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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - O CASAMENTO DE DOCA - PARTE II


Entre as terras desses guardiões, no povoado de São José, a 6km de Alagoa Nova, morava Doca. Manoel Bezerra de Macena, mais conhecido como Doca, era pai de Quitéria, de China e de Zé de Doca. Casou-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, conhecida por Isabel de Doca e que era tia de Didi Pereira da Silva. Todos esses nomes são de pessoas bem conhecidas dos manairenses. Ambos são descendentes dos primeiros fundadores da Fazenda São José. Ele, descendente de José Bizerra Leite, ela de Ignacio ou de Felix Ferreira da Luz.

Na juventude, Doca teria estudado algumas aulas junto com Virgulino Ferreira, construindo certa amizade, mantendo-a mesmo depois que este enveredou pelas trilhas do cangaço.

Nos anos 20, junto com Marcolino, comunicaram um local, julgado seguro, que permitiu a Lampião apoiar-se por vários anos nas imediações do Pau Ferrado.


Brincos e colar de ouro, para Isabel – Presentes de Lampião

Doca teve um desentendimento com o chefe do povoado onde residia e isso passou a trazer-lhe certos desconfortos. Quando resolveu casar-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, queria que a celebração ocorresse no São José, onde morava. O chefe da localidade mandou um recado a Doca informando que não permitiria que houvesse festa no casamento. Seria muita gente e ia fazer muito barulho. Naquela época, casamento tinha que ter o baile, mas ninguém podia ir contra uma ordem de um mandatário local.



Lampião soube dessa notícia e mandou um recado para Doca: “Amigo, pode contratá o sanfoneiro e organizá o baile que ninguém vai atrapaiá.”

No dia 23 de novembro de 1923, depois do casamento, chegou uma tropa armada. Vieram “passar a guarda” no casamento (garantir a tranquilidade). “Lampião apitou num apito e mandou chamar Pai”. Pai foi e Lampião disse “pode botá o baile que eu quero vê quem num qué escutá”.

A festa aconteceu, o sanfoneiro tocou e nada interrompeu a alegria. Atrás da casa, sob as árvores, ficaram os cabras, aos quais foi servido um farto jantar. Há quem diga que eram 17, outros afirmam que eram 40 cangaceiros. Doca chamou Lampião para jantar dentro da casa e, ali pela madrugada, o convidado disse: “a festa tá boa, Doca, mas eu vou imbora.”

Lampião levou como presente de casamento, para Doca, uma garrafa de fino vinho francês, envasado em garrafa de cristal decorado (foto à esquerda). Para Isabel, levou uma “vorta (colar) de muito bom tamanho, vorta de ouro e mais um pá de dois brinco” (foto à direita). Quitéria conta que, muitos anos depois, Isabel trocou por um cavalo, somente os brincos. “Mas o cavalo morreu. O cavalo era de Filiciano, mas Filiciano morreu. Ele deu osbrinco a Maria de Zé Grande, mas Maria de Zé Grande Morreu. Depois eu não sei mais não, acho que ninguém teve sorte com eles (os brincos)”.

“Na revorta de 30 pai amarrou dois fuzi debaixo da gaveta (no compartimento do fundo falso). Os sordado vieram, quebraram tudo, inxero a casa de buraco de tiro, mas quando a guerra acabou nós chegô do Brejo (Triunfo) e nós chegô e tava lá os dois rife, a Puliça num achô.”Não somente na época do casamento, mas em outros momentos de lazer, na sala da casa de Doca tinha uma mesa onde Lampião fazia suas refeições e se distraía, jogando cartas de baralho. A mesa tinha uma grande gaveta, com fundo falso.

Uma bandeja em grosso alumínio era o prato utilizado pelo cangaceiro para sua alimentação. A casa ainda mantém-se de pé e é cuidada pela filha mais velha do casal que nos reconta essas histórias. (Narrações de Quitéria de Doca).

CONTINUA...


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