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segunda-feira, 3 de março de 2014

O cabo Catôta

Por José Mendes Pereira

Em todas as profissões existem pessoas que trabalham mesmo, porque gostam do que fazem, ou de assumirem as suas funções com responsabilidade, só para não deixarem espaços  que venham servir de reclamações por alguém. Mas existem também os que não assumem as suas funções com seriedade, e só estão ali, por necessidade, visam mais o que ganham do que o que fazem como trabalho. 

Apesar de ter sido uma grande pessoa, e que viveu sempre em Mossoró, honesto, amigo de todos, e todos eram seus amigos, o cabo Catôta parece que não gostava muito do que fazia, deixando sempre a desejar a sua responsabilidade no quartel, e compromisso com a sociedade, isto é, a comunidade que precisava ser protegida por ele.

 
Estádio Professor Manoel Leonardo Nogueira (Nogueirão), portaldifusoramossoro.com

Na década de sessenta, antes da construção do campo de futebol Estádio Professor Manoel Leonardo Nogueira -  "O Nogueirão", todos os jogos  eram feitos onde hoje funciona o SESI, e apesar do pequeno campo onde rolava a bola, geralmente tinha um grande público pagante.


Campo de futebol do SESI em Mossoró - http://realpaisagismo.blogspot.com.br   

Como o muro era muito baixo, talvez os encarregados da casa de espetáculo não tinham verbas para colocarem três ou quatro fiadas de tijolos sobre ele, era necessário que alguém ficasse por fora, rodeando o campo, para evitar que torcedores oportunistas tentassem pular o muro, evitando o gasto com ingressos.

O cabo Catôta era um dos que ficava rodeando o muro do campo de futebol. Como ele não gostava de encrencas com ninguém, e em especial, sujeitos metidos a valentes, e que em toda a sua vida militar, nunca levou indivíduo algum para a cadeia, quando ele via adolescentes em cima do muro, aproximava-se e com o seu jeito calmo, tranquilo, dizia-lhes:

- Ei, amigos! Ou vocês pulam para dentro do campo, ou descem do muro e vão embora. O que não pode é vocês ficarem sobre ele.

- Certo, cabo Catôta.

E não dava outra. Pulavam os que já estavam sobre o muro, e os que ouviam isso do cabo Catôta, subiam no muro e pulavam para dentro.

Certa vez, o cabo Catôta abordou e deu voz de prisão a um jovem que tinha fama de valente. Como ainda não tinha percebido que era o valente jovem, foi se aproximando e disse:

- Você está preso, seu malandro!

O jovem que não temia um grupo de policiais imagine uma só autoridade, e como ele já sabia como trabalhava o cabo Catôta, que procurava mais conversar com o sujeito do que tangê-lo até a prisão, respondeu-lhe:

- Se fossem dois ou três policiais que estivessem ordenando a minha prisão cabo Catôta, eu sei que eles me levariam, porque eram muitos e eu não teria condições para lutar contra grupos de policiais. Mas o que tenho a lhe dizer que o senhor sozinho não me tangerá para a cadeia pública de jeito nenhum.

Reconhecendo o sujeito, e imaginando o que o valentão poderia fazer contra ele, e já arrependido da ordem que dera ao valente indivíduo o cabo Catôta acovardou-se, lhe dizendo:

- Se você não vai para a cadeia comigo, muito menos eu quero te levar.

O sujeito não quis mais conversa. Foi embora caminhando.

O cabo Catôta satisfeito com a sua partida, ficou feliz, porque não queria arrumar uma confusão com um jovem tão valente quanto era ele.

E por muitos anos, quando uma pessoa rendia-se a outra para não agredi-la, os mossoroenses mais antigos usavam este bordão: "- É o cabo Catôta".

Minhas simples histórias 

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro. 

Fonte: 

http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com 

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo: 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Anônimo14:55:00

    Caro Mendes: Não sei se este comentário está sendo repetido, uma vez que no final de um deles faltou energia e deu problema com o aparelho que mantém a ligação do computador. Mas, vamos lá....
    A história do Cabo Catôta é bem parecida com a história verídica de um cidadão da minha terra que foi subdelegado por mais de vinte anos, aqui no Distrito de Bela Vista e nunca prendeu um só calango ou uma só lagartixa. Não era por falta de quem prendesse, mas era mesmo por falta de coragem.
    Certa feita (há muitos anos), surgiu por aqui um desconhecido, com aspecto de quem estava perdido na vida, e eu perguntei ao referido subdelegado se não seria bom verificar com quem estávamos lidando. Ele me respondeu que não era doido para procurar sarna pra se coçar. Como eu também não sou dos mais corajosos, procurei um amigo para fazer a averiguação. Meu amigo, cheio de coragem interrogou o desconhecido e retornou me informando que era um portador de transtorno mental. Assim, o subdelegado tinha razão: iria mesmo procurar sarna pra se coçar. E sabe quem era o subdelegado? Meu irmão mais velho, que faleceu aos 83 anos sem nunca prender um só vivente, e no meu modo de pensar não deixou inimigos. Era tão precavido quanto o Cabo Catôta, que evitava confusão. EXCELENTE DELEGADO!
    Abraços,
    Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha - Bahia.

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