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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

A FAMÍLIA CARVALHO DA SERRA NEGRA VISITA O MEMORIAL

*Rangel Alves da Costa

Recentemente, mais precisamente ao final do mês de dezembro passado, expressivos membros da Família Carvalho, da baiana Serra Negra (Pedro Alexandre), estiveram visitando o Memorial Alcino Alves Costa, na sergipana e sertaneja Poço Redondo. Contudo, como se uma família estivesse reencontrando seu próprio lar, vez que Poço Redondo e Serra Negra são unidos e enlaçados por raízes profundas, até mesmo familiares.
De forma mais contundente no passado, a verdade é que como se não existissem limites entre as duas localidades. Para uma ideia da influência de Serra Negra sobre as terras sergipanas, somente os irmãos João Maria de Carvalho e Piduca Alexandre, filhos de um potentado senhor chamado Pedro Alexandre (que acabou dando nome ao município baiano), eram donos de mais de vinte grandes fazendas em Poço Redondo, e todas imensas, verdadeiros latifúndios.
Também foi de pujança a influência política e de proteção do Coronel João Maria de Carvalho na vida e destinos do sertão sergipano. Numa época em que o caçador de cangaceiros e perseguidor de inocentes, o famoso comandante Zé Rufino (com quartel baseado em Serra Negra), prometia perseguir e dizimar os poço-redondenses tidos como coiteiros do bando de Lampião, levantou-se a voz do coronel João Maria simplesmente para dizer: “Se na estrada apontar alguma pessoa vinda de Poço Redondo, então faça o favor de fazer de conta que está indo pra Jeremoabo. Não quero nem admito que incomode um só sergipano que venha em minha direção”.
Ora, Zé Rufino, comendo na mão e lambendo as botas do coronel baiano (que também era seu compadre e fiel cumpridor de suas ordenanças), nada tinha a fazer senão baixar a cabeça e esquecer os seus ódios. E acentuava o coronel: “Mexeu com gente de Poço Redondo está mexendo comigo. Entonce é melhor nem se meter a besta”. Durante o período de maior incidência cangaceira em Poço Redondo e o governo estadual ordenava que as famílias deixassem seus lares como forma de se protegerem de possíveis ataques ou confrontos entre bandoleiros e volantes, era em direção a Serra Negra que a maioria seguia. Assim aconteceu com meus avôs Ermerindo e Emeliana. E muitas famílias e pessoas continuaram em terras baianas.


E assim as amizades eram firmadas e fortalecidas. Tanto assim que de repente, em verdadeira comitiva montada em cavalaria de ponta, pelos caminhos de Poço Redondo despontava o coronel baiano em direção à casa de algum amigo. Chegava, desmontava e se aboletava em rede para receber as visitas. E dali mesmo ordenava a vida naquele mundão sertanejo. Sua estadia preferencial era na casa de Zé de Lola e Dona Quininha, ainda que por todo lugar encontrasse uma porta acolhedora, principalmente pelo fato de que a maioria dos vaqueiros da região lidava ou em suas ou nas propriedades de seu irmão Piduca.
Tempos após foi a vez de dois primos baianos abraçarem Poço Redondo como terra amada: Heraldo de Carvalho, filho do coronel João Maria, e Evaldo de Carvalho, sobrinho deste. Duas maravilhosas figuras humanas que deixaram até lendas em suas visitas. Dois famosos e prestigiados políticos (Heraldo e Evaldo foram prefeitos muitas vezes de Serra Negra), mas que chegavam a Poço Redondo e se comportavam apenas como amigos e festeiros.
A casa de Bastião Joaquim era a porteira aberta e acolhedora para os primos baianos. O filho do Coronel João Maria, ou Dr. Heraldo, como sempre era chamado, trazia sempre seu cavalo branco, de valor afortunado, nas suas estadias sergipanas. Montado no seu portentoso, então desfilava pelas ruas da cidade em época de festas, principalmente da Festa de Agosto. E certa feita cismou de entrar no bar de Delino, durante um forró lotado de gente, e entrou. Ora, o povo sertanejo já conhecia demais aquele jeito festeiro de ser e tudo ficou na normalidade, com o cavalo ao lado do balcão e o seu dono mandando descer uma garrafa de uísque e cervejada para quem quisesse beber.
Desse modo, os Carvalho da Serra Negra sempre foram como filhos e irmãos de Poço Redondo. Não somente a família como toda a população. Tem gente de Poço Redondo que ama Serra Negra na mesma medida, e vice-versa. As velhas raízes que por lá continuam, também são raízes espalhadas nos sertões sergipanos. As novas raízes vingadas, gestadas daquele sangue de luta, continuam abraçando e amando Poço Redondo, principalmente um sobrinho-neto do velho coronel baiano: Orlando de Carvalho.
Este reformou a casa antiga de seu pai João de Ioiô em Curralinho e quase todo fim de semana está se espelhando nas águas do rio, sempre ao lado de sua esposa, a já baiana e também sergipana Maria José. Outro irmão de Orlando, o prestigiado Zé Maria da Serra Negra, juntamente com sua esposa e prima Ana Margareth de Carvalho (filha de Heraldo de Carvalho) possui a mesma veneração e admiração pelas terras sergipanas.
Os que de Poço Redondo chegam a Serra Negra reconhecem em profundidade a força do entrelaçamento dos laços. Abraços apertados, sorrisos largos, mesa farta, gestos sem fim de amizade. E os de Poço Redondo também tudo fazem para acolher bem os amigos. Na foto abaixo, a demonstração do prazer sentido durante uma visita feita pela Família Carvalho ao Memorial Alcino Alves Costa.
No retrato tirado como recordação, avistam-se os irmãos Orlando e Zé Maria e suas esposas Maria José e Ana Margareth. E o meu prazer incontido em sempre recebê-los na casa de Alcino e Dona Peta, na Casa de Poço Redondo.

Escritor
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