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sábado, 3 de janeiro de 2015

CANGAÇO - EU OUVI DE QUEM ESTAVA LÁ

Por Charles Garrido

Prezados, saudações.

É uma grande alegria poder reencontrá-los e sempre agradecendo a todos, o carinho e atenção para com nossas postagens. E hoje, trazemos uma grande notícia. Por gentileza, leiam atentamente o texto abaixo, que aliás, foi a terceira inserção que publicamos aqui em nosso espaço, em julho do ano passado. Trata-se do relato da ex-cangaceira Sila, que nos conta como foi a sua entrada no cangaço. Logo após à narrativa, teremos uma surpresa:


"Já estava tudo acertado, não tinha mais como fugir do meu destino. Zé Sereno já havia resolvido que ia ter que acompanhá-lo na vida do cangaço, se recusasse, eles matariam todos os meus familiares. Não havia saída. Eu só tinha catorze anos, era ingênua e inocente.

Chegou o momento e partimos em retirada. Me deram um chapéu, um bornal, um lenço, e uma arma curta pra eu me defender; mas eu não sabia atirar e não havia tempo pra aprender. Passamos o dia todo caminhando. Tinha uma mulher chamada Nenê, que acompanhava o marido, Luís Pedro. Eram de oito à dez cangaceiros na ocasião e em princípio, iríamos nos encontrar com Lampião, no dia seguinte. Essa era a única coisa boa que eu tinha em mente, pois queria conhecer aquele homem que todos temiam e admiravam ao mesmo tempo.

Nenê do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita

Continuávamos caminhando, eu só fazia chorar. Foi quando Nenê me chamou e disse:

- Menina, vá se acostumando, você ainda irá chorar muito. Esqueça seus irmãos, seus pais, seus amigos; pois sua família agora é a gente.

Continuamos andando. Eu não entendia o porque deles caminharem o tempo todo de orelha em pé, e o último, cuidando de apagar o rastro dos outros.

Até que depois de tanto caminhar pelo mato, chegamos à uma casa, era quase fim de tarde. Achávamos que estava tudo bem. Foi quando de repente, Luís Pedro chama Zé Sereno, e diz:

O cangaceiro Zé Sereno

- Zé, aí tem "moca"

Quando eu ia perguntar o que diabo era "moca", não deu mais tempo, eu ouvi foi o "pipocado" de bala. Os macacos chegaram de supetão.

Eu por ser nova no bando, não sabia o que fazer. Já estava quase tudo escuro, não dava pra enxergar direito e o barulho era ensurdecedor. A gente tinha que fugir, e só quando clareavam os tiros, era que conseguíamos dar alguns passos. 

Havia uma cerca de arame nos fundos da casa, se conseguíssemos ultrapassá-la, estaríamos mais seguros. E assim tentamos. Porém, a minha mais nova amiga; Nenê, quando foi tentar pular, levou um tiro de fuzil, e já caiu morta. Meu Deus, nunca tinha visto ninguém morrer, ainda mais assim de um modo tão trágico. Não podíamos tentar socorrê-la, pois víamos que o caso era sem jeito. Quem ficasse, poderia morrer também. Todos os outros conseguiram escapar do tiroteio.

Luís Pedro estava desolado, desesperado.

Finalmente o dia seguinte chega. Eu não consegui pregar um olho sequer e sabíamos que até o fim da tarde iríamos encontrar Lampião e os demais cangaceiros.

No meio do caminho até o coito, encontramos três homens trabalhando numa roça, eles não sabiam quem éramos nós, pois as roupas eram muito parecidas, tanto as das volantes, quanto as dos cangaceiros. Luís Pedro se aproximou dos três rapazes; e perguntou:

- Me digam uma coisa, se vocês virem os cangaceiros por aqui, o que vocês farão?

- Com certeza iremos entregar à volante (disse um deles ingenuamente)

- Vocês vão é morrer. (Luís Pedro)

O cangaceiro, revoltado e enfurecido com a perda da companheira, saca de seu parabélum e impiedosamente mata os três sertanejos indefesos e inocentes à sangue frio. Foi outra cena que jamais esqueci e era apenas o meu segundo dia na vida do cangaço.

Seguimos viagem.

No final da tarde, finalmente chegamos onde estavam os outros. Não tinha como não saber quem era o chefe. Um homem alto, magro, cheio de ouro, até o óculos brilhava.

Logo ele chegou até nós, e perguntou:

- Zé Sereno, quem é essa menina?

- É Sila, minha mulher (Zé Sereno)

- Mas ela ainda é uma criança (Lampião)

- Com o tempo ela se acostuma (Zé Sereno)

Lampião, como já era de esperar, tratou logo de perguntar:

- Luís, cadê Nenê?

Luís Pedro, que até então passara a maior parte da viagem calado, não suporta mais e desabafa aos prantos abraçado ao velho amigo:

- Lampião, mataram a minha companheira.

Foi a primeira vez que vi um "homem feito", chorar".

Analisemos a foto:

Na imagem (acima) podemos ver, Lampião (o primeiro da esquerda para direita), sendo os dois últimos Luis Pedro e Nenê, respectivamente.

Pois bem, meus caros, a novidade é a seguinte: por incrível que pareça, descobrimos que existe uma testemunha ocular ainda viva, que presenciou todo esse episódio do combate onde a cangaceira Nenê, foi morta, há exatos setenta e oito anos atrás. E a mesma, gentilmente aceitou nos ceder uma entrevista. Obviamente não iremos revelar o nome e nem em qual estado essa pessoa mora, mas muito em breve, estaremos publicando esse relato, que indubitavelmente será de grande valia para as pesquisas, por trata-se de algo inédito.

Só para que tenhamos uma ideia da preciosidade que será esse depoimento, a primeira pessoa que Luiz Pedro conversou assim que chegou à casa, foi ela.

Aguardem, meus amigos. E creiam, todo esse esforço é única e exclusivamente em prol de vocês, que a nós, referendam tanta credibilidade.

EU OUVI DE QUEM ESTAVA LÁ

Charles Garrido
Pesquisador
Fortaleza-CE
Fonte: facebook

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo16:33:00

    Caro Mendes: Aproveito esta oportunidade para agradecer ao nobre pesquisador Charles Garrido (logo que não tive outra oportunidade) pelo valioso vídeo OS NOVE DO ANGICO, que trata das nove cabeças que não viajaram para o Instituto Nina Rodrigues em Salvador, mas ficaram nas Terras das Alagoas. É por certo caro Garrido, um trabalho elucidativo.
    Muito grato,
    Antonio Oliveira - Serrinha

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