João da Mata Costa
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A terra é exsicada
E ele o nosso rapsodo
O chão partido curtido
Por cactáceas
Ser tão forte de
Beatos e cangaceiros
Milagres de Santa Luzia
Cantadores, sanfonas, violeiros
E Juazeiros
Salve meu Sertão
Luiz
Lua
Gonzaga
de Pai a Fio e Vô
respeita
Januário
Gonzagão
Gonzaguinha
Câmara Cascudo
A relação do polígrafo Câmara
Cascudo com a música dos vaqueiros, modinheiros e cantadores populares é
visceral e perpassa toda a sua obra. Um pianeiro tocador de
ouvido. Essa sua faceta foi explorada inicialmente pelo escritor
potiguar e tocador de violino Gumercindo Saraiva, que escreveu um livro
sobre o musicólogo Cascudo; “Cascudo um Musicólogo Desconhecido” (1969).
Gumercindo também foi compositor e compôs com o poeta vaqueiro Zé Praxedi a
modinha “Minha Natal”. Zé Praxedi escreveu em versos a primeira
biografia do Rei do Baião. O livro pioneiro do poeta norte-rio-grandense
foi publicado há 60 anos e reeditado em edição facsimilar pelo Sebo Vermelho de
Natal – RN, em 2012. O livro “Luiz Gonzaga e outras poesias” do Zé
Praxedi teve o prefácio de Luiz Gonzaga e apoio do
vice-presidente da República, o potiguar João Café Filho. Foi publicada pela
Continental Artes Gráficas, de São Paulo - SP, em 1952. José Praxedes
Barreto – o Zé Praxedi - nasceu na Fazenda Espinheiro, Angicos (RN), em 15 de
novembro de 1916 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de março de 1982.
Compositor, intérprete, escritor, poeta, radialista, cordelista e
jornalista. Atuou muito tempo na famosa Rádio Nacional, onde
apresentava o programa “Sertão é assim”, título de um outro livro escrito
com sua pena matuta.
Cascudo escreveu: “o que ele
disser é diretamente nascido das melhores águas e da mais pura das fontes
populares. Está impregnado no sentido, na essência, do sangue da tradição
popularesca.”
O livro do Poeta Vaqueiro é
composto de vários poemas, com destaque para “Luiz Gonzaga.”
"Meu nome é Luiz Gonzaga,
Não sei se sou fraco ou forte,
Só sei que graças a Deus,
Té pra nascer tive sorte,
Após nasci em Pernambuco
Fanmôso Leão do Norte.
Nas terras de Novo Exu,
Da fasenda Caiçara,
Im novecentos e dôze,
Viu o mundo a minha cara.
No dia de Santa Luzia,
Purisso é qui sô Luiz,
No mêz qui Cristo nasceu,
Purisso qui sô feliz.”
O SERTÃO É ELE
A relação de Luis da Câmara
Cascudo com o Rei do Baião, Luiz Gonzaga nascido no dia de Santa Luzia, não
ficou só nesse registro antológico. Em 1973, o musicólogo Cascudo escreve
um texto primoroso para a contracapa do LP “Luiz Gonzaga”.
Luiz Gonzaga é uma legitimidade
do sertão. Sua inspiração mantém as características do ambiente poderoso e
simples, bravio e natural, onde viveu. Não imita. Não repete. Não pisa rastro
de nome aclamado. É ele mesmo, sozinho, inteiro, solitário, povoando os
arranha-céus com as figuras imortais do Nordeste, ardente e sedutor, fazendo
florir cardeiros e mandacarus levantando o mormaço dos tabuleiros através das
cidades tumultuosas onde permanece.
Fui menino do Sertão, 1909 –
1913. Tenho na memória o timbre das grandes vozes infatigáveis, ímpeto das
guerrilhas no açodamento dos “crescendo”, nasalamente infalível na modulação
para fechar na dominante. Sertão sem rodovias, luz elétrica, gasolina.
vaqueiros, cantadores, romeiros do São Francisco do Canindé, Juazeiro, Santa
Rita dos Impossíveis. Poeira heroica das feiras e vaquejadas. Viola do rojão de
dois- por- quatro, sanfonas de oito baixos, pobreza milionária na emoção
irradiante, inexplicável alegria das coisas suficientes.
Luiz Gonzaga é um documento da
Cultura Popular. Autoridade da lembrança e idoneidade da convivência. A
paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta.
Tempos os idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer
quando ele põe os dedos no teclado da sanfona do feitiço e da recordação.
Não posso compará-lo a ninguém.
Luiz Gonzaga é uma coordenada humana que as ventanias urbanas fazem vibrar sem
modificação. Não é retentiva, artificialismo, sabedoria de recursos mentais "aproveitando” o Sertão. Ele próprio é a fonte, cabeceira e nascente de suas
criações. SERTÃO É ELE, como a Bretanha está no bretão e a Provença em
Mistra. Bem logicamente, a sua terra muda a fisionomia pela mão de ferro
do Progresso. Técnicas, maquinas, combustíveis, sonhos novos. Mas, pelo lado de
dentro, o Homem não muda, como a sucessiva aparelhagem em serviço do seu
interesse. Luiz Gonzaga, presta-nos, a nós, devotos das permanentes culturas
brasileiras, a colaboração sem preço de uma informação viva, pessoal, humana.
Sanfoneiro do Sertão, brasileiro
do Brasil, os que amam terra e gente nativa te saúdam na hora em que tua voz se
eleva, vivendo a sensibilidade profunda da tu´alma sertaneja ...
Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Kydelmir Dantas
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