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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

PADRE MÁRIO E O SERMÃO NA BARCA (OU A MISSA DE NATAL NA IGREJA SEM TELHADO)

*Rangel Alves da Costa

A mais maravilhosa e a mais inusitada das missas. O mais intenso, comovente e profundo dos sermões: O Sermão na Barca. E o pregador, como se pairasse sobre as águas em asas de anjo, o Padre Mário.

Mas por que o Sermão da Barca quando o Padre Mário pregou sobre um menino humilde nascido em manjedoura e que veio ao mundo e, persistente e esperançosamente, se lançou no esforço contínuo da salvação humana?

Nas palavras do Padre Mário a explicação: Aqui nesta igreja aberta, sem teto, sob o luar sertanejo, igual barca acolhendo os seus em travessia, a missa para celebrar o nascimento daquele que não desistiu do homem!

Sim, Ele não desistiu do homem! Quase bradou o Padre Mário na sua palavra inicial. E daí em diante mostrou a esperança como a força maior da vida humana, pois somente através dela o homem segue, sonha, persiste, luta, encontra valia e valor na vida.

Sentado na sua cadeira de rodas ao lado do singelo presépio, Padre Mário apontava a humilde e rústica manjedoura para dizer que aquele que veio assim ao mundo, enfaixado em capim e pobreza, venceu todas as dificuldades impostas em nome daquele que veio para salvar: o homem.

“Um menino que nasceu de braços abertos na sua rústica manjedoura. Aquele que pregou de braços abertos por onde andou, nos montes e nos templos. Aquele que morreu de braços abertos numa cruz. E também aquele que ressuscitou de braços abertos!”. Eis a força expressiva nas palavras do Padre Mário.

“Vejam. Sintam que coisa maravilhosa. Aquele que de braços abertos persistiu em nome do homem. E o fez pela esperança de que seu exemplo de luta, persistência e destemor, jamais fosse esquecido pelo homem”. Assim, este homem acreditado, amado, confiado, deve buscar no seu exemplo a mesma esperança que lhe foi creditada.


“Deus que é o Deus do improvável para se fazer presença. Assustou Herodes, assustou Maria, assustou os pastores, assustou a todos por ser tão forte e tão humilde. Nascido envolto em faixas, pobre e como os pobres depositado na palha de feno, certamente ainda assusta a todos. E assim por que ainda somos arrogantes, orgulhosos, vaidosos, e Ele com sua humildade assustadora”.

“Esse Deus improvável que agora surge nesta barca, nesta igreja aberta, ali na sua manjedoura, na sua simplicidade”. Deveras, uma presença numa situação jamais imaginada pelos fiéis de poço Redondo. Uma missa natalina numa igreja sem telhado, aberta, escancarada, fato que a muitos também assusta.

Mas assim a ação divina, eis que no templo desnudo de telhado também a visão do menino pobre nascido em meio a barca do tempo, entre palhas e capins, ao redor de animais, na proximidade de pastores e de gente humilde. O mesmo menino nascido assim, de modo tão improvável, e que reinou sobre a terra.

Logicamente que não foram exatamente essas as palavras utilizadas pelo Padre Mário, pois apenas sintetizadas. Logicamente que barca, significando um templo aberto, foi no sentido de expressar a Igreja Matriz sem telhado como está agora, nua das paredes acima, mostrando no teto o clarão do dia e o negrume enluarado da noite.

Não imaginei que Padre Mário fosse celebrar missa natalina na situação e na feição que a igreja se encontra agora. Contudo, não havia pensado que o nosso pastor também gosta de agir perante o improvável, o inusitado, o inimaginável. E tenho certeza que sua satisfação foi maior que se estivesse entre luzes e castiçais da mais suntuosa catedral.

Padre Mário é também do mesmo capim da manjedoura. É do mesmo feno que enfaixou o menino. É da mesma pobreza e humildade ali presentes quando daquele nascimento. Mas é principalmente a esperança. A grande esperança que hoje prega aos sertanejos.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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