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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

VENTANIA NA JANELA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

VENTANIA NA JANELA
Era tarde, quase entardecer, com folhagens balançando lá fora, um sopro alentoso que vinha dos lados das montanhas adiante. Um tempo bom, agradável, sem nuvens carregadas ou nada que indicasse que mais tarde a noite não seria do luar e das estrelas.
De repente a revoada se espalhou pelo ar, o varal com as roupas já secas parecia se desprendendo das estacas, os panos balançavam velozmente e muitas peças subiram pelo espaço. Era um vento forte, uma inesperada ventania que chegava sedenta e voraz.
A mocinha que estava na janela recuou rapidamente, porém sem tempo e sem força para devidamente fechá-la. Praticamente se viu jogada no meio do quarto, com os cabelos querendo saltar da cabeça e a saia deixando as coxas juvenis descobertas.
Sentia apenas solavancos na janela, que abria e fechava numa velocidade estonteante. Não demorou muito e o que parecia um redemoinho foi perdendo sua força, mas sem que a ventania deixasse de soprar com intensidade. Mas agora, como se ajeitando os lados da janela com as mãos, a deixava completamente aberta, fazendo com que um fragor açoitante entrasse e quisesse remexer, revirar tudo.
Somente na manhã seguinte a mocinha descobriria o quanto aquela inesperada ventania havia transformado o seu quarto, seu ambiente de entristecimento e saudade e, principalmente, sua vida. A janela se batendo, abrindo e fechando, imperceptivelmente havia deixado entrar muitas coisas e levado muitas outras que se avolumavam tanto no lugar como na sua dona.
Ora, há quanto tempo a mocinha queria se refazer, criar outro mundo ao seu redor, viver outra vida? Estava cansada daquele cotidiano de janela aberta e ela no umbral olhando o horizonte, imaginando coisas, sonhando com o impossível e sofrendo demais. Se olhava para o lado de dentro era a mesma coisa, com retratos, fotografias, baús, escritos e pequenas coisas que se espalhavam dolorosamente.
Não suportava mais aquela vida de dor, padecimento, tristeza. Era como se deitasse para o pesadelo, acordasse para a solidão, vivesse para um mundo que não merecia. Sabia que não suportaria continuar assim, que teria de sair daquela janela, fechá-la, procurar caminhos, enfrentar a realidade, ser outra pessoa.
Já não era mais menina, já havia passado sua fase de inocência, já sabia muito bem o que queria do seu destino. Entretanto, era como se uma voz lhe chegasse dizendo que fosse, entrasse e fechasse a porta do quarto, se entristecesse com o seu mundo de solidão e depois, tentando fugir do impossível, fingindo um alento, fosse até a janela que uma paisagem mais triste ainda lhe esperaria.
Janela aberta, cabelo ao vento, olhos entristecidos, e o resto da tarde vendo folhagens secas sendo carregadas pelo ar, flores rasteiras e solitárias ao redor, um passarinho ou outro que voava sem pressa, um zunido leve de um tempo que parecia cantar uma melodia muito triste. Não merecia uma paisagem assim, sem nada de novo que surgisse para alegrar o coração, acordar o sorriso, fazer despertar.
E veio aquela ventania entrando pela janela, revirando e espalhando tudo, fazendo da mesmice redemoinho e mais tarde assentando uma vida de esperança, de alegria e contentamento. E pelo chão ficaram espatifados os motivos tristes, as recordações dolorosas, as marcas que só serviam para o padecimento.
E a ventania escancarou a janela e fez entrar a luz, novos ares, um vento flamejante bom que se instalou por todos os cantos e fez expulsar as fuligens antigas, as traças dos aborrecimentos, a poeira da solidão. E que luz, e que brilho, e que vida nova no quarto, nas coisas do quarto, pelo lado de dentro e fora da janela.
E a ventania que fez bailar o cabelo da menina também trouxe outro ar no seu rosto, no seu semblante, no seu corpo. E em seguida ela pulou a janela e foi dançar lá fora uma valsa linda, acompanhada de uma doce melodia que somente ela ouvia.

Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

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