*Rangel Alves da Costa
Enquanto mundo, o mundo cala, aceita, consente. Contudo, é a omissão na verdade que faz com que o imprestável prospere e o mal tenha garantida semeadura. Mas tomei tuas palavras sem medo, e para expressar realidades que se ocultam nos cortinados sociais e nas máscaras da aceitação por conveniência. Creio que se tivesse coragem diria a verdade sobre a justiça, sobre os juízes, sobre o direito, sobre o aparato judicial. Que vergonha tudo isso! Sentenças compradas, sentenças vendidas, julgamentos infames, decisões baseadas em leis inexistentes, liminares protegendo o crime e os criminosos, togas enlameadas, órgãos julgadores putrefatos e endeusados bandidos. Ora, mas não é a justiça que condena o ladrão de galinha e deixa em liberdade o ladrão de milhões? Ora, não é a justiça que rasga as leis no instinto de proteger os protegidos e endinheirados? É esta mesma justiça que encarecera e depois esquece o pobre, do preto, do mero acusado, mas deixa solto o bandido do alto escalão. A justiça que é uma fábrica de marginais, de reclusos apinhados em lixões, mas que depois supõem uma ressocialização. Ademais, a lei só é rigidamente aplicada quando é para condenar o pobre, o preto, o já condenado pelo próprio mundo. Diferente ocorre no julgamento do poderoso. Então todo um vergonhoso aparato começa a surgir. Surge a hermenêutica, a analogia, a discricionariedade da lei, a jurisprudência forjada, o livre convencimento do julgador, etc., etc. E tudo para encontrar brechas para dizer que o crime não foi crime. E principalmente para dizer que o acusado até santo é.
Então, mundo, são coisas assim que não costumo engolir, ainda que eu saiba que são poucos os que pensam iguais a mim. Mas são poucos os que encaram a realidade com os olhos e a voz da verdade. A muitos, ao invés da verdade, o que lhes alimenta parece ser somente a omissão, a ideologia barata, a mentira, o fanatismo. Um povo que gosta de ser cuspido não é povo, mas uma escória. Uma gente que gosta de apanhar na cara não é gente, mas massa de manobra. Uma sociedade que elege o modismo, a safadeza e o imprestável, como modo de condução de suas vidas, não é sociedade, e sim um deplorável bordel. Diógenes, o filósofo que vivia procurando um honesto com uma lanterna, jamais encontraria seu objetivo. Por outro lado, demasiado fácil encontrar os antros de roubalheira, de corrupção, de desonestidade. Entanto isso, os humilhados continuam aplaudindo seus algozes.
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