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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A ÁRVORE DO SILÊNCIO



Por Rangel Alves da Costa* 

Belíssima a assertiva de Artur Schopenhauer: Da árvore do silêncio pende seu fruto, a paz.

E a árvore do silêncio, tão bela e frondosa, pode ser avistada, tocada, sentida, em todo lugar. Desde o asfalto ao chão fecundo lá estará.

E também estará onde ninguém avista, onde somente o semeador conhece o seu lugar e a sua imponência. Tão imensa e visível, tão presente e invisível é a árvore do silêncio.

Não precisa de arvoredo ou pomar, floresta ou mata fechada. Não requer distância do homem para estar protegida. E não morre com o tempo, pois eterna é a árvore do silêncio.

Aliás, a árvore do silêncio não nasce senão da raiz do desejo de cada indivíduo, não cresce senão na mente e não frutifica senão em galhos invisíveis. Mas pressupõe sempre o silêncio para florescer, para dar seus frutos.


E dessa árvore, presença silenciosa ao redor do indivíduo, a paz vai brotando como fruto mais desejado. Fruto doce é o da paz, e talvez o único que possa saciar a fome do mundo.

O mundo, o homem, a vida, as relações, os seres, a existência, as convivências, os amores e os ódios, as intrigas e os entendimentos, tudo necessita de paz. E o fruto da paz não será colhido enquanto não surgir o silêncio que possibilite a reflexão.

Quando o filósofo afirma que da árvore do silêncio pende o fruto da paz, outra coisa não faz senão afirmar que somente o silêncio possibilita ao homem colher a calma e tranquilidade necessárias para refletir acerca dos caminhos que levem à paz.

Ora, a paz citada não é apenas aquela envolvendo quietude, tranquilidade, placidez, sossego, serenidade. Envolve muito mais, eis que a paz referida por Schopenhauer é também aquela fruto de um estado mental e espiritual que leva ao homem o poder da reflexão, da meditação.

A reflexão e a meditação seriam as sementes que germinariam a paz. Ora, a paz não é pensada em meio à guerra, à balbúrdia, às gritarias e desassossegos. O encontro com a paz exige silêncio, concentração, imaginação.

Fácil compreender o porquê de o silêncio frutificar. É no silêncio que o pensamento se aperfeiçoa, que a mente se torna produtiva, surgem as ideias, as boas noções, os caminhos e as possibilidades se tornam mais nítidas.

É no silêncio que o homem encontra consigo mesmo, que alarga sua visão acerca da realidade, que adentra profundamente naquilo que em outra situação seria apenas aparente. Basta que o silêncio paire, que calem as vozes da incompreensão, e o homem estará apto a ser uma voz espiritual diante do mundo.

Que se tomem como exemplos as grandes criações ou invenções humanas, ou mesmo os estudos que produziram descobertas consideráveis. Em tais situações apenas o diálogo do homem com o seu objeto, de forma silenciosa e produtiva, de modo que apenas a aparência da intencionalidade tivesse voz.


Impossível imaginar Mozart ou Bach criando sua música em meio a algazarras. Difícil conceber Einstein debruçado sobre sua teoria em meio a vozes e gritarias. A poesia, a escrita, a pintura, a arte em si, exige um mínimo de silêncio para encontrar sua própria voz.

Que se imagine Schopenhauer subindo à montanha para encontrar o silêncio tão necessário à meditação filosófica. Mesmo tecendo acerca de pessimismos e dores do mundo, não deixa de reconhecer que somente o silêncio possibilita o aprofundamento em tais questões.

Veja-se, por exemplo, o sino da igreja. Ouvir o seu badalar em silêncio provoca um diálogo espiritual de indescritível intensidade. E até dá para ouvir a canção da brisa do entardecer quando o silêncio envolve tudo ao redor.

Sim, na árvore do silêncio a paz. E um canto de pássaro que jamais será ouvido por aqueles que não são nem de silêncio nem de paz.
  
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com 

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