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sexta-feira, 23 de junho de 2017

FRIO DE MATAR SAPO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de junho de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.687

Quando as três forças volantes alagoanas, unidas, foram ao último reduto de Lampião, era a noite do dia 27 de julho de 1938. Chovia muito quando os soldados desceram o rio em três canoas improvisadas em ajoujo. Sobre o tempo da madrugada do dia seguinte, os soldados contaram depois: “frio de matar sapo”.


Essa era a nossa típica fase chuvosa outono/inverno a quem o sertanejo sempre denominou de inverno. Estamos falando naturalmente do estado de Alagoas, cujos meses da fase apresentavam-se assim: maio com pouca chuva, quase nada; junho, com pouca chuva em cujos dias das fogueiras costumava cair uma garoa sobre elas; julho, toda a carga de chuva do período, inclusive com o frio de matar sapo ─ Lembra-nos até à moda do casaco “japona” para aguentar o frio das festas de Senhora Santana ─ agosto, mês que chovia até o dia quinze e com tanto frio que matava até os feijoeiros e produzia lagartas. A frieza era, portanto, maior do que a de julho.
Do final do século passado para cá, muita coisa mudou no clima alagoano. As regras foram quebradas não permitindo mais a rotina invernosa, talvez, multicentenária.
Estamos ainda no mês de junho. Você viu acima, caro leitor, que era apenas chuva pouca, acompanhada das garoas sobre as fogueiras dos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro. Agora não. Já choveu tanto neste mês aqui pelo sertão que equivale ao antigo mês de julho completo. A água chega dos céus dias e noites seguidas permitindo à frase das volantes de 1938: “frio de matar sapo”.
Os homens da Meteorologia local continuam errando e acertando; certeza mesmo que é bom, através das avançadas tecnologias, ainda não garante totalmente as informações. Assim vamos dando crédito ao passado na floração do mandacaru, na movimentação das formigas, na construção da casa do joão-de-barro e mesmo nas águas que chegam pelo rio Ipanema.
E se é que endoidemos nós, já endoidaram o tempo.
Como será a noite de São João, não sabemos ainda, mas que importância isso tem mais do que um delicioso pratarraz de canjica!.


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