Material do acervo do pesquisador Volta Seca
O cangaceiro Vinte e Cinco não se encontrava no coito em Angico, no dia
28/7/1938, pois, estando fora, tinha acertado com Lampião para ali se
encontrarem após o cumprimento de uma diligência. Sua missão consistia em ir a
Lagoa do Bezerro, em Pernambuco, a fim de apanhar dois fuzis, em companhia dos
irmãos Velocidade e Atividade, sob o seu comando. Ao retornarem, saíram de Pão
de Açúcar e, na Fazenda Beleza, souberam do acontecimento macabro, em Angico,
pelo que guardaram as armas em ocos de paus e, a partir de então, ficaram meio
desnorteados.
A lógica – diz
ele – era procurar alguém que tivesse condições de formar um grupo, e chegaram
a pensar em Corisco. Entretanto – acrescenta – apesar de ele ser muito valente,
bom e sagaz, a mulher dele, Dadá, era conhecida como arengueira e mandona, o
que os impedia de formar um grupo coeso.
Sentindo-se
sem rumo, os cangaceiros resolveram entregar-se às autoridades, uns tendo ido
para a Bahia, outros para Sergipe e Alagoas. Vinte e Cinco entregou-se ao
sargento Juvêncio, em Poço Redondo, no dia 13/10/1938, de onde saiu para
Piranhas, depois Santana do Ipanema, sede do 2º Batalhão da Polícia Militar,
terminando na Penitenciária de Maceió, em companhia de Pancada, Cobra Verde,
Peitica, Vila Nova, Maria Jovina, Barreira e Santa Cruz, que era seu sobrinho.
AS
Na Penitenciária,
passou quatro anos, onde aprendeu a ler e escrever com o professor Manoel de
Almeida Leite, tendo deixado a prisão com o curso primário completo. Ali gozava
de um certo privilégio, pois adquiriu a confiança suficiente para tornar-se o
“chaveiro” da prisão.
Certa vez
recebeu a visita do Promotor Público Rodriguez de Melo, o qual ao se inteirar
da situação dos ex-cangaceiros afirmou que nada poderia fazer em favor deles, a
não ser que surgisse um milagre e o fato chegasse ao conhecimento do presidente
da República, Getúlio Vargas, haja vista que todos estavam presos sem nenhum
processo formalizado, à disposição do governo do Estado.
Utilizando-se
da confiança de que desfrutava Vinte e Cinco recorreu ao engenheiro Ernesto
Bueno, que estava preso por crime de homicídio contra um cidadão de Coruripe,
pedindo-lhe que, em seu nome, escrevesse uma carta a Getúlio Vargas expondo a
situação vexatória em que se encontravam. Seu pedido foi atendido e, usando de
uma manobra habilidosa, apelou para uma mulher de nome Maria Madalena, que era
encarregada de vender os produtos de artesanatos que os presos fabricavam na
Penitenciária, a qual escondeu a carta no seio e a postou nos correios.
Segundo relata
Vinte e Cinco, Getúlio Vargas, depois de manter contato com o interventor Ismar
de Góes Monteiro e com o Dr. José Romão de Castro, diretor da Penitenciária,
baixou um ato e pediu-lhes que os colocassem em liberdade, conseguissem
empregos para todos, objetivando evitar o retorno deles à vida nômade do
Sertão.
A saída dos
ex-cangaceiros da prisão passou pelo crivo do Dr. Osório Gatto, que era Juiz da
1ª Vara da Capital, do Dr. José Romão de Castro, diretor da Penitenciária, e do
Dr. José Lages Filho. Emitiram pareceres favoráveis à soltura, considerando,
inclusive, a personalidade de cada um, pois todos se revelaram disciplinados,
obedientes e não ofereciam nenhum perigo à sociedade, fazendo-se impositiva a
liberdade vigiada de todos e que não voltassem a residir no Sertão.
Conclusão:
Vinte e Cinco iria para a Faculdade de Direito, onde trabalharia como
atendente, o que terminou não acontecendo, por razões circunstanciais, mas foi
trabalhar no Orfanato São Domingos, depois na Granja da Conceição, em
Bebedouro, e parou na Guarda Civil, durante 18 anos.
Certo dia,
Vinte e Cinco estava prestando serviço como guarda-civil, em Jaraguá, ocasião
em que o Dr. Osório Gatto, que o conhecia, parou o automóvel e, após breve
conversa, perguntou-lhe se gostaria de ir trabalhar com ele no Tribunal
Regional Eleitoral. Após a resposta afirmativa, disse-lhe que procurasse ler o
Diário Oficial do dia seguinte. Dois dias depois estava trabalhando como
segurança no TRE, tendo trabalhado ali durante nove anos, onde fez concurso
interno para o cargo de escrevente e, daí, passou para Auxiliar Judiciário, que
é hoje o cargo de Técnico Judiciário.
Diz não ter
arrependimento da vida de cangaceiro, da qual só sente saudades, e agradece a
Deus ter chegado aos 95 anos de idade gozando de boa saúde e crendo na previsão
do Dr. Pedro Carnaúba, que acredita que ele chegará aos 100 anos, pelo que
alimenta, agora, o sonho de publicar um livro sobre a sua vida.
AS ‡ ( Antônio Sapucaia)
Fonte: GazetaWeb.com
Foto: Aderbal Nogueira e Dr. Frederico Pernambucano/Google
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