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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A MAIS DIFÍCIL IDADE DA VIDA

Por Rangel Alves da Costa

A idade jovem, adolescente ou de mocidade, caracteriza-se como a mais difícil de todo o normal percurso da existência humana. Numa analogia, seria como um tempo oculto, perdido ou de afirmação.

Um tempo oculto porque sempre difícil conhecer e compreender o que se esconde na mente de cada jovem. Um tempo perdido porque, mesmo sendo o mais florescente período de vida, ainda assim é aquele onde todo o futuro poderá ser destruído. E um tempo de afirmação porque o instante ideal para que a mocidade escolha os caminhos que deseja seguir.

Mas também um tempo de dúvidas, indagações, medos, alegrias, esperanças e desilusões. Na juventude está o celeiro de tudo, de tudo de bom e ruim. Os chamados são muitos, as tentações a cada passo, as experiências testando os limites da força de cada jovem. E em tudo as armadilhas perigosas e os labirintos com monstros e fantasias.

É na idade jovem que surgem as guerras, as batalhas vorazes. O adolescente briga consigo mesmo e com o mundo, trava no dia a dia uma contenda sem fim para confirmar sua existência. Incompreendido, querido ou renegado, tanto faz. Ao jovem pouco importa o que pensam de si, vez que o seu mundo é somente seu e nele se reflete no que deseja ser.

Ao sair da idade infantil, logo se diz que o adolescente já começa a compreender o mundo e os seus mistérios. Contudo, ao invés de tudo chegar mais clarificado à sua mente, o que se tem é um emaranhado que mais confunde do que norteia. É que a partir daí a vida lhe abre as portas para realidades outras e muito diferentes daquelas vivenciadas na infância. Eis o perigo maior.

Na verdade, já se aproximando da adolescência, a criança sempre se mostra apta a enfrentar a realidade futura, pois inteligente, tantas vezes amadurecida demais para a idade, de modo que comumente se diz que mais parece um adulto experiente. Mas então, parece haver um bloqueio assim que alcança a juventude. De repente, e o jovem sequer faz lembrar aquela criança esperta que a todos encantava.


Começa assim a mais difícil idade da vida. Tudo parece ser apagado da mente, o conhecimento anterior já não tem mais valia, toda a construção mental vai se diluindo perante os tempos novos. Tendo que novamente nascer e crescer, com o diário da mente apagado, terá que recomeçar sua escrita para, enfim, afirmar-se perante o mundo. O problema maior é que já tem capacidade suficiente para escrever o que bem desejar.

É nesta escrita que se entremeiam o viver e o apenas existir. Ora, ele já sabe o que é bom e o que é ruim, já conhece o bem e o mal, já pode discernir o que deve ou não fazer. Mas fato é que não há certeza de que seu conhecimento tenha alguma utilidade. Ou ainda que escreva sobre o melhor caminho e depois vá seguindo por estradas e curvas totalmente diferentes. E, não raro, acaba permitindo que a própria vida seja sua guia e destino.

Exemplificando melhor tal situação. Durante a infância a criança vai aprendendo os malefícios causados pelos vícios, e de tanto ouvir as lições dos pais, acaba firmando um compromisso de que jamais incorrerá em tais erros. Termina sua primeira idade nesta compreensão, mas a seguir, quando as portas da adolescência se abrem, tudo parece em pleno esquecimento.

Quer dizer, aprendeu sobre os perigosos caminhos das drogas, suas nefastas consequências e outras mazelas, mas desaprende tudo quando mais deveria conhecer, vez que os chamados aos perigos agora são reais e estarão por todo lugar. Aprendeu, prometeu que jamais incorreria no erro do uso, mas começa a experimentar, a ser usuário, a se viciar, a se destruir. Quer dizer, vai cometendo erros após erros e perante situações que já tinha conhecimento de suas nefastas consequências.

Assim também em muitas situações de vida que chegam mais vivamente após a adolescência. Como já referido, assim com as drogas, mas também com a prostituição, as permissividades, os modismos calamitosos, os vícios pecaminosos da vida moderna, as invirtudes que permeiam a sociedade. Tudo isso sempre se inicia e se alastra na idade adolescente, precisamente aquela onde se afirma o destino.

Não há que se imaginar outra coisa senão um bloqueio na mente jovem para que transforme uma das mais belas fases da existência num labirinto estarrecedor. Impossível que o adolescente não compreenda os perigos que o ronda, os caminhos ruins que o chamam, os chamados ao mal que chegam a todo instante. Bloqueio ou cegueira total, a verdade é que acaba reincidindo precisamente naquilo que está lhe tirando sua essência de vida.

Infelizmente, há também na vida essa idade das trevas, remetendo àquele período medieval onde imperou o obscurantismo, o conflito, a guerra e o abandono da razão. E quanto mais os tempos são modernos e avançados mais a adolescência procura esse medievalismo destrutivo. Continua esquecendo as lições passadas e negligenciando os exemplos tantos de agora. Daí tantos jovens se contentando apenas com a sorte de ter um amanhã.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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