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domingo, 10 de novembro de 2019

POR QUE OS CÃES DOS CANGACEIROS NÃO ALARMARAM A APROXIMAÇÃO DAS VOLANTES NA MADRUGADA DE 28 DE JULHO DE 1938, NA GROTA DO ANGICO, NO ESTADO DE SERGIPE?

Por José Mendes Pereira

Cão quando treinado geralmente é obediente ao dono. Se o dono o cria desde pequeno e vai dando as coordenadas ele cresce o obedecendo, e se não recebeu ordem do dono para latir jamais fará por espontânea vontade. 

Médico Dr. Leandro Cardoso

O escritor, pesquisador e médico Dr. Leandro Cardoso fala em um dos seus trabalhos sobre os cães dos cangaceiros que não latiram no momento em que os policiais puseram os pés no chão da Grota do Angico, na madrugada de 28 de julho de 1938 no Estado de Sergipe.

Leia parte de um todo do que falou o Dr. Leandro Cardoso:

Vejamos.

"... em primeiro lugar, nos reportaremos ao perfil dos cães. Candeeiro, em entrevista no vídeo de Aderbal Nogueira ao responder os questionamentos de Paulo Gastão, o entrevistador, é taxativo em dizer que Guarani, o cachorro de Lampião, era quieto e não latia, apenas “saía atrás da gente” – SIC. Isso nos força a refletir sobre a maneira de ser, a “personalidade” do cão, provavelmente sinalizando que os cães eram de companhia e não feras nervosas que latiam à aproximação de quem quer que fosse. Se esse fosse o caso, os cangaceiros ficariam expostos, pois cachorro latindo no meio da caatinga é o pior que poderia acontecer ao grupo, uma vez que denunciaria sua localização.

Além do mais, como a madrugada fora de chuvisco e frio muito provavelmente os cães estavam abrigados, ou sob os arbustos ou junto dos donos, sob as tordas. A própria disposição dos grupos naquele leito seco de pedras, dificultaria enormemente o discernimentos dos cães quanto a invasores, pois é sabido que naqueles dias juntaram-se ao bando de Lampião os subgrupos de Zé Sereno, Luís Pedro, o sobrinho de Lampião, José, e os coiteiros Manoel Félix, Pedro de Cândido e Durval. Ou seja: TODOS ESTRANHOS aos cachorros! E ainda faço outro questionamento: como os cães conseguiriam distinguir um soldado de um cangaceiro, uma vez que se vestiam de maneira semelhante, utilizando, inclusive perfumes variados, que confundem o faro canino?

Vamos mais adiante. Ainda desfiando o possível envenenamento de Lampião, eu me questiono: a que horas o Rei do Cangaço teria ingerido o veneno?

Balão, em famosa entrevista, afirma que foram dormir por volta das 22h. Supondo que Lampião tenha jantado antes de dormir - no caso de envenenamento –, deveria ter ingerido algo tóxico nessa ocasião e, portanto, morrido durante a madrugada. No entanto, deparamos-nos com o Capitão Virgulino rezando o Ofício de Nossa Senhora logo cedo (depoimentos de Cila, Candeeiro, Zé Sereno e Balão). Cila, com preguiça, não havia se levantado para fazer a oração. Já Balão, após a reza, voltou a deitar-se, pois ainda era muito cedo e fazia frio. Lampião tomou o café feito pelo cangaceiro Vila Nova e, conversando com Luís Pedro e Sereno, ordena que Amoroso vá buscar água para o café dos outros, ocasião em que o tiroteio é deflagrado.

Aí, então, eu volto a perguntar: a que horas Lampião foi envenenado? Após o “jantar” da noite anterior, a “próxima” provável refeição do Rei do Cangaço, onde poderia ter ingerido algum veneno, seria o café feito e tomado com Vila Nova. No entanto, este cangaceiro não morreu, nem de veneno, nem de tiro, pois o reencontramos por ocasião das entregas, bem de saúde, alguns meses depois.

Ao analisarmos os principais venenos que poderiam ter sido utilizados contra os cangaceiros, e o quadro clínico decorrente de sua ação no organismo, é que realmente temos a certeza de que os cangaceiros no Angico não foram envenenados.

Estricnina: é um alcalóide extremamente tóxico, e uma das substâncias mais amargas que existem; seu gosto é percebido em concentrações da ordem de uma parte por milhão (1ppm). O quadro clínico da intoxicação pela estricnina é bastante exuberante, incluindo pródromos de câimbras e dor; rigidez dorsal e cervical; rigidez de extremidades; agitação e ansiedade; hipertonia; convulsões (com o paciente acordado e lúcido); opistótono (espécie de contratura involuntária da musculatura paravetebral, deixando o corpo em forma de arco); “riso sardônico”; paralisia respiratória e parada cardiorespiratória. 

, não há qualquer evidência de posições de hipertonia ou espasmos da musculatura facial, sugerindo o “riso sardônico”, muito menos relatos do sobreviventes ou da polícia testemunhando crises convulsivas ou contrações involuntárias generalizadas, afastando a possibilidade do seu uso no episódio do Angico.

...".


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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