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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ENCONTREI NO ADELEIRO FITA COMPLETA DO FILME DE LAMPIÃO FEITO POR BENJAMIN ABRAÃO BOTTO EM 1936/1937.

Por José Mendes Pereira

Sou serralheiro e serralheiro precisa de muitas peças metálicas que poderão ser aproveitadas. Ao amanhecer do dia, pela manhã, bem cedinho, do quintal da minha oficina um sujeito me chama, dizendo-me que tem ferragens para vender. Saí para atender. Era um senhor moreno, baixo, meio tísico, barba e bigode ralos, sujo, sentado quase em cima de um dos cabeçotes da sua carroça, e sobre o lastro dela, uma porção de peças metálicas para reciclagem, e mais outras coisas que não eram metálicas e nem me interessavam.

De cima da carroça o ainda não tão velho homem me diz que tinha uma porção de coisas que eu poderia gostar de uma, duas ou mais peças, algo que com certeza, se eu as compasse, serviriam para aproveitar na serralheria.

Vou até a carroça para verificar o que o velho barbudo levava de tão importante para a minha oficina. Revirando os ferros velhos vi que o velho não estava tentando me enganar, algumas peças eu as aproveitaria para minhas idéias no meio ofício de serralheiro. Entramos em negócio. O velho me diz o preço das peças que eu as separei. Um valor mínimo, porque ferro velho só quem ganha mesmo é o comprador que tem sucata. Cada peça quando entra na sua sucata vira ouro, e ouro de primeira linhagem, ouro do maior Quilate, de valor altíssimo e bom para ele vender.

Preço confirmado passo-lhe o valor em cédulas. O velho inicia carregando para dentro da minha oficina o que eu tinha comprado. Não foram muitos, mas as poucas peças metálicas que as paguei, iriam me garantir um bom lucro. Todas aproveitáveis.

O velho estava transportando a minha mercadoria para dentro da oficina e enquanto ele fazia este trabalho eu resolvo mexer mais um pouco nas peças velhas do velho. E lá em baixo vejo uma lata bastante enferrujada que antes servia para guardar filmes antigos de faroestes. Vi mais outra, mais outra..., e aos poucos, vou retirando uma por uma, e vi que ali eram 4 latas que guardavam filmes antigos mesmo, talvez 30, 40, 50 anos passados ou mais.

Eu não tive interesse de saber qual película de filme estaria ali dentro, mas tinha rolos de fitas cinematográficas. Temendo que o velho desistisse da venda daquelas latas já fui logo pagando-lhe uma boa grana. O velho embolsou o dinheiro e foi embora. Levo as latas redondas para dentro da oficina e tentei abrir uma das delas. Vi fitas de filmes já meio estragadas as partes laterias do possível longa-metragem.

Ao meio dia vou para casa fazer almoço. E antes do amoço, faço projetores manuais, do tipo dos antigos que nós alunos fazíamos quando residíamos na instituição de menores. Com uma lâmpada incandescente furada na parte que enrosca ao suporte, enchi com água para formar grau. Levei ao projetor improvisado e comecei rodar o filme manualmente. E lá, estava muitas partes do filme que o Benjamin Abraão fez com Lampião e seus comandados entre 1936 e 1937.


Não tive mais dúvida. O filme estava completo. Vi cangaceiros correndo atrás de reses para levá-las ao abate no meio da caatinga, carregando água para o coito em jarras de barro, treinando para os combates, e vi cangaceiros sentados com a tristeza estampada nos seus rostos por terem escolhido aquela vida de inferno. 

Vi Benjamin Abraão bebendo água em um cantil, e o vi conversando com Lampião. Vi Maria Bonita manuseando uma máquina de costura, mas não deu para ver o que ela costurava, e a vi servindo água para Lampião, Benjamin e Luiz Pedro. Vi Maria Bonita se preparando para brilhar dentro daquelas matas que escondiam as maldades dos cangaceiros. 


Vi Lampião rezando o ofício do dia para os cangaceiros e vi Lampião almoçando, fazendo raposa e levando para a boca com a mão sem usar colher. Vi Moreno e Durvinha dançando o baile perfumado. 

Durvinha e Moreno

Vi Luiz Pedro e Nenê do Ouro se abraçando. Vi Dadá dando bronca no jovem cangaceiro Corisco. Vi Inacinha e Gato de mãos dadas. Vi o cangaceiro Pancada discutindo com a sua Maria, porque ela arrastava uma das suas asas para um cangaceiro jovem. Vi o pássaro humano Juriti ao lado do seu comandado com jeito de segurança. 

Coiteiro, Juriti e Lampião

Vi Lampião pagando propina a um coiteiro. Vi Maria Bonita moldando uma calcinha sua para depois costurá-la. Vi Cristina traindo o seu companheiro Português com o cangaceiro Gitirana, mas não vi a Lili e nem a Lídia que traíra o seu companheiro Zé Baiano com o cangaceiro Bem-Te-Vi.

Colorida pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Depois de tudo isso fui até ao computador para informar a todos os escritores, pesquisadores estudiosos do cangaço e curiosos, que finalmente, eu havia encontrado uma película do filme de Lampião feito pelo sírio-libanês Benjamin Abraão Botto... 

E depois de alguns minutos que se passara, vi que tudo não passava da minha mente que estava delirando, porque eu havia tomado uma porção de vodka na noite anterior, me deixando totalmente embriagado e sonolento. Era apenas ressaca que me fazia ver o firme de Lampião, pelo menos misturado no meio da sonolência.

Mas ainda há de aparecer película de filme do famoso Lampião gravado pelo Benjamin Abraão Botto. Todos têm o direitos de sonhar talvez o possível.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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