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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Os Labirintos de Lampião

Por: Alcino Alves Costa

Aproxima-se mais um aniversário da morte de Virgulino Ferreira da Silva, o maior bandoleiro da América Latina. Turistas do Brasil e de outros países chegam às margens e barrancos do “Velho Chico” e se destinam ao porto da Forquilha. Dali a multidão segue para o célebre riacho, abarrotando a veredinha de pessoas ávidas por conhecer o lendário local onde aconteceu o fim de Lampião, Maria Bonita e mais nove de seus companheiros, além da derrocada final do cangaço nordestino; grande flagelo que desgraçou a vida dos povos interioranos de sete estados brasileiros.

Piranhas, nas Alagoas, Canindé de São Francisco e Poço Redondo, em Sergipe, procuram, na medida do possível, prestigiar esse tão esperado dia com palestras, encontros e missas. Tudo muito bonito. Tudo muito merecido. Os turistas se aglomeram em volta e pelo meio do riacho, sentados nos barrancos e nas pedras, para assistir o culto religioso onde um padre, todo paramentado, discorre em seu sermão a magnitude daquela data. Contudo, precisa-se, urgentemente, que se faça à última e definitiva tentativa de não eternizar as grandiosas mentiras que se tornaram verdades da Grota de Angico.

Sabemos perfeitamente que tudo que se relaciona com aquele fatídico combate à inteligência humana é incapaz de compreender ou explicar. Ali em Angico, o rei cego, numa trama genial e fabulosa, fincou o seu maior mistério, e com a finalidade única de estontear os caçadores de sua saga, deixou que se enraizassem grandes mentiras que mesmo com o passar dos anos ninguém as descobriu e nem jamais as descobrirá.





Angico, município de Poço Redondo, Sergipe

Fico deveras abismado com a inércia dos pesquisadores, historiadores e autoridades outras, que se deixaram envolver e acreditar nas mentiras de Angico. Fazendo assim, com que se perpetuem como verdadeiros os depoimentos sabidamente mentirosos e contraditórios dos que participaram, no teatro da luta, daquela hora final do homem das barrancas do riacho São Domingos e seus companheiros.

As atitudes e estratégias de Lampião estavam muito além de tudo aquilo que a inteligência humana é capaz – ou incapaz – de explicar ou compreender. Podendo-se afirmar que os labirintos criados pelo notável bandoleiro dos tabuleiros da Serra Vermelha se constituem num enigma que ninguém conseguiu descobri-lo com o passar dos anos. Inexplicavelmente a trama de Angico ficou oculta para todo o sempre.

Lampião, você é realmente um bravo, um herói invulgar. O homem brasileiro tem a obrigação de se curvar perante a sua sabedoria e aceitar que você, lá do Além, não se canse de gargalhar desdenhosamente da quase nenhuma inteligência de todos nós, pobres pecadores que não temos forças para enfrentarmos um mito de sua grandeza. Como se fosse um bruxo – e bruxo ele era – Lampião fez com que todos os que viveram a agonia de Angico ficassem envoltos em intermináveis contradições. Cada um, seguindo ditames diferentes e misteriosos, querendo contar os fatos conforme as suas próprias vontades, e assim, deixando aqueles que precisavam registrar o grandioso épico na mais completa desilusão.
Velho Chico; à margem esquerda: Piranhas; na direita: Poço Redondo

Os que viveram acompanharam e participaram daquele lendário instante da agonia e morte do cangaço nordestino, desde muito, estão ameaçados pelo avanço da idade. Os poucos que ainda vivem estão próximos, muito próximos, do ciclo final de suas vidas, escasseando, assim, os que se envolveram direta ou indiretamente naquela epopéia sertaneja.

E os mistérios que ali se eternizaram como é que ficam? Será que os pesquisadores e historiadores irão continuar fazendo pouco caso desses inexplicáveis fatos que cercam a Grota de Angico e assim deixar que os falsos depoimentos continuem com a auréola de verdade da História? Sou de opinião que ainda existem algumas pedras que não estão corretamente assentadas no tabuleiro da história do cerco e ataque de Angico. E eu não compreendo o porquê dos que vivem rastejando as pegadas históricas do homem do sertão de Pernambuco não sentirem o menor interesse em desvendar esses mistérios. E, ainda mais, fugir, “como o diabo foge da cruz”, quando se projeta em consertar as distorções gritantes que repousam nas páginas da literatura do cangaço, sem se falar na monumental má vontade de pelo menos se tentar desvendar algumas – eu disse algumas – das famosas fábulas de Angico. Algumas dessas fábulas me atormentam.


Alcino Alves Costa

O Caipira de Poço Redondo

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo11:51:00

    Caro professor Mendes: O meu bom-dia com a chuva chegando por aqui.
    O saudoso mestre Alcino era de uma competência admirável em tudo que fazia, e em especial no conhecimento da história do cangaço. Aqui nesta matéria postada por você, o Alcino fala no perigo em eternizar as grandiosas mentiras da Grota de Angico. Ele - creio eu -, tem razão. Estou há três anos pesquisando a história do cangaço e, devido as muitas contradições a serem dirimidas, ainda não pude concluir meu livro O CANGAÇO A SER ANALISADO À LUZ DA PSICOLOGIA E DA SOCIOLOGIA. Alcino chega a dizer que "a trama de Angico ficou oculta para todo o sempre". Espero que os grandes pesquisadores cheguem a uma conclusão correta.
    Abraços,
    Antonio Oliveira -Serrinha-Ba. E-mail: antonioj.oliveira@yahoo.com.br

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