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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

ENTREVISTA COM O MILITAR PARAIBANO MANUEL BENÍCIO DA SILVA - O GLOBO – 09/09/1959


SALVADOR, 8 (Especial para o GLOBO) – De passagem por esta capital o major reformado, da Polícia da Paraíba, Manuel Benício da Silva, que durante um quarto de século se empenhou na luta contra Lampião, Sinhô Pereira, Luiz Padre, Meia Noite e outros cangaceiros célebres nos carroçais do Nordeste, declarou que Lampião morreu envenenado, ao contrário do que se tem dito. E acrescentou:

- Considero fictícia a versão que o dá como abatido de surpresa. Lampião era um homem experiente e prevenido; jamais se deixaria apanhar de surpresa. Mesmo que morresse lutando, os seus adversários não triunfariam com facilidade. A tropa que a exterminou não sofreu baixas e este é um dos argumentos mais fortes de que o “rei do cangaço” foi vítima de uma traição. A história está mal contada...

De pé, da esquerda para a direita: tenentes Antônio Correia Brasil; Francisco Correia de Queiroz; Jacob Guilherme Frantz; Abílio Dick Comstock e João Pereira de Oliveira. Sentados, da direita para a esquerda: capitães Maurício, Benjamim e Benício.
67 COMBATES

O major Manuel Benício travou sessenta e sete combates com cangaceiros, dos quais, segundo disse, o que lhe causou maior emoção foi o de Várzea de Franco, no município de São João de Cariri, na Paraíba.

- Recebi ordem do Governo para exterminar o grupo de Vicente Preto, que semeava a morte e o pavor no interior do meu Estado. Eu era, nesta época, sargento da Polícia. Durante dias, eu e meus homens andamos no encalço dos bandidos, até que os encontramos em número de 52, dançando e bebendo na fazenda. Dividi a tropa em dois grupos de doze homens. Um atacaria pela retaguarda, enquanto o outro, sob meu comando, enfrentaria o bando pelo pátio da fazenda. Entrei com meus homens todos de calça, camisa de mescla e chapéu de couro na sala, como se fossemos civis e pertencentes a outro grupo de bandidos chefiado por Inácio Dantas. Para cúmulo de azar, um dos meus homens se desentendeu com um dos “cabras” e o matou a tiros. Foi aí que os bandoleiros chegaram à realidade, isto é, de que estavam com a polícia dentro de casa. A luta foi encarniçada, valendo tudo: tiros, punhaladas, “peixeiradas” e o corpo a corpo. Após trinta minutos de briga, seis bandidos estavam mortos enquanto entre os meus homens havia vários feridos. Bati em retirada conduzindo os feridos e deixando os mortos à sanha dos urubus.

BRIGOU COM LAMPIÃO

A propósito de Lampião, disse ter travado com ele vários combates.

Houve dias em que os nossos encontros se repetiram, dos quais o mais memorável foi o ocorrido no lugar denominado Pau Ferro, do município de Princesa, em agosto de 1924. Comandava 50 homens (25 soldados e 25 paisanos, quando recebi a perigosa incumbência, do famoso chefe político José Pereira, de expulsar Lampião do território paraibano. Encontrei os bandoleiros em Pau Ferro e durante um dia e uma noite travamos uma luta de vida e morte na caatinga brava. De lado a lado havia disposição de combate e não faltavam armas e munições. Ora, a minha volante obtinha vantagens e, em seguida, retrocedia ante a violenta reação dos bandidos. Lampião, temendo que eu recebesse reforços, fugiu para Pernambuco.

PAI AOS 74 ANOS

Deixando a conversa sobre bandidos, o major Benício disse ter ficado como peixe fora da água, depois de haver deixado a ativa. Sente-se moço aos 74 anos e diz que sua filha mais moça conta um mês e quatro dias de idade. É casado em segundas núpcias e pai de nove filhos: dois da primeira esposa e sete da segunda, dos quais sobrevivem três.

Imagens extraídas do Blog Lampião Aceso.

Fonte: facebook


http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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