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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Métodos de sangramento utilizados por volantes e cangaceiros.

Por: José Romero Araújo Cardoso(*)

O sangramento era um dos crimes mais hediondos cometido no sertão nordestino no tempo do cangaço, praticado tanto por tropas volantes, as quais dispunham de “sangradores oficiais”, como por cangaceiros.
          
Símbolo de uma cultura forjada pela colonização erigida sob a ênfase da força e da violência, responsável pelo extermínio dos índios que habitavam a hinterlândia, a “técnica” de sangramento foi aperfeiçoada ao máximo. A razão econômica da penetração interiorana exigia que o gado criado de forma ultra-extensiva fosse, necessariamente, abatido para o consumo de uma minoria privilegiada da população, principalmente a do litoral canavieiro. No sertão, se tornou um “trabalho de mestre” matar sangrando a jugular ou a carótida.
          
As carótidas são duas artérias, a comum direita e a comum esquerda, sendo que a comum direita é originária do tronco braquiocefálico e a comum esquerda é originária do arco aórtico. A ruptura dessas artérias significa morte certa. A hemorragia violenta na via arterial do fluxo de sangue da aorta se encarrega de tudo.
          
Quando o soldado João da “mancha”, considerado inclusive por seus antigos colegas de farda, como um psicótico, extravagante sangrador das forças volantes paraibanas, rompeu, com um bisturi pertencente ao medico Luiz de Góes, a carótida do advogado João Dantas, assassino do presidente João Pessoa, quando de sua detenção na penitenciária do Recife (PE).    João Dantas estava preso na companhia do cunhado, o engenheiro Augusto Caldas, também assassinado com a mesma “técnica”. O “serviço” fora feito por um profissional macabro que conhecia muito bem o seu “ofício”. O militar sabia milimetricamente onde iria romper a artéria, visto que a luta corporal travada entre o intrépido advogado João Dantas e os seus algozes impediu o seccionamento no ponto exato, como pretendia Dr. Luiz de Góes. Conforme Arruda, só alguém que estava profundamente em contato com a “arte” de sangrar poderia ter feito um “trabalho” com tamanha perfeição.
          
As veias jugulares, outras que também eram preferidas pelos “sangradores” das lutas do cangaço nordestino, são de extrema importância para o organismo. A veia jugular interna é a principal. Ao rompê-la é quase impossível de haver qualquer possibilidade de salvação, a não ser que haja modernas técnicas de reversão, como presença de médicos e hospital, praticamente inexistentes nos ermos esquecidos dos sertões de outrora, embora ainda hoje encontremos tal situação em diversos lugares espalhados pelo nordeste e pelo Brasil afora.
          
Com o comprometimento da veia braquiocefálica, poucas chances de vida havia às vítimas desse suplício macabro promovido por solados e bandidos no sertão do cangaço, principalmente quando do apogeu de Lampião. Essa veia se anastomisa com a veia braquiocefálica direita, formando a veia cava superior, de fundamental importância à manutenção da vida.
          
Lampião era expert nesta técnica, dispondo para isso de imenso punhal de setenta centímetros de lâmina. Tarimbado na lida do campo, sobretudo no que diz respeito à pecuária, fornecendo peles e couros ao “Coronel” Delmiro Gouveia, com quem a família Ferreira negociava, o “rei do cangaço” inovou e utilizou-a profusamente quando de sua chefia no cangaço (1922 – 1938).
          
A veia jugular externa, quando rompida, representa morte certa. Essa veia é constituída da junção da veia retromandibular com a veia auricular posterior, e, após vários estágios de grande importância, desembocará, mais freqüentemente, na veia subclávia.
          
Segundo o Coronel Manuel Arruda de Assis, sobre quem há registros históricos indeléveis, tendo marcado de forma extraordinária a história das lutas do povo do semi-árido nas primeiras décadas do passado século, outro método bastante utilizado por ambas as partes envolvidas nas lutas, consistia em perfurar a clavícula, introduzindo-se, com violência, o instrumento perfuro-contudente diretamente na aorta, junto ao coração.
          
Depois da hecatombe de Piancó (PB), ocorrida no mês de fevereiro do ano de 1926, cuja participação do velho guerreiro das hostes volantes, natural do município de Pombal (PB), fora decisiva e marcante, houve aprisionamentos de militares da coluna Prestes, bem como da cozinheira da milícia que pregava novos rumos. Era uma baiana conhecida entre os revoltosos por tia Maria. Apenas um escapou da triste sina, devido aos apelos de muitos no sertão,  inclusive do Padre Cícero.
          
Conforme ainda o entrevistado, um prisioneiro quando do sangramento pelos militares comandados pelo Coronel Elísio Sobreira, revelou ter feito muito isso quando da marcha da coluna, entre os diversos combates que travou.
          
Ainda em Piancó (PB), Arruda relembrou a chacina do barreiro, a qual vitimou o Padre Aristides Ferreira e diversos camaradas que lutaram bravamente para tentar conter o avanço da coluna. Todos foram sangrados por membros da coluna, consternados com as mortes dos cavalarianos que formavam a vanguarda da Coluna Miguel Costa – Prestes, os quais chegavam na cidade de Piancó (PB), e terminaram alvejados pela pontaria certeira do então sargento Manuel arruda de Assis.

Entrevista Pessoal:

ASSIS, Manuel Arruda de Assis. Pombal (PB), 27 de abril de 1989.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor da UERN.

Enviado pelo autor: José Romero Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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