Seguidores

sábado, 6 de dezembro de 2014

A última moradora do casarão de Pe. Cícero. HISTÓRIAS DE UMA CIDADE CENTENÁRIA.

Este artigo foi publicado no dia 06 de Agosto de 2011
http://vejajuazeiro.com.br

Última das mulheres que viviam próximo ao Padre Cícero no Horto, Luíza Maria dos Santos, 88, lembra a história da árvore que deu lugar à estátua do fundador de Juazeiro do Norte.

Os passos cansados de Luíza Maria dos Santos vão na contramão do que alcança a memória da moradora oculta da colina do Horto, em Juazeiro do Norte. Escondida num pequeno quarto do casarão que abriga o Museu Vivo, a divertida paraibana de 88 anos é a única viva entre as “beatas” que se achegaram para morar na casa de descanso de Padre Cícero.

Do pequeno quarto a que lhe coube com o passar do tempo, Luíza se levanta devagar para debulhar histórias do lugar e de agradecimentos por graças alcançadas:

- Você veio mexer com as minhas dores, veio mexer com meus amores, reclama ela, sem perceber que conta suas memórias sem qualquer esforço.

- Cheguei aqui menina, com 12 anos, um ano depois da morte de Padre Cícero”, começa a conversa à mesa, entrecortada pelos risos e pequenos assombros de Luíza – e um gole de café adoçado.

De um tempo em que muitas mulheres iam entregar seus filhos ao “Padim”, Luíza conta que conheceu todo mundo. “Aqui era casa só com velhas. Tinha veeeeeelha para mandar para o Crato. Morreram tudim e eu fiquei rolando”.

Da janela, se via uma capelinha que deu lugar às obras da construção da Igreja do Horto. “Vinte e cinco torres ia ser a igreja. Era uma igreja imensa”, lembra Luíza. Mas o projeto do templo precisou ser adiado, em 1969, para abrigar a estátua do padre Cícero. “Tu vai gostar da minha história”, adverte ela.

“Pé de tambor”

Além das colunas da igreja, lembra Luíza, a estátua pediu espaço de um grande “pé de tambor”, crescido ao lado de onde se construía a igreja do Horto. “Não tinha homem que ‘abaicasse’. Era imenso de grosso, velho”, descreve Luíza.

A obra da igreja precisou ser transferida para detrás do casarão, onde até hoje se arrasta a construção. “O povo diz assim: ‘Casamento de fulano está demorando que nem a igreja do Horto, que não termina’”, diverte-se ela.

Mas o “pé de tambor”, querido pela sombra que oferecia aos devotos depois da subida à colina, precisou ser derrubado. Conta Luíza: “Cavaram, cavaram, mas tem a raiz mestra que desce, a raiz que é gerada. Colocaram uma bomba, encostada à raiz, e quando estourou a bomba, o pé de tambor arreou, o bichim. Abaaaaaaaá! Era para surgir a estátua”, relembra.

E o episódio da queda da árvore considerada sagrada causou tanta comoção, que não faltaram histórias. “Dizem que o pé de tambor chorou, que botou sangue. Eu não gosto disso não (de mentira)”, detalha ela.

Nova vida

Luíza diz que a estátua deu nova vida ao Horto, assim como o Casarão reformado pela Prefeitura, em 1999. Ela conta que o escultor da obra, Armando Lacerda, “se tornou um grande amigo nosso. Era de Recife. Ele fez uma (estátua) em Sousa, de um padre, fez outra de Nossa Senhora, não sei onde, e assim por diante era chamado. Bebia uma cerveja lascada”, detalha ela.

Mais detalhes, sobre quanto tempo durou, se houve queixa dos padres em construir estátua do padre não reconhecido como santo pela Igreja, Luíza é breve. “Nem sei, menino. Sei não. A gente não sabia disso não porque pobre nem era besta de se meter em conversa de padre”, desconversa.

Na despedida, Luíza coloca a mão no queixo para as fotos, se assombra ao descobrir a idade do fotógrafo – “Ui! Eu dava 23 anos para você” – e rejeita o título de beata. “Sou devota de Deus, do Sagrado Coração de Jesus, e grande amiga do padre Cícero”.

Quem

ENTENDA A NOTÍCIA


Luíza Maria dos Santos chegou a Juazeiro do Norte, com os pais, vinda de Campina Grande (PB). Apesar de rejeitar o título de “beata”, ela é a única viva das mulheres que viviam na casa de descanso do padre Cícero


SAIBA MAIS

A estátua de padre Cícero, de 25 metros de altura, deve ser entregue restaurada nesta quinta-feira, dia 21, a partir das 19 horas.

Preocupação de muitos devotos, Luíza Maria dos Santos comenta sobre o processo de beatificação de Padre Cícero. “Tá demorando a ser beatificado. Não tá demorando? E muito. Outros que morreram mais (cedo) já está, como o papa, a irmã Dulce…”, comenta.

Luíza conta que o “pé de tambor” também foi abrigo de muitos namoros. “Tinha uma mulher da rua do Horto que arranjou um namorado debaixo desse ‘pé de tambor’ e se casou com ele”, relata.

Sobre a construção da igreja do Horto, no lugar onde hoje abriga a estátua de Padre Cícero, Luíza lembra das dificuldades. “Era muito difícil, naquele tempo, no tempo do preá, não tinha nem água”.

Ela conta ter chegado ao Horto para morar, com 12 anos. “Era menina abestalhada. Naquele tempo menina de 12 anos não conversava nada. Hoje, conversa que nem homem da cobra”, compara.

http://www.vejajuazeiro.com.br/a-ultima-moradora-do-casarao-de-pe-cicero/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário