Seguidores

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO

Por: Clerisvaldo B. Chagas, Crônica Nº 866
Clerisvaldo B. Chagas

CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO

O sertanejo comum ingressava no bando lampiônico por diversos motivos. Entre eles estavam à admiração romântica pela aventura, a perseguição policial, a vingança e vários outros. Entre esses motivos, destacamos dois: o convite ─ dividido em moderado e pressionado ─ e o brutal. O convite moderado era feito a alguém, quando o momento estava tranquilo no bando, em uma passagem, uma festa, um pouso, nas ocasiões de menos bebida e bom humor.

Cangaço: grupo de Virgínio. (Foto: Wikimédia Commons).

A recusa, por alguma razão, não tinha consequência nenhuma. O convite pressionado acontecia quando era enxergado grande valor no convidado, muitas vezes pelo simples olhar avaliativo do cangaceiro. Recusado o convite, os do bando não se conformavam e ficavam pressionando onde reencontrasse a pessoa. O convidado dessa maneira tinha apenas três opções: mudar-se do sertão, ingressar nas forças policias ou partir com os bandidos. Caso não usasse uma delas, a morte era quase sempre questões de dias ou meses, dependendo da sorte. Já o convite brutal, acontecia mais quando o bando estava reduzido e precisava renovar as suas fileiras. Rapazes encontrados na caatinga, como vaqueiros, agricultores, boiadeiros, tiradores de mel, eram levados bruscamente de acordo com o que o povo chama de “ir na marra”.

Uma vez dentro do bando, muito difícil era abandoná-lo. Logo nos primeiros dias, Lampião ou os chefes de subgrupos jogavam o recém-chegado numa armadilha. Teria que aguentar com bravura um fogo cerrado e também matar friamente algum prisioneiro. Refugar seria morrer em lugar da vítima. Sendo aprovado nos testes, a notícia chegaria aos ouvidos do povo e da polícia, não deixando a alternativa de fuga do bando, pois assim o indivíduo já arranjara inimigo lá fora. Todos os assassinos dizem que o pior assassinato é o primeiro. Daí em diante, apaga-se a consciência de matar e vicia. Como deixar o bando marcado pela sociedade? Desertando, haveria o perigo de morrer lá fora pelos familiares das vítimas e pela polícia. Assim, nesse emaranhado de cipós de ferro, continuava o novato cangaceiro sua vida nômade, sem perspectiva alguma de liberdade. Não foi somente o cabra, o cangaceiro anônimo que enfrentou essa situação. Muita gente que chegou depois ao estado-maior também iniciou assim.

As quadrilhas de traficantes usam artifícios parecidos. Não é fácil para o sujeito deixar a facção aonde se meteu. E as drogas vão deixando os seus rastros de sangue como as hostes cangaceiras. Hoje como ontem, CIPÓS DE FERRO DO CANGAÇO.



Nenhum comentário:

Postar um comentário