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domingo, 16 de abril de 2023

MEDICINA PREVENTIVA E SAÚDE MENTAL EM CABEDELO

Por Epitácio de Andrade Filho


Medicina Preventiva e Saúde Mental em Cabedelo

“E na barca de Cabedelo guardar o cabelo” (Filá- Chico César, 1996)

Com a aprovação de sanitaristas e profissionais de saúde mental no concurso público, realizado em 3 de outubro 1993, foi possível implantar serviços de medicina preventiva e desenvolver as primeiras ações para se efetivar a  Reforma Psiquiátrica em Cabedelo.

Cabedelo é uma cidade portuária, litorânea e turística, localizada na região metropolitana da capital paraibana, distante 18 km de João Pessoa.

A escolha de um verso da canção “Filá”, do paraibano Chico César, para epigrafar esse texto, é proposital. Sendo filá um chapéu utilizado na indumentária dos trabalhos religiosos de matriz africana, teria uma simbologia especial para representar uma das estratégias a ser encampadas pelos novos nomeados, o enfrentamento ao preconceito racial e outras discriminações sociais.

As características geográficas, culturais e econômicas deste município praiano impactam diretamente no perfil epidemiológico de sua população, estimada na época em cerca de 65 mil habitantes.

De março de 1994 a maio de 1999, ocorreu a implantação de serviços como: vigilância sanitária e epidemiológica, além da rede de unidades básicas de saúde. Inicialmente, o médico sanitarista Epitácio Andrade ficou responsável pela vigilância epidemiológica, quando foi implantado o programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e HIV-AIDS, sendo realizado anualmente o Dezembro Vermelho ( mês de atividades dedicadas à prevenção e controle de DST-AIDS/HIV). Neste período, foi constatado que o município de Cabedelo tinha uma das maiores incidências (casos novos) da Paraíba e grande parte da transmissão se dava devido a uso de drogas injetáveis, o que justificou a adoção de medidas de Redução de Danos, e outra parte estava relacionada às práticas sexuais inseguras.

A psicóloga Leidaci Candeia foi designada para a Saúde Escolar. Em 1994, com a conclusão de sua residência médica em psiquiatria, Epitácio Andrade bpassou a desenvolver também atividades de um programa de saúde mental no Centro Clínico de Cabedelo.

De 21 a 23 de fevereiro de 1997, foi realizado no Teatro Santa Catarina o I Seminário sobre drogas Psicoativas de Cabedelo. Este evento contou com a presença do criminólogo alemão Sebastian Shereer, diretor do Instituto de Criminologia de Hamburgo – Alemanha, um dos maiores nomes mundiais da formulação antiproibicionista, que proferiu a conferência de abertura: “ Os Fatores Psicoativos nas Relações Humanas através dos Tempos”. O êxito da estada do professor Shereer em Cabedelo motivou o convite para estender sua conferência às terras potiguares, o que veio acontecer no ano seguinte.

Igualmente relevante foi a participação do deputado ambientalista Tota Agra, curador de uma exposição de produtos derivados do cânhamo (planta macho da maconha), cuja comercialização é permitida nos cofee shops da Holanda.

Uma Mesa Redonda sobre experiências terapêutico-reabilitativas na dependência química fez parte da programação.

A partir de uma iniciativa popular do diretor de teatro e líder comunitário João Torquato Filho em parceira com o Movimento de Luta Antimanicomial(PB e RN) se promoveu o evento: “Loucos por Cidadania”, cujo objetivo principal foi desencadear a implantação do CAPS/Cabedelo. “Loucos por Cidadania” contou com a participação do conselheiro federal de medicina Nilson de Moura Fé, psiquiatra cearense.

Em fevereiro de 1995, a presidente do Conselho Municipal de Saúde criou a comissão organizadora da 1ª Conferência Municipal de Saúde. Entre os membros estavam: A enfermeira Ísis Sarmento, o médico Antônio de Pádua Quirino ramalho, o psiquiatra sanitarista Epitácio Andrade, o senhor João Ribeiro, a farmacêutica Ione Ribeiro, e o técnico-administrativo Alexsandro Batista.

No final dos anos 90, a maioria da equipe decidiu seguir carreira profissional noutras cidades, deixando o legado desse exitoso experimento de saúde pública na cidade-portuária da Paraíba.

A memória do líder estudantil cabedelense João Roberto Borges de Souza (Acadêmico de medicina morto pela Ditadura Militar aos 22 anos, em 1969) serviu de inspiração para essa experiência efêmera, intensa e revolucionária na península Cabedelo.













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