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domingo, 14 de agosto de 2022

TIRO DE GUERRA DE MOSSORÓ – PARTE III

Por: José Mendes Pereira

 Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Quem está de fora pensa que prestar serviços militares às Forças Armadas é moleza. Mas na verdade não é. Os sofrimentos são terríveis, cobranças por qualquer erro; uma palavra ou resposta dada aos superiores, é preciso que seja calculada o tamanho e seu peso, pois poderá pagar caro por isso. 

Você meu amigo Raimundo, foi um que não media as suas palavras, e por isso, sempre estava escalado para faxinar.

No dia 7 de Setembro de 1970,  ali, no meio das Ruas de Mossoró, nós estávamos desfilando para a população nos aplaudir. O sol escaldante nos deixou com a pele frágil no meio daquela multidão.

Passamos alguns dias treinando, o que deveríamos fazer no momento da nossa entrada às ruas; quem iria seguir à frente, puxando as três turmas de atiradores; as exigências feitas pelos sargentos, às advertências para conservarmos os passos sem erros; as fardas limpas e bem passadas; os coturnos engraxados e reparados pelo sapateiro, batendo os pregos...; os gorros postos às cabeças um pouco de lado, cintos com as fivelas brilhando. Estes cuidados teriam que ser cumpridos, e ai daquele que chegasse ao TG sem estas exigências.

Para o reparo geral das nossas fardas, muito agradecemos à saudosa dona Maria de Lourdes Medeiros (aqui abro um parêntese meu amigo Raimundo Feliciano, para lhe comunicar que hoje, às 10 horas desta manhã, recebi informação que dona Maria de Lourdes de Medeiros faleceu ontem em Mossoró, e que Deus a tenha em um bom lugar), zeladora da Casa de Menores Mário Negócio, que sempre teve o cuidado de examinar todo o nosso uniforme, costurando aqui e ali, porque nós vestíamos fardamentos usados pelas tropas de Natal, e geralmente já estavam bastante surrados.

Com experiência da sofrida marcha de 7 de Setembro, fiquei tramando um jeito de me livrar do 30 de Setembro, sendo que este só é comemorado  em Mossoró.

Já bem próximo a esta comemoração, isto é 30 de Setembro, fui até ao sítio do meu pai, e lá, casualmente, fui atingido na perna (canela), por uma ponta de pau, árvore conhecida por estrepa cavalo, ficando um pedacinho alojado na carne, e até supurava um pouco.

Foto feita por Aldeir Carlos da Silva

Como eu planejava não marchar naquele dia, não fiz tratamento e nem procurei um esculápio para consultá-lo, porque, se eu tentasse tratar o ferimento, com certeza, o sargento Gumercindo não me liberaria daquela sofrida marcha.

Mas me enganei por completo. Um dia antes, eu fui até à presença do Sargento Gumercindo, para lhe apresentar o ferimento na minha perna. Mais o resultado foi negativo. Não me dispensava de jeito nenhum da marcha. 

E lá, verbalmente ele me bateu forte, chamando-me de relaxado, manhoso, desastrado, preguiçoso, que eu deveria ter cuidado do ferimento antes, que isso sempre acontecia com certos atiradores, tentando ludibriá-los. “- Tem que marchar, do contrário, você irá para a tropa de Natal”.

No dia seguinte, lá eu estava marchando com a tropa. O sargento tinha razão. O ferimento na minha perna não era  tão grave assim. Era manha mesmo. Todos os patenteados tem um pouco de psicologia.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

Fonte:

http://minhasimpleshistorias.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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