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terça-feira, 10 de novembro de 2020

1928: SUPOSTO ACORDO SECRETO ENTRE LAMPIÃO E GOVERNO DE PE, LEVA O BANDO A MIGRAR PARA BAHIA

Por João de Sousa Costa
Lampião na Ribeira do Pombal, foto Alcides Fraga. (da esquerda para direita: Lampião, Ezequiel Ferreira, Virgínio Fortunato, Luiz Pedro, Mariano Laurindo Granja, Corisco, Mergulhão e Arvoredo)

Em 1927, após a fracassada invasão de Mossoró, uma cidade que tinha até banco, Virgulino Ferreira da Silva é alvo de implacável perseguição nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, estado onde vigora a “Lei do Diabo” (prisões de coiteiros e coronéis); no ano seguinte, a caçada prossegue e em 21 de agosto de 1928, Lampião deixa tudo para trás, após uma marcha sangrenta de 400 Km cruza o Rio São Francisco e adentra na Bahia – “para dar um tempo, recompor o bando”.

A estratégia de “estrangular” o poio que Lampião e demais bandoleiros tinham no Sertão dera certo. Ao mesmo tempo, estavam em curso ações secretas, porque coronéis também eram classe dominante, demandando conversações e, uma delas, a cargo de um primo legítimo do Capitão Virgulino Ferreira.

Sebastião Paulo Lopes, conhecido como Sebasto, era esse o primo de Lampião, também “homem das armas”; torna-se o portador de uma mensagem do chefe de polícia, Arlindo Rocha: Lampião deve deixar Pernambuco em paz.

O escritor Frederico Pernambucano de Mello, narra esses desdobramentos secretos entre as forças da legalidade e Lampião.

Sebasto – o negociador, que se faz acompanhar de uma pessoa estranha, encontra-se com o primo no Distrito de Pão de Açúcar, em Alagoas, para um “papo reto”.

- Já estava informado de que você viria em meu socairo” (ajuda), foi a saudação Lampião ao primo Sebasto. Este, não perde tempo.

Apresenta a Lampião a proposta irrecusável, com duas alternativas: se entregar e seguir preso para Recife com garantias ou deixar Pernambuco.

Uma proposta que beneficiaria a todos, tanto ao governo, aos coronéis, à própria polícia como aos bandoleiros, inclusive Sebasto, também perseguido pela polícia por crimes praticados.

Virgulino não perde tempo na resposta.

- Vocês não estão vendo que ainda não nasceu macaco pra me levar preso para Cadeia Nova, no Recife! Pra não piorar sua situação, Sebasto, volte e diga que não me encontrou”.

Ato seguinte, Lampião ameaça matar o acompanhante de Sabasto para não deixar rastro. É impedido pelo primo.

- Você é besta, Virgulino? Pondere bem na sua resposta. Reflita bem. Você sabe que homem que está comigo não apanha nem morre. A não ser que morra tudinho”, disse Sabasto, revelando que o cabra que o acompanhava era de confiança.

Mais confabulações, ponderações e no dia seguinte na despedida, Lampião deixa uma senha.

- Primo, vou pensar na proposta, mas não garanto nada, disse Lampião

E depois desse encontro seguiu para uma visita a uma irmã, em Pedra de Delmiro, para uma despedida.

O que aconteceu depois desse encontro de primos, surge a novidade que Frederico P. de Melo, reproduziu em livro magistral, em forma de telegrama.

Floresta, 21 de agosto de 1928

Doutor Chefe de Polícia – Recife

Comunico vossência que bandido Lampião, companhia cinco comparsas, bastante municiados, dia 19 corrente atravessou o rio São Francisco, proximidades de Sobrado, município de Tacaratu, destino Estado da Bahia.

Saudações: Augusto Ferraz ´Delegado de Polícia.

Lampião desembarcou em solo baiano acompanhado do seu irmão Ezequiel, o Ponto Fino; do cunhado Virgínio Fortunato, o Moderno; do homem de confiança, Luiz Pedro; de Mariano Granja e Mergulhão.

O reduzido bando iniciava em solo baiano uma nova trajetória e passaria por mudanças. Seu ingresso na vila Ribeira do Pombal, foi registrado por Alcides Fraga, alfaiate do lugar, com sua máquina fotográfica.

A foto é histórica, mas significou o inferno para o seu autor, Alcides Fraga, que passou a ser perseguido pela polícia e precisou desaparecer por um bom tempo.

Tempos depois, em confidência a amigos, Lampião concorda que foi empurrado para deixar Pernambuco, mas que não chegou a Bahia “puxando uma cachorra”.

- Não cheguei a Bahia esbagaçado, levava 300 contos de réis, fora os ouros...

Mas o que é que a Bahia tem?

É simplesmente um novo mundo de oportunidades e de transformações. Chegando a Bahia, Lampião ocupa seu tempo em bailes, articulações para construir uma rede coiteiros, reagrupar o bando com a volta de Corisco e, até dar uma repaginação no cangaço, quando conhece Maria de Déa.

João Costa. Acesse: blogdojoaocosta.com.br

Fonte de consulta “Apagando Lampião”, de Frederico Pernambucano de Mello.

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