Por Antônio Corrêa
Sobrinho
AMIGOS,
Fui às páginas
do jornal “O Estado de S. Paulo”, e trouxe praticamente tudo que este
importante diário brasileiro publicou a respeito do famoso cangaceiro ANTONIO
SILVINO, no tempo de sua atuação criminosa.
Fiz isto com o propósito de trazer os relativamente poucos textos aos dias atuais, reunidos cronologicamente, ou seja, notícias, comentários e opiniões sobre este notável bandoleiro, para conhecimento, reflexão e deleite de todos nós, cultores das coisas do Nordeste e, principalmente, atraídos pela história do cangaço. São informações que já contam mais de cem anos de publicadas, portanto, se não totalmente isentas já naquela época, pelo menos sem os muitos rebocos e vernizes que o processo natural de maximização, mitificação, romantização de figuras extraordinárias, socialmente falando, para o bem ou para o mal, com o tempo se encarrega de aplicar, como aconteceu com este personagem, Antonio Silvino, que, por sinal, no meu entender, teve a sua pesquisa altamente prejudicada, desfocada que fora pela pela imediata e impactante chegada do seu sucessor, Virgulino Lampião, que, por várias razões, se fez mais notado, mais conhecido, isto sem mencionar, como algo negativo, que Antonio Silvino, depois do "rei do cangaço", passou a ser visto, traduzido, inevitavelmente por comparação e oposição ao sobredito compadre de Corisco. Silvino, que, para muitos, se transformou num bandido bom, um verdadeiro Dimas. Será?
Com a licença dos amigos coordenadores dos Grupos de Cangaço nos quais prazerosamente participo, postarei o pequeno trabalho, a partir de agora, em partes, e sob o título ANTONIO SILVINO NAS PÁGINAS DO “ESTADÃO”.
ANTONIO
SILVINO NAS PÁGINAS DO “ESTADÃO” - PARTE I
PARAÍBA
Quatro
salteadores do grupo capitaneado por Antônio Silvino foram cercados pela força
estadual, no lugar denominado Mulunguzinho, na comarca de Campinas.
Os bandidos opuseram resistência, armando tiroteio, do qual resultou ficar ferida uma praça.
Finalmente, os salteadores foram mortos.
(Dos nossos correspondentes)
05.02.1901
OS CANGACEIROS
Há poucos
dias, o senhor General-comandante do distrito recebeu do capitão João Carlos
Formel, que se acha no interior do estado da Paraíba, em perseguição ao grupo
de cangaceiros chefiados por Antônio Silvino, um despacho telegráfico pedindo
aumento de forças.
Sua Excelência respondeu incontinente, avisando-o de que desta guarnição não poderia expedir o reforço pedido, mas que daria as necessárias providências a respeito.
Para o tenente-coronel Febronio de Brito, comandante da guarnição do Rio Grande do Norte, expediu S. Exc.ª Ordens para que dali fossem retiradas as necessárias praças para auxiliar o capitão Formel.
Às ordens do senhor general Rocha Calado, imediatamente cumpridas, partiram do Rio Grande do Norte 40 praças do segundo batalhão de infantaria, bem municiadas e sob o comando de dois oficiais.
Tomadas essas medidas necessárias, o governador da Paraíba, monsenhor Walfredo, que ainda não as conhecia, telegrafou igualmente ao senhor general, secundando o pedido do capitão Joao Carlos Formel.
S. Exa., respondendo, fez sentir as últimas providências tomadas, declarando
que o pedido do capitão Formel fora atendido.
Em carta, o capitão Formel declara achar-se na pista dos bandidos, acrescentando que, com o auxílio de forças, conseguirá a captura.
- Perseguido
pela força volante, apresentou-se, há poucos dias, ao delegado de Bom Jardim o
célebre cangaceiro Barra Nova, companheiro de Antônio Silvino.
Barra Nova, durante o tempo em que fez parte do grupo desse facínora, tornou-se célebre pelas suas perversidades.
Em S. Vicente, na ocasião de um ataque do grupo, foi Barra Nova quem atirou no sargento José Pedro, subdelegado local.
Atualmente está ele recolhido à cadeia de Bom Jardim, devendo ser em breve transportado para a casa de detenção.
- Pessoa vinda de Caruaru trouxe a desagradável notícia de que naquela cidade acaba de praticar mais uma de suas costumadas façanhas o célebre facínora Antônio Silvino, acompanhado de um grupo de 14 bandidos.
O ponto escolhido para a prática das novas perversidades foi a fazenda do tenente-coronel Manuel Emygdio da Silva Oliveira, subprefeito em exercício do município de Caruaru.
“Santa Maria”, que é o nome dessa fazenda, dista da cidade apenas oito léguas.
O bandido, ao aproximar-se, procurou um morador do tenente-coronel Emygdio e intimou-o a acompanhá-lo até à residência do patrão.
O infeliz relutou e tanto bastou para que o perverso o assassinasse.
Praticado o crime, dirigiu-se o famigerado para a residência do tenente-coronel Emygdio, onde praticou as mais horríveis cenas de selvageria.
29.01.1907
Comunicam da
Paraíba do Norte que a força federal, que anda em perseguição de Antônio
Silvino, prendeu o célebre bandido Bento Quirino e espera capturar brevemente o
outro facínora.
Um novo grupo de cangaceiros, chefiado pelo celerado Antônio Felix, vulgo “Tempestade”, tem praticado muitos roubos e assassinatos, no interior do estado de Pernambuco.
22.02.1907
Atribui-se ao
célebre cangaceiro pernambucano Antônio Silvino, em cujo encalço anda
atualmente uma força federal, a autoria de 56 assassinatos e muitos roubos.
26.02.1907
ANTÔNIO
SILVINO
A propósito
deste já famoso bandido que enche de pavor os sertões de Pernambuco e dos
estados vizinhos, um redator da “Gazeta do Norte”, do Recife, teve uma
entrevista com dois oficiais do Exército que estiveram em diligência contra o
temido cangaceiro.
Eis como esses oficiais explicam por que ele ainda não foi capturado:
“- E o governo consente que os lugares do interior estejam sem destacamento bem municiado?
- Há lugares frequentemente visitados por Silvino e nos quais existem, apenas, 3 ou 4 praças!
- Então esse é um meio indireto de proteger a audácia do celerado...
- Mais ou menos; se as autoridades e os chefes locais se dispusessem a cumprir as ordens do governo, ou se este mudasse chefes e autoridades, talvez que o célebre assassino já houvesse sido capturado. Mas infelizmente assim não sucede e, até ouvimos dizer que o comandante de uma força que anda em procura do bandido almoçou numa casa em que este se achava oculto!”
AINDA OS
CANGACEIROS
Contando novas
proezas de Antônio Silvino, escreveu de Taquaritinga à “Província” do Recife:
“Por volta das 8 horas da noite de sábado, 20 de janeiro findo, Antônio Silvino, com o seu grupo de 12 bandidos, assaltou a povoação de Barra de S. Miguel, do vizinho estado da Paraíba e limites deste Estado, povoado que dista desta cidade oito léguas, e dirigiu-se o grupo à mesa de rendas, repartição fiscal paraibana, criada ali há alguns anos para o recebimento de impostos – os tão perniciosos e inconstitucionais impostos interestaduais.
Na casa contígua estavam quatro soldados, que ali se acham destacados, aos quais o bandido tomou o fardamento, armas e munições, obrigando-os em seguida a acompanhá-lo à residência do subdelegado do lugar, que, também sob ameaças de morte, acompanhou o mesmo bandido.
Antônio Silvino, com o subdelegado e as quatro ex-praças, estas em camisa e ceroula, dirigiu-se à casa de alguns negociantes da localidade e, no seu modo de roubar, fez uma colheita de um conto de réis, aproximadamente. Terminando essa ‘visita’ voltou a repartição fiscal que invadiu e ali encontrou pequena quantia que embolsou e em seguida deu suas ordens para a destruição, ordens que foram prontamente cumpridas, pois todo o arquivo inclusive estampilhas e selos e outros papéis foram destruídos.
O chefe da repartição achava-se ausente na vila de São João. Pouco depois retirava-se essa horda de salteadores tendo antes o celerado chefe dado uma grande surra em um dos pobres soldados, que ficou semimorto!
Numa outra carta publicada pelo “Jornal do Recife”, o prefeito da vila de Umbuzeiro, estado da Paraíba, relata assim novos crimes de Antônio Silvino e seu bando:
José Candinha e Manuel Coco saíram daqui na tarde de anteontem para Serra Verde, a fim de assistirem a uma novena em casa de Wenceslau.
Contam pessoas que eles se achavam, por volta de 2 horas da madrugada de ontem, estando José Candinha sentado, apreciando um jogo, o Manuel Coco dormindo, foi o primeiro inesperadamente agredido, recebendo pelas costas diversos tiros, que o prostraram logo sem vida.
Um dos bandidos desfechou-lhe sobre o ouvido direito, à queima roupa, um tiro, cujo projetil lhe arrancou o pavilhão do ouvido e grande parte dos músculos da face.
Os sicários, sedentos de sangue e de vingança, cravaram-no de punhaladas, deixando a cabeça quase separada do tronco, por um grande golpe dado na parte anterior do pescoço.
- Antônio Silvino, depois que cometeu os assassínios, seguiu em direção ao (...), ocultando-se no lugar Jararaca, em casa de um tal Francisco Muniz. Nesta ocasião passava o Antônio Galdino, procurador do município, pela estrada, quando o perverso Muniz o apontou a Silvino, como morador em Umbuzeiro. Silvino prendeu-o e ia assassiná-lo pois já havia garantido matar a todos os habitantes do Umbuzeiro que encontrasse; Galdino, porém, afirmou não morar no Umbuzeiro e ser parente do capitão Henrique, de S. Vicente. Esta afirmativa livrou-o de ter morrido às mãos do sicário; mas Silvino roubou-o todo o dinheiro que levava. Horas antes já Silvino havia atacado o coronel Eduardo Gomes, de quem roubou 500$000 réis.
O nosso bom amigo alferes José Caetano que, antes da sua saída daqui se achava destacado em Queimadas, logo que teve conhecimento dos assassinatos transportou-se, doente como se acha, a esta vila, dando todas as providências que o triste acontecimento exigia.
01.03.1907
Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa
Sobrinho
Grupo: O Cangaço
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