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terça-feira, 4 de agosto de 2015

PREFÁCIO DO LIVRO “O TESOURO DE LAMPIÃO”

Do autor: Cabo Francisco Carlos

Nordeste brasileiro Estado de Sergipe, barrancas do  Rio São Francisco Fazenda Angicos 27 de julho de 1938. Depois de uma longa e cansativa jornada, ainda úmidos pelas últimas chuvas de inverno, homens exaustos  chegam até a um coito naquele longínquo sertão, é um bando de cangaceiros composto por mais de trinta asseclas liderados por Lampião o Rei do Cangaço. O lugar é seguro? Talvez sim! Mas logo que o acampamento fora montado, eles se abrigam em suas barracas, alguns cangaceiros foram procurar madeira seca para  acender um pequeno fogo e cozer alguns alimentos, outros para se aquecerem da baixa temperatura enquanto jogavam um carteado tomando muita aguardente genebra, e os que se encontra  bem mais esgotados pela árdua caminhada, deitaram-se  e ferram no sono vencidos pelo cansaço. 

O cangaceiro Borboleta está nesta foto, mas não marcaram cada um com o seu nome - Zé Sereno, Criança, Balão, Jurity, Novo Tempo, Pernambucano, Laranjeira, Candeeiro, Ponto Fino II, Quina-quina, Marinheiro, Cacheado II, Beija-Flor, Devoção, Borboleta, Chá Preto, Penedinho, Cuidado, Azulão.

Já bem na boca da noite, o jovem cangaceiro Borboleta se afasta do acampamento para defecar perto de uma moita de xiquexiques, e de repente Lampião passa por ali junto de Luiz Pedro, e parando acendem um cigarro e começam a prosear, sem perceber que o cangaceiro Borboleta esta próximo ouvindo tudo. 

Lampião

E assim Lampião diz ao seu comparsa: 

- Luiz Pedro amanhã cedo despois du café, vamu só isperá us outrus cabras  chegá pra nóis vê cumu é qui nóis vai fazê cum u nosso distino daqui pra frente, e ocê aspois viaja lá pru Raso da Catarina i leva as jóias, u ouru i u resto daquele dinheiro, i escondi bem lá na “toca du mocó” junto com nossos pertences, leva dois cabras di sua confiança, mais pelo amor Du meu Padrim Ciço, não deixa eles nem sonha im sabe u qui tu vai fazê lá, nem mostri u luga di nossu isconderijo. Certu?

O cangaceiro 

- Deixa cumigo! Respondeu Luiz Pedro. E em silêncio seguiram rumo ao acampamento.
       
Ah! Borboleta sabia onde se localizava o tal esconderijo, pois conhecia muito bem aquela região como a palma de sua mão, pois era em uma pequena gruta de passagem bem estreita  que ficava entre arbustos espinhosos no alto de uma elevação rochosa de difícil acesso, era em um  velho coito no Raso da Catarina, onde um dia ali bem próximo a um barreiro, 

O cangaceiro Gato

o cangaceiro Gato assassinou seu próprio cunhado Mourão e outro cangaceiro chamado Mormaço, isto após receber uma represaria  do Capitão Virgulino em virtude de os supracitados asseclas terem acabado a tiros com uma festa lá pras bandas do Brejo do Burgo, promovendo grande confusão, tumulto e pânico entre o povo que encontrava-se divertindo naquele evento. 

De pé: Ezequiel, Calais, Fortaleza, Mourão e o menino Volta Seca. Sentados: Lampião, Moderno, Zé Baiano e Arvoredo.*Mariano foi omitido.

Borboleta ficou quietinho, manteve o segredo e não contou nada a ninguém, pois tinha medo que o rei do cangaço descobrisse e mandasse eliminá-lo pra manter o sigilo e a segurança da grande fortuna. Então meio ressabiado, foi também deitar-se como todo o resto do bando.

Lampião e Maria Bonita

O rei do cangaço fez o mesmo, e adentrando em sua barraca, ele tirou seus equipamentos armamentos e aprestos, em seguida deitou-se ao lado de sua rainha e mesmo excitado  não buliu com ela, pois estava fazendo muito frio, e optando pelo descanso ele apenas a beijou e fazendo-lhes umas carícias, aconchegou-se junto a ela; e abraçando o seu corpo cálido adormeceu aquecido sob as cobertas.  E assim a noite em um tom roxo cor de mortalha, cai  lentamente sobre as caatingas cobrindo-as como se fosse o manto negro da morte, que vai se transformando e ficando cada vez mais  retinto. 

A densa neblina cinzenta que margeia as barrancas do Velho Chico, além de agasalhar seu corpo igual a um imenso cobertor, ainda cobre seu leito frio de águas caudalosas e perenes. 

As nuvens escuras como breu obumbram o brilho da lua, deixando o espaço enlutado num céu de constelação de extinta, e no anoitecer lúgubre daquele dia, nem nos sertões se ouvia o cantar soturno do urutau. As aves de hábitos noturnos e crepusculares também emudeceram, assim como os inúmeros batráquios e anuros de várias espécimes, que calados ajudavam a manter o silêncio que ali se tornava sepulcral, e na mesma noite fatídica, paira a morte sobre aquele recanto funesto e sombrio. E assim negreja a Grota de Angicos, como se fosse um grande sarcófago de rochas perpétuas, que naquele lugar escuso e remoto encontrava-se aberto, pronto para receber e abrigar para sempre em seu âmago, seus inquilinos da eternidade.

         
Na gélida madrugada daquela trágica quinta-feira do dia 28 de julho de 1938, o orvalho que caía sereno homogeneizava-se com as águas serenas do majestoso Rio São Francisco, e juntos caminhavam morosamente para se chocarem com as pancadas do mar, levando consigo também, a lembrança das últimas horas de vida de homens que posteriormente despertariam para a morte. E bem antes do alvorecer, que o parélio surgia ainda sonolento e começava a tingir de púrpuro o horizonte, quando os caititus grunhindo despertavam os bandos de arribação que ali repousavam nos galhos das aroeiras, soldados fortemente armados e já bem posicionados, só aguardam a ordem do subalterno oficial volante para dar início ao prélio mortal.
          

Lampião já acordado chama Luiz Pedro, Balão, Quinta Feira e o cangaceiro Elétrico para ajudá-lo na oração corriqueira o “Ofício a Nosso Senhor”, e no momento que Maria Bonita e Enedina estão preparando o café para o desjejum, o cangaceiro Moeda sai de sua tenda e após caminhar algumas braças, começa a urinar; e se assusta ao ver que está mijando em cima de um soldado volante, que no átimo e sem hesitar; dispara um tiro de mosquetão a queima roupa, cujo projétil transfixa seu tórax assassinando ali mesmo o infeliz. Então os volantes abrem fogo contra os cangaceiros sem dar-lhes chance de defesa, os projéteis das metralhadoras hotkiss, parecia exame de vespas vindo de todas as direções, Lampião é alvejado e tomba ferido mortalmente, em seguida sua companheira Maria ao socorrê-lo; é também atingida e cai sobre sua carcaça já sem vida. 

Primeiro à esquerda é o soldado Adrião pedro

A cabroeira foge sem ter tempo de reagir, o valente soldado Adrião, num ato de extrema coragem  corre perseguindo os asseclas, manobrando e disparando seu fuzil, mas ao pular um caldeirão é abatido por uma bala perdida que o derruba debruço entre as pedras, deixando os cascalhos tingidos de púrpuro com seu sangue de herói. A refrega dura uns dez minutos, e também se acaba com o fim do Rei do Cangaço.
         
Por alguns instantes dura o silêncio, que é rompido quando se dissipa a fumaça e o cheiro de pólvora queimada que pairava nos ares, então; sorrateiramente os soldados se aproximam cautelosos dos corpos sem vida espalhados pelo solo, e ao constatarem a vitória os volantes eufóricos com atitudes animalescas, começam a desferir golpes violentos e brutais nos cadáveres, ainda mutilando os cangaceiros mortos, decapitando-os com seus facões, e alguns ainda com vida. As armas, o dinheiro, o ouro, e as joias junto a outros objetos de valor, são todos confiscados pelos soldados e levados para o oficial comandante da força volante.
            
No lado Militar só houve uma baixa, já no lado dos cangaceiros foram onze vítimas que tiveram as suas cabeças decepadas, e todas colocadas dentro de recipientes com álcool e transportadas para serem orgulhosamente exibidas como troféus de guerra pelas cidades e em todos os lugares por onde passavam os militares. Os corpos mutilados foram abandonados e deixados expostos ao relento, fazendo dali um panorama macabro e horrendo onde as carcaças ao se decomporem, servirão de alimento aos vermes necrófagos, pássaros, insetos e outros animais que compõe a rica fauna do bioma nordestino. E nos galhos de um velho jacarandá espreita o quadro um triste abutre, enquanto o sol que surge abrasador em suas negras penas lustre. 
          
O cangaceiro Corisco

Depois de algum tempo, quando o alagoano Cristino Gomes da Silva Cleto o “Corisco” ou Diabo Louro, o último remanescente do subgrupo do Rei do Cangaço Lampião, foi morto a tiros de metralhadora, em uma emboscada preparada pelo 

O tenente Zé Rufino

Tenente Zé Rufino e os comandos de sua intrépida volante no dia 25 de maio de 1940, na Barra do Mendes na Bahia. Os outros asseclas vendo o fim do cangaço; resolvem a se entregar. Assim como fizeram  Borboleta 

O cangaceiro Juriti

e Juriti, seguindo o conselho de sua companheira Maria e do seu cunhado Rosalvo de Pedra D’água, que os convence a seguirem  para Geremoabo e se entregar ao Capitão Aníbal Ferreira que já os libera em seguida, deixando-os livres para seguirem seus destinos. 

Foto do capitão Aníbal Ferreira gentilmente cedida para o nosso blog pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio. 

Só que Juriti ficou perambulando pelo nordeste, mas Borboleta como tinha outros planos, se ausentou daquela região por um bom tempo, até que todos esquecessem um pouco dos cangaceiros e do cangaço, depois voltou já com nova identidade e outros documentos, e assim  foi em busca de um objetivo que lhe garantiria um  futuro bem promissor que era, “O Tesouro de Lampião.”  

OFERECIMENTO
     
Caro amigo Zé Mendes, hoje dia 28 de julho de 2015, que completa 77 anos da morte do Rei do Cangaço, eu Cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira PMPR-RR, ofereço estas primeiras páginas do livro “O Tesouro de Lampião” que estou terminando de escrever sobre o fantástico mundo do cangaço, e que com sua ajuda será lançado em meados de 2016, exclusivamente a Vossa Senhoria Ilustríssimo Professor José Mendes, como prova de estima, apreço e reconhecimento aos trabalhos de um cidadão que sem medir esforços leva até aos lugares mais longínquos e remotos do planeta e deste país de dimensões continentais, o conhecimento de nossa história. Mostrando o que fomos, o que somos, e o que seremos. Obrigado Grande Mestre.

Cabo Francisco Carlos Jorge  de Oliveira PMPR-RR “Saudações Militares”.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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