Por Rangel Alves
da Costa*
O medo é uma
coisa terrível, assustadora, desesperadora demais só em pensar. Causa pânico,
pavor, nervosismo, ataques. Medo da noite e dos seus mistérios, medo da morte,
medo da perda, medo de passar novamente pela mesma terrível situação, medo
porque fez o que não deveria fazer. Tudo é medo e tudo dá medo.
Segundo os
livros, medo é uma reação física ou mental que estimula alerta no organismo
diante da possibilidade de enfrentamento de determinadas situações; é a
perturbação resultante da ideia de um perigo real ou aparente ou da presença de
alguma coisa estranha ou perigosa; é o sentimento inquietante que se tem diante
de perigo ou ameaça. Pavor, terror, fobia, receio, ansiedade, pânico. Tudo é
medo.
O susto,
por mais que apavore, é mera consequencia do medo. Do mesmo modo o
desequilíbrio, a incerteza, o grito, o silêncio sepulcral. Cortar a noite
escura na solidão, por veredas incertas e cheias de labirintos, por mais que os
olhos apavorantes ou os tentáculos afiados não existam ao redor da moita, ainda
assim o medo já dá existência aos seres estranhos escondidos.
O medo possui
feições tão cotidianas que as pessoas vivem amedrontadas sem saber. Desses
fatores apavorantes, o medo da tristeza, da dor e do sofrimento é um dos mais
terríveis. Não é difícil perceber pessoas afirmando que não gostam de estar
alegres demais para que mais tarde a tristeza não chegue. Então deixam de viver
suas alegrias por achar que a medida da vida é a lei do inverso.
E geralmente
acontece assim mesmo porque o medo de acontecer o pior mais tarde já predispõe
o espírito agora. Por isso o benzimento diante do inusitado, do temido, do
desconhecido. Por isso o pavor de passar embaixo de escada, de não entrar com o
pé direito em qualquer lugar, de vestir a roupa pelo avesso, de cumprimentar
com a mão esquerda, de ser esconjurado pelo inimigo, de ser amaldiçoado pelos
mais velhos.
Tem gente que
tem medo da chuva, medo de avião, medo do doido, medo da língua do povo, medo
que um vento ruim entre pela sua boca aberta. Vai estuporar se tomar ou comer
coisa quente e tomar banho, se molhar ou sair pro sereno; vai morrer quem tomar
água da primeira chuva; vai ter azar pelo resto da vida quem tiver um gato
preto cortando seu caminho. Como se vê, tudo é medo.
Tem gente que
não dorme com medo de não acordar, pessoa que não namora por medo de se
apaixonar, indivíduo que não come pra não engordar. A zinha tem medo que o povo
descubra que está traindo o marido, este tem medo de ser chifrado; aquela tem
medo de engravidar porque zombou de um aleijado e dizem que o filho de quem age
assim nasce com o mesmo problema.
E essa lua
bonita, tão cheia e tão volumosa, por que causará tanto medo? E esse sol
brilhoso, todo irradiante e iluminado, por que causará tanto temor? Basta
perguntar ao doido que teme a noite de lua cheia, que teme o seu juízo ruim
querer ser tomado pela espada de São Jorge. Que pergunte ao sertanejo que tem o
sol escaldante como maior ameaça de sua existência.
Estranhamente,
todo mundo tem medo do fogo feroz e escaldante, mas continua somando pecados.
Porque ninguém tem mais medo de não seguir os conselhos dos pais, de infringir
os preceitos bíblicos, de fazer o que antigamente seria impensável fazer. Quem
tem medo do juízo final se a vida só se completa no pecado mortal?
Ainda bem que
tudo está iluminado. Tenho medo do escuro e mais ainda do bicho-papão que mora
debaixo da cama. Mas também tenho medo que ele saia da minha vida, da minha
imaginação, pois tenho medo de perder para sempre um pouquinho de criança que
ainda dorme e vive comigo.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário