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sábado, 8 de dezembro de 2018

PAIS, LIÇÕES E SAUDADES

*Rangel Alves da Costa

Minha mãe não está mais aqui. Meu pai também não está mais aqui. Muitas mães e muitos pais também não estão mais aqui.
A mão que lhe fez viver, o seio que lhe amamentou para crescer, a palavra que cuidou de seu destino, talvez não esteja mais aqui. As mães infelizmente partem, dão adeus para prantos sem fim.
Aquele que lhe chamou de filho não está mais aqui, a força que tanto lutou pela sua sobrevivência não está mais aqui, os braços que lhe colocaram no coloco talvez não estejam mais aqui. Os pais infelizmente se vão, voam para não mais retornar.
Somente na perda a gente sente a falta que todos fazem. Somente depois das despedidas é que a gente procura reencontrar aquele tempo já impossível de compartilhar. E sempre chegam as dores das indagações, das perguntas interiores, dos lamentos no coração:
Por que não vivi mais as suas presenças, por que não compartilhei mais ao lado deles os bons momentos da vida, por que não me dediquei mais com o amor de filho, por que não tive tempo de demonstrar a verdadeira extensão do amor sentido?
A verdade é que temos nossos pais como eternidade, como presenças constantes ao nosso lado. Jamais imaginamos perdê-los, jamais nos chega a certeza de um adeus a qualquer dia.
E por isso mesmo que sofremos tanto depois da perda e das despedidas. E por isso mesmo que choramos e que padecemos, que queremos a todo custo as suas presenças. Jamais aceitamos totalmente perdê-los.
E por isso mesmo silenciosamente passamos a refletir sobre os dias idos e não devidamente vividos. Como uma estrada boa que vai ficando para trás, de repente queremos novamente reencontrá-la. Mas quando já será tarde demais.
E cada um dizer a si mesmo que desejaria tanto ainda deitar a cabeça no colo e de sua voz ouvir as lições, que queria tanto levar uma xícara de café ao pai sentado em sua cadeira, que desejaria tanto chegar com um presentinho singelo e dizer parabéns minha mãe, que queria tanto avistar seus pais sentados à mesa e com eles dividir cada pedaço de pão.
Mas já impossível, pois já partiram. Fazer o que, então? Não adianta chorar perante os retratos e as recordações. Não adianta querer também morrer pelas ausências. Adianta viver, mesmo na dor, as lições que restaram.
E mostrar a todos o valor de um pai e de uma mãe. E mostrar que num pai e numa mãe nunca estão somente um pai e uma mãe. Mas seres que devemos amar, pessoas que nos fizeram nascer, aqueles que sempre zelaram pelas nossas vidas.
E mostrar a todos que os pais não são apenas aqueles que lhes dão um sobrenome, que abrem a porta quando retornam nas madrugadas, que se preocupam com suas vidas, mas sim a seiva que em tudo os alimenta. E que nos outonos da vida, tal seiva deverá sempre permanecer viva pela certeza do amor ofertado e pelo amor recebido.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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