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sábado, 29 de setembro de 2018

EM BUSCA DA VERDADE... SEMPRE!


ILDA RIBEIRO DE SOUZA FAZENDO 'PAR' AO ILUSTRE POETA ANTÔNIO BEZERRA, "ANTÔNIO DE CATARINA", NA ÁREA DA CASA DO SAUDOSO POETA REPENTISTA LOURIVAL BATISTA, "LOURO DO PAJEÚ", AQUI EM SÃO JOSE DO EGITO, PE, A TERRA DA POESIA.

MENTIRAS OU VERDADES DA EX CANGACEIRA HERMECÍLIA BRÁS SÃO MATEUS, A SILA, EM SEUS RELATOS, LIVROS E ENTREVISTAS?

Por Sálvio Siqueira

Sempre se comentou, até debate foi feito, sobre o que a ex cangaceira do bando de Lampião, companheira do então chefe de subgrupo Zé Sereno, José Ribeiro Filho, Sila, Ilda Ribeiro de Souza, na verdade trata-se de Hermecília Brás São Mateus, seu nome de registro, falou em suas entrevistas a respeito de sua permanência e convivência no cangaço, não ultrapassaram dois anos, a jornais, livros, programas televisivos e canais de produções artísticas em veículos de comunicação em massa.

Para variar, esse também é um assunto polêmico dentre aqueles que pesquisam e estudam a historiografia do Fenômeno Social. Alguns citam que a ex cangaceira danou a língua nos dentes e contou diversas mentiras. Dizem até que para promover-se dentro da mídia e entre os estudiosos, alguém ‘criou’ para a Sila um manequim especial, corte de cabelos, vestimentas, mudar seu nome para um mais artístico e etc., em fim, foi idealizada uma produção artística para a mesma se ‘apresentar’, juntando a essa, que as ‘mentiras’ tiveram alguns toques bem arquitetados de sensacionalismo. Já outros dizem, rebatendo os primeiros, que a ex cangaceira não mentiu. Alguns até citam, interrogando, para que se diga uma determinada ‘quantidade de mentiras’ nas entrevistas. Alguns ainda acreditam que ela, ao ser entrevistada, foi ‘forçada’ a dizer determinadas histórias pelos pesquisadores. 

A verdade é que, não sabemos o porquê, todo remanescente cangaceiro se viu diante de um momento de destaque, de glória, e procurou aproveitar-se. Muitas das entrevistas foram fornecidas a base de pagamentos. A mesma personagem disse, relatou, para distintos pesquisadores, várias versões d’um mesmo assunto.

Voltando a personagem estudada, ou o que ela disse, vemos um grande desencontro quando ela relata ser da cidade de Poço Redondo, SE, já que a cidade só passou a existir em 1953. Ela é natural da cidade de Porto da Folha, SE, portanto ela é “buraqueira” e não poçoredondense. Como relata um dos filhos do saudoso pesquisador Alcino Alves Costa, o amigo Rangel Alves da Costa: “(...) da criação do município, desmembrado que foi de Porto da Folha no ano de 1953. A dúvida é se a emancipou ocorreu a 23 de novembro de 1953, como quer constar da lei municipal, ou a 25 de novembro de 1953, conforme preceituado na lei estadual (...)”.

Ainda há em seu histórico, que não se chamava Poço Redondo, e sim, Poço Verde: “Elevado à categoria de município e distrito com a denominação de Poço Verde, em 25 de novembro de 1953, desmembrado do município de Porto da Folha.” (www.familysearch.org)


Na entrevista cedida à jornalista/apresentadora Silvia Popovic, no programa de nome da apresentadora na rede de televisão Bandeirantes, apesar do vídeo de sido editado, notamos alguns ‘escorregões’ da ex-cangaceira. Ilda Ribeiro disse: “que nas férias, vinha pra cidade e que seu irmão não queria que ela viesse pra cidade que os cangaceiros poderiam passar lá e carregar ela”. Para começar, férias de quê? Escolares? Acreditamos que sim. No entanto, todos sabem que quem vivia da, e na roça naquele tempo não gozava férias coisa nenhuma. Sempre houve muitos afazeres para uma mocinha se entreter com sua mãe na labuta da casa em um sítio ou fazenda. A própria determinação das pessoas na época, era para que, sendo do sexo feminino, muitas coisas não poderiam fazer, como por exemplo, estudar, usar batom, cortar o cabelo diferentemente do corte dos cabelos de sua mãe e muitas outras determinações que hoje se acham ultrapassadas. Mas, na época, era como uma ‘lei’ e todas as seguiam se não a ‘chibata’ comia solta no lombo. Acreditamos que deveria ela ter narrado ao contrário, que seu irmão não permitia ela ir para o sítio, nas férias. 

Essa é profunda. Citando que nunca havia visto Lampião, Sila diz que uma vez, ele ao passar na ‘cidade’, supomos que novamente refira-se a Poço Redondo, ela estando ‘louca pra vê-lo’, quando é trancada dentro de um quarto, então ela abaixou-se e olhou por baixo da porta e viu ‘a percata dele’, viu o pé dele, mas a pessoa dele não’. Ora, se ela nunca havia visto Lampião como saberia que exatamente aquelas sandálias seriam as de Lampião? Não tem como.

Sila, na entrevista diz que foi com Zé Sereno quando esse a chamou, não da cidade, mas da ‘fazenda’ onde estava. Outra contradição, pois o real perigo estava, segundo ela no início da entrevista, estava na cidade e não no sítio. Cita que não queria ir, mas que seu irmão falou que se ela não fosse seria pior. Ela aí diz que foi, porém, ‘mais caia do que andava’. Ora, ela nasceu e criou-se no sítio, então como não sabia andar nas estradas e veredas da mata sertaneja? Estranho.

Sila não referiu à entrevistadora que Zé Sereno deu, doou cinco contos de réis a um parente dela para que ele ‘ajeita-se’ o namoro dele com o próprio Zé Sereno.

Ela e o próprio companheiro abstiveram-se, não relataram, de dizerem que ele assassinou um cidadão a golpes de martelo, numa crueldade sem tamanho. E que, ao ir fazer a ‘vingança’ do vaqueiro que atirou no irmão dela, Sereno, além de matá-lo, também assassinou o filho dele.

A Sila referiu que, ela e Maria de Déa saíram um pouco do centro do coito na grota do Riacho Angico, no ocaso do dia 27 de julho de 1937, na quarta-feira, sentaram-se em uma pedra, e ela viu ‘luzes’ piscando, que retornando para a tolda, ainda viu a luz, e que se tivesse falado para ele, Zé Sereno no caso, a coisa teria sido diferente. Pela posição em que as luzes piscavam, subentende-se que foi na direção do Rio São Francisco. Dizendo ou não o que achava ser, Sila, a nosso ver, tentou mais uma vez se promover na mídia. Com certeza, inteligente como era, sabia que vários pesquisadores cairiam de boca atrás dessa história. Ora, historicamente a historiografia dessa cangaceira pouco contribuiu para a história do cangaço em si, portanto, tinha que haver um ‘toque’ a mais, bem especial, para chamar a atenção para ela. E isso foi o que ocorreu. ‘Essas luzes’ passaram a clarear o caminho, agora artístico, sim porque fez contrato com a Rede Bandeirante de Televisão, da ex cangaceira. Fato.

Bem, vamos seguir com os relatos da Sila. Vejam bem, o que escreverei abaixo, são citações dela, da própria Sila. Em seus livros, por incrível que pareça, ela cita uma data da morte de seu próprio pai diferente, no mínimo, três vezes. Referiu à companheira de Zé Sereno que seu pai havia morrido quando a mesma tinha 9, 10 e 13 anos de idade. Ou seja, a cada livro lançado, vinha uma data da morte do pai, só que diferente. Ô homem morredor da gota serena. Ela, em seus livros, ou em alguns deles, diz que a sua noite primeira no cangaço foi ao lado de Zé Sereno, “À noite, ele estendeu um cobertor em cima de uma pedra, e tive de me deitar com ele. Foi assim minha primeira noite. Fui sabendo que a partir daquele dia seria sua mulher”. No entanto, em outro livro, sobre o mesmo fato, disse ela que havia passado a noite dançando com o cangaceiro Luiz Pedro, por estar com medo de José Ribeiro.

Ilda relata em um determinado livro que a partir do momento em que entrou para o cangaço, acompanhou Zé Sereno, seus irmãos também passaram a fazer parte, entrando junto no bando. Só que, em outros livros, ela relata que foi após uma semana, um mês, mais dias... e por vai. No livro, por incrível que pareça, Sila se contradiz com o que relata em entrevistas quando citou que no grupo, chamava Maria Déa de “Maria Bonita”.

Hermecília citando sobre as ‘reuniões’ que havia entre os grupos, no livro, referiu que em novembro de 1936 Zé Baiano estava em uma delas junto com seu companheiro Zé Sereno, que era primo de Zé Baiano. Ora, sabemos que o “Pantera Negra” foi assassinado por Antônio de Chiquinho e seus ‘cabras’ em julho de 1936. Portanto, só se Zé Baiano pedisse autorização ao ‘rabudo’ e viesse quatro meses depois de ter sido assassinado. No mesmo livro, ela disse que “o coronel Nogueira queria se apossar das terras do Zé Ferreira”. Não ocorreu esse fato, a não ser na minissérie da Rede Globo “Lampião e Maria Bonita”, onde o drama tenta mostrar esse fato de roubo de terras. Mais adiante, Sila ‘relata’ que Lampião invadiu Nazaré do Pico e botou fogo em todas as casas que pertenciam aos Nogueiras. Nunca ocorreu tal fato. Aliás, Virgolino teve bastante juízo em não ter atacado Nazaré.

Sobre a morte do pai de Lampião, José Ferreira, Sila disse que a polícia cercou a casa de Zé Ferreira, juntamente com Zé Saturnino, e a mãe de Lampião não suportando, morre do coração. Nada correto, pois quando a polícia cerca e assassina Zé Ferreira, sua esposa já havia falecido há dias. Tão pouco José Saturnino fez parte da volante de José Lucena, a qual é que cerca e mata Zé Ferreira. Danouuuuuu-se.

Sila referiu que após a morte do “Rei do Cangaço”, em julho de 1938, os cangaceiros sobreviventes, em torno de duzentos cangaceiros, “inclusive Corisco e Dadá”, fizeram uma reunião e promoveram seu companheiro, Zé Sereno, para assumir o lugar do chefe mor. Essa foi pra lascar tudo em banda. Há uma entrevista da própria ex cangaceira referida onde ela declara nunca ter conhecido Corisco e Dadá, e que Dadá tinha loucura para conhecê-la. Sila ainda disse que colocou um fuzil no ombro, pegou a cartucheira a entupiu de balas e danou-se pelo mato. Cangaceira andar com arma longa? Teve não. Sobre o ataque aos cangaceiros na grota, Sila disse, através de livros, que o ‘primeiro tiro ecoou matando um companheiro. Aí ela começa a ‘voar’ mais alto e diz que agarrou Enedina pela mão e a levou quase que arrastanto, que Candeeiro fora baleado em uma das pernas, quando o mesmo passou a implorar para que ela o ajuda-se e não o deixa-se ficar ali. Arra mulesta. Essa foi pra abrir pau d’arco no meio. Candeeiro foi ferido na altura do antebraço e não numa perna e Enedina, companheira de Zé de Julião, o cangaceiro Cajazeira, foi uma das vítimas fatais entre os cangaceiros, inclusive o projetil de fuzil esfacelou com o crânio dela.

Bem, sabemos que a maioria dos sobreviventes mentiu bastante. Tais como Balão, Volta Seca, Zé Sereno e outros mais. Talvez por quererem esconder aquilo por que passaram, por vaidade ou simplesmente para se promoverem, aproveitando algum momento de destaque. Não os condeno. De maneira alguma condeno algum deles por isso... Quem nessa vida não mentiu alguma vez, não é verdade?

Só não posso dizer que há verdades quando sei que não existiu nenhuma em relatos inacreditáveis, mirabolantes mesmo, e principalmente, sendo deles.

Referências:

“Sila – Memórias de Guerra e Paz” – Ilda Ribeiro de Souza
“Sila - Uma cangaceira de Lampião” – Ilda Ribeiro de Souza e Israel (zai) Araújo Orrico
“Angicos – Eu Sobrevivi” - Ilda Ribeiro de Souza
Gente de Lampião – Sila e Zé Sereno” - Antônio Amaury C. Araújo
Programa Silvia Popovic – Rede Bandeirantes de Televisão
Programa Amaury Jr. – Rede Bandeirantes de Televisão
Programa do Jô – Jô Soares – Rede Globo de Televisão
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Foto
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Antônio Bezerra

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