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quinta-feira, 22 de junho de 2017

UM ANDARILHO LUTA POR MOSSORÓ

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 11 de março de 1927 chega a Mossoró o andarilho gaúcho Álvaro da Costa Lopes, procedendo da Bahia, num 'raid' pedestre com destino a América do Norte. Encontra, porém, a cidade agitada. Boatos davam conta de que a cidade seria atacada por um bando de cangaceiros, liderados pelo famigerado Virgolino Ferreira da Silva - o Lampião, - e a população preparava a sua defesa. 


No dia posterior a sua chegada compareceu a redação do jornal ”O Nordeste”, que era publicado pelo jornalista J. Martins de Vasconcelos, a quem se apresentou, mostrando a documentação dos lugares percorridos. Definia o 'raid' como “uma excursão a pé, ao longo de muitos caminhos e muitas surpresas, do Brasil aos Estados Unidos”.

O jornalista José Martins de Vasconcelos era da cidade de Apodi-RN

O percurso, por ele calculado em 14.250 quilômetros, estava programado para ser coberto em 475 dias, acrescido de mais 125 dias para descanso, o que totalizava 600 dias de viagem a pé, ou seja, um ano e oito meses.  Pela iminência do ataque, resolveu permanecer na cidade, juntando-se aos voluntários que organizavam a defesa, capitaneados pelo Prefeito Rodolfo Fernandes.  

Era prefeito de Mossoró quando da tentativa de assalto pelo capitão Lampião

Apresentou-se às autoridades e depois de devidamente identificado e comprovado a confiança que passou a merecer, foi imediatamente incorporado ao exército de defensores. Tomou parte em todos os preparativos de defesa, e ocupou lugar na trincheira do Telégrafo, de arma na mão. O gesto de Álvaro não passou despercebido. Foi recompensado pelo Prefeito do Município, que reconheceu nele a espontaneidade e o espírito cooperativo. O Sr. Mirabeau Mello, que chefiava a defesa do Telégrafo Nacional, ofereceu ao jovem andarilho uma comenda com dizeres: “Ao raidman Álvaro da Costa Lopes, o Telégrapho Nacional – Mossoró, 13-6-1927 – Homenagem”. Embriagado pela emoção dos momentos vividos em Mossoró, Álvaro deixa fluir a veia poética de que é dotado. E recolhendo-se ao quarto de hotel onde estava hospedado, passou a descrever em versos a epopeia de que fora testemunha. Foi a sua homenagem a Mossoró pela vitória alcançada sobre o bando de Lampião no ataque de 13 de junho de 1927. “Amor Omnia Vincit” é o nome do poema por ele composto. Esse poema passou a ser cantado em todo o Nordeste, como uma paródia da “Ave Maria”, a imortal canção de Erothides de Campos. Eis os versos: Mossoró era um ninho florido -Paraíso num festim de amores Onde tudo era sonho e candura Trescalando o aroma das flores. Veio um dia o terrível bandido, O assombro de todo o Nordeste, Esmagar a calma santa e pura Deste Éden grácil e celeste.   Jesus, lá do céu, ouvindo os clamores, Quais hinos febris e cheios de dores, Enviou a sua bênção piedosa A esta terra fértil e formosa. E o bando sinistro, furioso a correr, Fugiu disperso, covarde e a tremer, Com medo das balas certeiras Saídas das nossas trincheiras.   Mossoró, varonil, denodado. Ó Titã dos combates renhidos! Celebraste pelo mundo inteiro O valor dos teus filhos queridos. E assim venceste o celerado, Dando exemplo de grande civismo, Rechaçando o vil bandoleiro, No mais alto grau de heroísmo.   Acalmados os ânimos e depois de uma temporada de descanso na cidade, Álvaro da Costa resolve retomar a viagem, seguindo o rumo traçado em seus planos. E assim, na manhã de 06 de julho de 1927, parte de Mossoró a caminho do seu sonho, levando lembranças de umas gentes destemidas, deixando saudades na terra que ajudou a defender, e que ainda hoje canta os seus feitos.   

Geraldo maia do Nascimento

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