Por: José Romero Araújo Cardoso
Considerações Biográficas sobre
Dona Maria Joaquina de Souza (Maria Correia),
a parteira das mulheres pobres de Mossoró (RN)
Dona Maria Joaquina de Souza (Maria
Correia) nasceu no Sítio Carmo, município de Mossoró (RN), no dia quatro (04)
de Dezembro (12) de 1927, falecendo na Capital do Oeste Potiguar aos cinco (05)
de Fevereiro (02) de 2007.
Residiu por longos anos na Rua
Venceslau Braz, número 1628, Bairro Barrocas. Foi casada com o senhor Antônio
Caetano de Souza, também natural de Mossoró (RN), nascido na comunidade rural
de Jurema seca.
Ambos conheciam profundamente sobre
as condições de vida do povo mossoroense, sobretudo daquele que habita a zona
rural, com sua falta de perspectiva e vítima da ausência do Estado quanto a
elaboração de políticas públicas que possam beneficiar infortunados, devido ao
favorecimento de poucos.
O casal teve seis filhos: Francisco
Antônio de Souza (falecido), Raimunda de Souza (falecida), Manuel Francisco de
Melo Neto (falecido no dia dez (10) de Setembro (09) de 2002, com 49 anos),
Antônia Maria de Souza(nascida no dia vinte e nove (29) de Janeiro (01) de
1957), Maria das Graças de Souza (falecida) e José Maria de Souza, tendo adotado ainda uma criança do gênero feminino,
a qual deu o nome de Maria Leite de Souza.
As informações prestadas a fim de
compor a presente contribuição biográfica de Dona Maria Joaquina de Souza
(Maria Correia) foram fornecidas pela Sra. Antônia Maria de Souza, pelo esposo
desta, de nome Gutemberg Oliveira de Souza (nascido no dia dezenove (19) de
Fevereiro (02) de 1950) e pelos netos Salizete Oliveira de Souza (nascida no
dia cinco (05) de Março (03) de 1976) e Vandemberg Oliveira de Souza (nascido
no dia quatro (04) de Junho (06) de 1982), residentes na Rua Venceslau Braz,
Bairro Barrocas, Mossoró (RN), bem próximo da casa onde morou a Sra. Maria
Joaquina de Souza (Maria Correia).
Cópias de documentos pessoais da Sra.
Maria Joaquina de Souza (Maria Correia) foram fornecidas pelos familiares: O
número do RG é 200.085. O CPF é 062964674-00. O título eleitoral traz o número
de inscrição 74548516/60 – Zona 034 – Seção 0013 – Data de Emissão: 18/09/1986.
A convivência intensa com a mãe
enfatizou na filha Antônia Maria de Souza o desenvolvimento de habilidade em
realizar partos, pois a mesma contabilizou o número de trinta e dois efetivados
quando de assistência a Dona Maria Joaquina de Souza (Maria Correia) em seus
trabalhos ginecológicos práticos, tendo em vista que era intensa a procura
pelos serviços da experiente parteira tradicional que fez muito pelas pessoas
pobres da Terra de Santa Luzia do Mossoró.
Além de realizar trabalho
extraordinário como parteira tradicional Dona Maria Joaquina de Souza foi líder
comunitária, exercendo o cargo de presidente do Conselho Comunitário de
Barrocas I. Segundo o advogado José Wellington Barreto, em livro por título de
“Importantes Lideranças do Movimento Comunitário de Mossoró”, página 219,
“Maria foi presidente de 1991 a 1994. Lutou e conquistou obras de
infraestrutura, como pavimentação de casas, praças, melhoria da segurança
pública, curso de qualificação profissional, respeito aos jovens e idosos”.
A importância das parteiras
tradicionais para a assistência de mulheres pobres é indiscutível, sobretudo em
regiões carentes espalhadas pelo mundo, as quais imprescindem de auxílio em
razão que ainda são precárias as condições de saúde devido a ineficiência do
Estado e privilégio das classes mais favorecidas com relação a esse importante
setor relacionado à qualidade de vida do gênero humano.
Existiu em Mossoró (RN) uma grande
mulher, consciente do papel que deveria desempenhar junto aos seus semelhantes,
em vista que o trabalho desenvolvido durante décadas foi responsável pela
salvação de centenas de vidas devido à intervenção da mais tradicional parteira
que deu importante contribuição às famílias pobres da Capital do Oeste
Potiguar.
Seu nome era Maria Correia, moradora
da Rua Venceslau Braz, localizada no Bairro Paredões. Em sua residência
existiam leitos a fim de acomodar parturientes pobres que não podiam pagar por
serviços médicos.
A pobreza mossoroense afluía em massa
em busca dos seus cuidados, pois nunca se negou em atender famílias carentes a
qualquer hora do dia ou da noite, pois seu compromisso sempre foi com a vida em
sua dimensão maior. Maria Correia foi exemplo de obstinação em servir ao
próximo, sem buscar nenhuma recompensa para sua luta hercúlea em prol da
edificação do bem comum.
Amiga de políticos importantes,
sempre usou sua influência visando concretizar melhores condições
infraestruturais para a clientela carente que assistiu durante sua digna trajetória
no plano terrestre.
Nenhuma mulher gestante pobre chegava
à sua residência sem receber os cuidados necessários embasados em seus
conhecimentos práticos, os quais efetivavam de forma brilhante e precisa, pois
a parteira Maria Correia tornou-se expert em diagnosticar e tratar casos de
gravidez de risco que exigiam certos cuidados especiais a fim de garantir o bem
estar da mãe e da criança que esta carregava no ventre.
As gestantes que Dona Maria Correia
assistia só saiam de sua residência quando se encontravam em condições
absolutamente exatas de ter uma vida normal. Dona Maria Correia não media
esforços para dar o melhor para suas pacientes.
A grande parteira de Mossoró (RN) não
tinha orgulho em sair à rua para pedir o que necessitava para ser usado nas
mulheres carentes que tratava, razão pela qual se tornou bastante conhecida e
bem-quista no meio político local.
Grandes personalidades com atuação no
cenário nacional vislumbraram com afeto o trabalho realizado pela heroína
mossoroense que empenhou sua vida em busca de melhores condições de existências
para seus semelhantes sofredores.
Aglomerados humanos localizados na
periferia de Mossoró (RN), marcados pelo sofrimento e pela exclusão, foram
sobremaneira beneficiados com o humanismo que alicerçava as ações da mais
devotada parteira tradicional da terra de Santa Luzia.
Bairros mossoroenses inteiros, como
Paredões, Barrocas, Bom Jardim e Santo Antônio, os quais não contavam na época
com a prestação de serviços médicos garantidos pelo Estado, tiveram em Dona
Maria Correia um porto seguro com o qual sempre puderam contar nas horas de
maior aflição, quando famílias se desesperavam em busca de socorro que pudesse
viabilizar o aumento da prole.
Dona Maria Correia, com fidalguia e
extrema abnegação, acolhia todas as mulheres pobres que lhe procuravam,
intuindo um bom parto, menos sofrimento nas horas difíceis que assinalam a
angústia de não ter com quem contar quando se trata de assistência médica que
possa salvar vidas.
Além de parteira de raros dotes,
possuindo extrema habilidade na divina arte de viabilizar a vinda de uma nova
vida a este planeta, Dona Maria Correia também realizava com precisão
intervenções pertinentes à enfermagem, como aplicar injeções, fazer curativos e
aliviar sofrimentos diversos que incomodavam e ainda incomodam parcela
significativa da população carente em todo mundo.
Centenas, talvez milhares de famílias
de baixa renda da Capital do Oeste potiguar devem agradecer bastante ao Grande
Arquiteto do Universo por ter enviado um anjo de luz que ajudou bastante a
aliviar infortúnios e sofrimentos, razão pela qual há de ser enfatizada a
oportuna homenagem feita a Dona Maria Correia quando esta se tornou patrona do
Hospital da Mulher inaugurada em Mossoró (RN), cujo trabalho vem reeditando
bastante as lutas heróicas da grande mulher que honrou o solo no qual se
desenrolam batalhas titânicas em prol da elevação do gênero humano.
Conforme ainda José Wellington
Barreto, na supramencionada obra, corroborado pelos familiares, Dona Maria
Joaquina de Souza (Maria Correia) era amiga pessoal da atual Governadora do Estado
do Rio Grande do Norte, Dra. Rosalba Ciarlini Rosado “que tinha por Maria uma
inestimável admiração, porque ela, Rosalba, como médica e mãe, sabia o quanto a
líder tinha sido importante para as famílias pobres de Mossoró” (Idem; Ibidem).
Agradecida pelo trabalho exemplar
desempenhado por Dona Maria Joaquina de Souza, velório e enterro da mesma,
ocorrido respectivamente nos dias cinco (05) e seis (06) de Fevereiro (02) de
2007, a população mossoroense, sobretudo a residente nos Bairros Barrocas,
Paredões, Bom Jardim e Santo Antônio, afluiu em massa para prestar última
homenagem àquela que, em oportuna expressão do advogado José Wellington
Barreto, tornou-se “uma verdadeira lenda da luta humanitária e social de
Mossoró (Idem; Ibidem)”.
José Romero Araújo Cardoso é
Geógrafo. Professor-adjunto do Campus Central da UERN. Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contato: romero.cardoso@gmail.com.
Enviado pelo autor: José Romero Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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