Acaso ele disse que as urnas teriam os mil votos, não haveria que duvidar. Muito já se vendeu porteira fechada. Do curral já saía o deputado pronto para tomar posse.
Mesmo que não houvesse mil eleitores no feudo eleitoral do coronel, do senhor dono do mundo ou do latifundiário, ainda assim tal quantidade ou mais de votos surgiria na contagem. Havia sempre o milagre da multiplicação na urna cega e surda, os mesmos sintomas sentidos por mesários, presidentes de mesa e até da justiça eleitoral. Esta, enquanto perseguia um grupo, deslavadamente fechava os olhos para as fraudes e ilicitudes de outros.
Já houve situação em que o número de votos para o escolhido do coronel foi bem maior que o número da população inteira do município. E tudo ficou na normalidade, com reconhecida validade do pleito. Dizem que depois uma carrada inteira de gado foi transportada para as terras do velho magistrado. Coisas que dizem, não sei. Mas também não duvido.
Não duvido por que em muitos municípios interioranos de antigamente, toda a justiça eleitoral da região estava sob mando e ordem do poder coronelista. Bastava que a governança estadual passasse um bilhete e tudo já estaria encurralado também. No conluio entre o coronelismo e o poder governamental de então, infeliz daquele magistrado que quisesse se arvorar de fazer justiça. A lei era a do senhor, a justiça era a convivente.
Em tempos tais, se o coronel dono do voto e do mundo dissesse que tantos ou quantos votos sairiam do seu feudo, então era dito e certo. Mas esse tempo acabou. As últimas grandes lideranças regionais foram minguando à medida que alguns destemidos ousaram enfrentar os mandonismos e abrir de vez as porteiras. Certamente que ainda existem eleitores cativos, mas estes por laços de amizade ou de favores impagáveis de outra forma, mas não pela simples submissão ao mando.
Contudo, o que se tem hoje em dia é a falsa liderança posando de grande líder e detentor de verdadeiro curral eleitoral. Não tem nem os votos de todos da família, mas ainda assim se diz um assombro eleitoral, com votos suficientes para fazer pender a balança. E assim age na perspectiva de ser acreditado e daí em diante começar a fazer negociata com os votos que não possui. Exemplo disso é ex-candidato a vereador ou mesmo vereador de mandato, garantindo possuir mais que o triplo dos votos obtidos no último pleito. Muitas vezes, conta com dez votos e diz que tem quinhentos. E o candidato de agora acredita.
Não só acredita como se esquece de procurar o próprio povo, o eleitor, e vai bater à porta da falsa liderança. Ao bater à porta, é recebido numa mesada, começa a ouvir mentiras, e acredita. Então surgem os acertos, as quantias, os valores. E para o povo, para aquele que realmente vota, o esquecimento, o nada. Depois que não é eleito pode reclamar de quem? Ou vai buscar no votante o voto ou nada será conseguido. Depois que a falsa liderança embolsar o dinheiro, adeus.
Escritor
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