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segunda-feira, 4 de junho de 2018

DE VOLTA A RUA DO COMERCIO DE UMA POMBAL DA DÉCADA DE 1960


Texto de Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck Abrantes de Sousa*

Quero de volta a Rua do Comércio: lugar de muitas histórias, acontecimentos diários e de saudade que veem e vão em nossas memórias...

Nos finais de tarde as pessoas debulhavam feijão nas calçadas. A bodega de Maria Noca, Severino Pedro, Josafá e de Toinho de Alice. Rua que lembra os pastéis da velha Petronila, os sequilhos e cavalinhos de goma de Ana Benigno, Nanzinha e dona Lourdes. A calçada de tio Cândido e dona Chiquinha, onde à noite o velho Manssonilo vinha se juntar ás demais pessoas para contar histórias antigas e fantasiosas da sua vida.

Os frondosos pés de fícus-benjamim, onde sob suas sombras os meninos jogavam peão e futebol com bola de meia, ao som gostoso dos cantos dos canários amarelos que procuravam migalhas nas soleiras das janelas entre abertas.

No meio da rua, sob à luz vigilante do luar, as vozes das meninas suavizavam a penumbra. De mãos dadas elas cantavam cantigas de rodas enquanto que os meninos, brincavam de “Pega Ladrão” a vista dos mais velhos, que em suas cadeiras preguiçosas trocavam ideias e cumprimentavam os que passavam, vindo da lida para o repouso do lar.

E quanta gente boa para cumprimentar: – Boa noite, dona Ana! – Boa noite, Seu João Lindolfo!

Seu Mizim a se balançar em sua cadeira de ferro, mestre Álvaro ouvindo rádio, Ciço de Nini, Pindó Gouveia, Joana Teresa na lorota e o Cego Rosendo que passa vendendo pão de ló, alfenim e broa preta. Otarcilio de dona Guiomar, Deoclécio Maniçoba, Dr. Lourival, Zulima, Pirrita, Licô, Jovem Formiga, Bernadino Bandeira, Odílio, Tambaqui e Cora de Onofre, dona Benigna na risada gostosa e Maria Antonieta vigiando suas filhas.
Era Adamastor ensaiando seu trombone para a apresentação da Banda Municipal, Maria de Deca sempre com uma história nova pra contar e Leó Formiga entregando uma chapa fotográfica que fizera na tarde anterior.

– Quantos ainda circulam pelas ruas de Pombal, quanto já se foram?

Nas chuvas de inverno, as águas rolam formando riacho no meio da rua descalçada e vão desembocar na enlameada Rua de Baixo, para finalmente desaguar no Rio Piancó.

Alí os moleques espertos, viviam cada momento das suas vidas, gritando em meio aos clarões de relâmpagos e o som estridente dos trovões, procurando uma e outra biqueira para tomar banho na chuva. As meninas adolescentes com seus vestidos colados ao corpo: quantas fantasias a despertar em nossas mentes inocentes.

Rua do Comércio! Das casas antigas e de muitas botijas de ouro enterrada e desenterradas por Cicero de Bembem e Filemon, dois bons contadores de lorotas e por onde as mulheres passavam com sua “reca” de filhos para receber o leite redentor no Posto de Puericultura.

O passado sendo desmemoriado pelo tempo. As imagens que distanciam e se apagam no tempo, mudando o antigo e dando lugar ao novo. Resta-nos recompor estas lembranças, trazer à luz o nome de saudosas pessoas à quem muito devemos as lições de vidas do que hoje somos.

A modernidade é cruel e não respeita as mais elementares lembranças e segue fazendo o seu papel. São as transformações que vão demolindo o nosso passado, transformando-o num imenso quebra-cabeça, o qual nos cabe remontá-lo, nem que seja faltando partes, pois há estilhaços que se negam a se juntar: são os remendos irremediáveis: o nome das ruas, por exemplo, que era dado pelo povo e não por leis como hoje acontece.
Quem há de saber quem primeiro denominou aquela artéria, uma das mais antigas da cidade de Pombal, de Rua dos Prazeres depois Rua do Comércio e hoje João Leite?

Mas, se essa rua centenária é, por força de lei municipal, denominada de Cel João Leite, por força da memória indemolivel do povo de Pombal é a eterna Rua do Comércio; do feijão debulhado as calçadas; das lorotas e vantagens contadas pelos nossos avós, onde seus fantasmas ainda hão de circular por muitas gerações.

E quanta gente boa para cumprimentar: – Boa noite,  Seu Lelé! – Boa noite, seu Onofre! Eu ainda escuto o eco da Rua do Comércio!

*Jerdivan Nobrega de Araújo e Verneck Abrantes


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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